quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Tempo escorrendo pelas mãos

Último dia do ano...


Tempo de sobra...


Depois do ritual de passagem ao longo da estrada, viajando rumo ao local escolhido para o momento esperado, a chegada inicia outra série de relações com o tempo e o espaço modificando a contemplação do que se apresenta diante dos olhos.


Escolher onde passar o fim de ano pode custar caro demais.


Amigos com os quais se passa o ano muitas vezes não funcionam muito bem no final do ano e amizades creditadas como duradouras podem não sobreviver... Essa eu já esperimentei algumas vezes.


O lugar pode aparentar uma boa escolha, mas as armadilhas também costumam ser eficientes nesse item. Se for um lugar muito procurado o excesso de gente na fila para pegar a fila, somada à ansiedade pode ser uma combinação fatal. Isso sem falar no excesso de contingente e na oferta insuficiene que as cidades (turísticas ou não) oferecem. Um pós-reveillon sem poder escovar os dentes ou simplesmente tomar banho é pavoroso! Também já passei por essa! Mas só uma vez ok? E foi suficiente.


Já lugares vazios também tem suas agrouras... Não tem ninguém mesmo! Se for preciso alguma compra de última hora ou algum serviço urgente esqueça! Tá todo mundo no mesmo lugar (aquele que está explodindo de gente)! Portanto pra ficar sem perespectiva alguma em um lugar cheio de gente ou vazio implica fazer uma bela lista de provisões e escolher qual o sufoco desejado.


Planejar é extremamente importante! Antecedência é tudo de bom! Mas não se iluda! Alguém vai esquecer alguma coisa e o preço será pago por isso! Parece até ameaça não? E é mesmo!


Eu escolhi o seguro desta vez: família no interior! Nada de loucuras coletivas, brigas ou passar necessidades, muito menos os três juntos e em diferentes ordens todos os dias ao ponto de rezar "pra esse ano acabar logo!".


Ah que delícia! Chegar na casa das tias vecchias mais louras e loucas do que nunca! Minhas amadas e adoradas! A emoção da chegada, o cheiro da casa, que preserva muito das coisas da vovó misturadas com algumas modernidades como os eletrodomésticos tão depreciados nas conversas tecnofóbicas que ainda me lembro ter ouvido nas mesmas ocasiões de fim de ano quando vir era obrigação e não escolha.


Mas é bom ver o antigo e imutável! O tictac do relógio na sala, os frascos dos perfumes clássicos na penteadeira! Os babados de crochet na toalha do banheiro, combinando com as cores das estampas... A música caipira ecoando no rádio logo cedo, acordar de manhãzinha pra tomar café em família naquela mesa comprida que fica no barracão, perto do pomar e da horta! As louças do café da manhã, o bolo de fubá na velha assadeira com tampa... O chá a noite antes de dormir! O cheiro dos vegetais colhidos à tardezinha pelas velhas mãos habilidosas! O cuidado com a velha cadela, dócil e de olhar meigo: presente de um dos sobrinhos-netos: Keiko!


Claro que tem o preço certo? Dormir cedo todo o dia! Acordar cedo todo o dia! Não é uma obrigação é apenas necessário, pra não perder o pique da casa o que é de alto valor quando se está no estado espiritual compatível! Afinal logo após os fogos da passagem de ano (uns 12 minutos pra ser exata), cama! No começo é difícil... Mas até que pega-se o hábito fácil principalmente nesses tempos de contemplação. Para mim foi exatamente esse o facilitador! O prazer da contemplação!


Quando adolescente e até um bom tempo depois, a frustração era grande por não poder sair após os fogos, nem ter festa em casa até alta madrugada. No máximo um filminho com o volume bem baixinho pra não acordar as tias. Mas agora na maturidade (ou não? kkkkkk!), a percepção do que é preciso para ser feliz é outra.


Não acredito que seja a idade chegando ou saindo. Claro que tive vontade de ir pra rua! Mas a sensação de ir pra cama cedo, ouvir o tictac do relógio da sala e o cheiro do café da manhã fresquinho junto à três gerações de louras e loucas pela manhã é espetacular! É felicidade!


Louras e loucas porque é evidente que sofremos dos mesmos males em todas as gerações que ali estavam havia uma dose farta de beleza e loucura. Ser mulher no século 21 é coisa pra profissional! Imagine só para as minhas amadas que estão na estrada desde antes da metade do século passado? Sempre há o que aprender com essas verdadeiras mestras do poder feminino! Velhas lições que não foram assimiladas e que precisam ser repetidas! Afinal somos todas loucas, orgulhosas e satisfeitas por assim ser! Tradição de família!


É possível reencontrar tradição sempre quando convivemos todas nas temporadas de verão e feriados. Neste episódio de final de ano os flashbacks foram muito frequentes!


Nada se compara a ver a mesma cena vivenciada por você mesma a anos, décadas atrás, se repetindo com as mais novas da linhagem, quando diante dos seus olhos, o mesmo costume que era classificado como ridículo pela rebeldia dos tenros anos agora se apresenta como poesia! Por que? Porque o tempo relevou, porque a observadora mudou, porque a agente da ação também mudou... Mas nem tanto... Só o suficiente. E o mais importante... Porque é preciso! O entendimento cai como um véu que cobre tudo e dá a cena outra coloração, como um layer, uma nova cor que torna tudo tão harmônico, que as lágrimas afloram no olhos junto com o sorriso que explode na boca tentando abafar o riso pra não estragar a importância do momento.

Os antigos costumes devem ser preservados. É uma espécie de memória da família. Uma homenagem, uma verdadeira ode! Vi livros inteiros na forma de pessoas e momentos vivenciados nestes dias que chegaram a me inspirar bastante, inclusive para este post.


As velhas brigas de sempre, pelas velhas manias de sempre! O bom e velho temor explodindo na voz de gralha aos berros quando alguém fala ou faz algo inesperado ou que contrarie saberes ou a pequena ordem instituída.

Meu riso abafado e os olhos ardendo ao ver os olhos perdidos da minha sobrinha de 6 anos ouvindo sermão com a boquinha aberta iniciando seus passos em um mundo de uma ordem sutil e imperceptível que ainda levará provavelmente muitas broncas para se adaptar.

Os elogios que não devem ser aceitos nunca em nome de uma humildade absolutamente vaidosa típica, a hipersensibilidade que se transforma na vitória imbatível em qualquer discussão: o papel da coitadinha! Um verdadeiro ranking de coitadinhas que rugem como leoas assim que se cansam da personagem! Apelativas, pedantes, inteligentes, rápidas e muito hábeis em incendiar a reputação da outra em segundos com poucas palavras num cochicho entre um prato e outro a ser enxugado da louça do almoço.

Mas assim como o que é aparentemente perverso, o que é bondoso equilibra a balança em perfeita harmonia, o olhar fraterno quando falamos de nossas tristezas, o carinho no perfume e na cor dos lençóis postos na cama e no quarto especialmente preparado para nos acomodar, o cuidado em preparar o que comentamos no dia anterior como nosso prato favorito quando eramos crianças, cozer a roupa descosturada que comentamos descuidadamente ao tirar da mala, as palavras fortes nas horas difíceis, os elogios a tudo o que fazemos, a delicadeza de nos dar uma cópia da chave quando saímos para retornarmos tranquilas, a presteza ao nos explicar o caminho para os lugares que queremos visitar, o abraço forte e as lágrimas na chegada e o mesmo na saída. O prazer de nos mostrar as mudanças da casa e o gosto no uso dos presentes que demos. A voz tranquila nos dando idéias de como sairmos dos nossos problemas. O eterno amor e confiança a cada bom dia quando acordamos.

Eu atraquei em um mundo de doçura que me custou décadas da minha vida para perceber e muito provavelmente ainda não por completo. Foi uma passagem de ano muito emocionante que me comoveu como nenhuma outra, pois eu estava em casa, no seio de minha família, no berço de nossas tradições e loucuras e nunca, nunca fui tão sã! Nunca estive tão salva!

Foi uma excelente escolha!
E por ser mais uma loura e louca, sou mui grata!

Beijos louros e loucos a todos!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

... On the road again ...

E lá vem mais um verão!
E lá vem mais um mes de férias!
Mais uma viagem pra fazer!
Mais uma mala inteligente para montar, pra pagar de "garota-carona legal"!
Os guias de viagem falam pra ter sempre o dinheiro trocado e a mão para o pedágio!

Quem escreveu isso não mora no estado mais reacionário do Brasil!!!!!!!!!!!!!!

Só a grana que vai morrer em duas horas de viagem vai matar 40% das minhas férias! Sério mesmo! Daria uns 3 jantares super legais! Umas 4 peças de roupas transadas! Dois pares de calçados super legais! Sem falar naquele perfume importando que eu estou louca pra comprar!

Penso nisso toda a vez que vejo aquela maldita proganda governamental na TV! As frases são tão lugar comum que enfurecem na primeira sílaba: "As melhores estradas do país..." ou aquela outra ainda mais pavorosa: "Estradas de primeiro mundo!". O preço que o diga! É Euro pra dinheiro de peão! Coisa de matar o bolso de todo mundo!

Só podia ser coisa daquela careca penugenta nauseante do Serra! Dá vontade de depilar com cera quente aquela aberração humana! Que nojo! Parece o Smithers! Isso mesmo! Se o Alckmin é o Senhor Burns dos Simpsons, o Serra é o Smithers! Ridículo! Escravos do sistema! Executores meros da grande máquina demolidora! Dá vontade de atirar a grana do pedágio na cara deles! Vai lá Smithers! Enche o bolso do Aécio com a nossa grana e seja candidato a presidente! Dá vontade de vomitar na estrada inteira!

(...) pausa para mais fúria e praguejamentos sórdidos

Bem o fato é que em algumas horas estarei na estrada e isso já é um ritual de passagem para as férias. Tão esperadas e tão fugazes... O que são 30 dias perto de um ano inteiro de agrouras?

2009! O ano que nunca existiu!

Isso não é novo não! Já dividi essa máxima com algumas pessoas por aí...

Por que 2009 foi o ano que nunca existiu? Que tal uma pequena lista para começar? Novo Enem, gripe suína, roubo do Enem, Copenhague, aumento do pedágio, retirada da candidatura do Aécio Neves, novo cebolão da via oeste, ... Que lista infindável de fracassos!

E se a lista correr para o lado pessoal então... Neste ano a morte e a loucura visitaram a minha família, perdi amigos para a vaidade pessoal minha e deles, mais um cafajeste destruiu o templo do meu corpo e coração, perdi meu amor próprio, perdi meu cargo, perdi minha compostura, perdi minha silhueta, perdi a sanidade, perdi o respeito que tinha pelo meu trabalho, perdi a graça de viver...

Realmente uma lista infindável de fracassos!

Por isso quero cair na estrada agora! Quero chorar até a ventania da estrada secar as minhas lágrimas pela janela do carro escancarada sob uma trilha sonora dramática e hipnótica!

Quero rir até a insanidade vendo os canaviais correrem até o horizonte de mãos dadas com os eucaliptais devorando a mata nativa do meu estado e suas estradas de primeiro mundo, num apocalipse vociferado por mim mesma em tantas aulas e por tantos anos e que de nada adiantou! Nada! Foi tudo em vão! Meus ouvintes me enganaram! Agora os canaviais e eucaliptais são o tapete onde Smithers brinca enquanto colhe o nosso dinheiro para encher os bolsos do Aécio Neves e tirá-lo do caminho para finalmente concorrer a presidência do Brasil!

Vou chorar e rir loucamente até o meu destino me certificando de como tudo foi inútil! Desde o janeiro deste ano, quando trabalhei até a morte para hoje estar sem rumo! Vou rir das lágrimas que chorei em janeiro por mais um amor cafajeste que deixou o meu caminho, arruinando com meus sonhos românticos e rir das duas semanas seguintes, quando encontrei um novo cafajeste que me faria seguir sem perceber a mesma sequência! Vou chorar ao me lembrar da minha querida tia que se foi após tantos anos de vida, luta, vitórias e sofrimento e rir das pancadas que levei da minha irmã enlouquecida me atirando nas costas curvadas o que via pela frente! Vou chorar pelos poucos que ficaram comigo em nossa luta pela causa até o final e morrer de rir do quanto nosso esforço de um ano virou piada de corredor de colégio!

Vai ser uma viagem de arrasar! Como todas as viagens que já fiz! Fugas completamente insanas e alucinadas para outras terras e outros céus, ouvir outras histórias tristes e viver outras alegrias passageiras.

Quem sabe um novo sonho vão? Quem sabe um novo cafajeste?

Talvez esse novo algarismo mude alguma coisa! É necessário dar uma chance ao inesperado não é mesmo?

Mesmo que esse inesperado seja apenas um breve bálsamo até a nova avalanche arrasar com tudo novamente.

Quero uma estrada longa, sobre o sol ardido do verão pela manhã e sob um céu de estrelas à noite. Quero me lembrar de todas as viajens que já fiz: aquelas encontrei o amor, aquelas onde fugi dele. Aquelas onde fui a trabalho honrado e as outras em que fui ridicularizada por apenas trabalhar.

Quero ver os olhos do meu algoz destino oscilando no horizonte negro da estrada noturna, quero sentir o cheiro do asfalto queimando minha consciência ao meio dia! Quero o açoite do tempo passando e do ácido do fracasso percorrendo minhas veias e estilhaçando os meus músculos numa dor de orgulho ferido sem fim que estripará corpo astral e mente em pedaços a rolar pela estrada. Quero sentir a dor da fúria inútil e olhar para as pupilas vermelhas do dele com o sorriso do condenado fulminando os olhos do executor!

Ande logo!
Aperte o gatilho!
Vamos acabar logo com isso!
2009 tem que acabar!
Não porque eu tenho a ilusão de que 2010 será melhor... Não porque eu tenho a esperança de dias melhores... Não porque eu acredito que haja alguma chance de bonança após tão louca e longa tempestade... Mas porque eu preciso sentir que algo diferente virá.

Mesmo que seja só um algarismo diferente, uma dor diferente talvez, uma nova decepção... Quem sabe... Mas porque algo tem que se mover nessa estrada de quase duzentos reais de pédágio...

Só para eu ter uma ilusão de primeiro mundo...
Só uma...

Feliz 2010 para todos! Mesmo que essa felicidade sejam apenas fogos de artifício... luzes e barulhos que enchem os olhos de mais uma alegria meramente passageira...

Até a volta!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O dia seguinte ao dia seguinte...

A tristeza ainda está aqui.

Como um fantasma pálido, sentado à beira da minha cama.

Vigiando o meu sono.

A cada pesadêlo que me faz saltar da cama de madrugada, lá está ela a me contemplar, me dizendo com os olhos cristalizados que ainda vai continuar.



Gostaria que passasse logo, que toda esta vivência será "Um mal que virá para um bem!" como dizem todos. Tem também os que dizem "Você ainda vai rir disso!". Ah e não faltam os que dizem "Isso passa! Vem coisa melhor ainda por aí você vai ver!"


As pessoas deviam ficar caladas quando não tem nada a dizer. Aprendi isso com o Cazuza!


Foi uma matéria chocante, capa da revista Veja de 1986! Foi quando ele assumiu para o país que definhava nos braços da Aids. Eu tinha 15 anos e quase morri do coração ao ler cada parágrafo. A carga emocional era tão forte que ainda hoje me lembro de trechos inteiros da matéria.


Um deles foi da entrevista onde o próprio Cazuza contava que havia pessoas que ficavam na baia do palco onde ele fazia os shows já bastante consumido pela doença e que quando ele passava diziam: "Força Cazuza! Você vencerá!", e coisas do tipo e que ele mandava a todos tomar naquele lugar (fico meio sem graça de repetir onde). Foi tão chocante para mim naquela época. Eu seria uma dessas pessoas que diria essas malditas frases feitas típicas de quem não sabe o que fazer mas precisa dizer alguma coisa apenas por si mesmas para aplacar a própria impotência.

Lembro-me também que conforme fui lendo a entrevista e o Cazuza descrevia a sensação de quem estava naquela fase do caminho usando toda a precisão do poeta conteporâneo que ele era, algo foi tocado profundamente dentro do meu eu... Jurei para mim mesma nunca mais falar essas malditas frases feitas! Eu tinha 15 anos e já entendia que o silêncio muitas vezes é uma arte e uma ciência ao mesmo tempo.

O próprio Cazuza fala isso em suas músicas. E é verdade! O efeito é pior! A frase feita tem o poder de distruir tudo o que é belo e misterioso com duas palavras e meia. O encanto se quebra. Dá pra sentir um muco se formando no estômago. O ciclo energético se rompe. Tudo fica tão insípido que de fato dá vontade de reagir como o Cazuza falou. Mandar tomar naquele lugar!

Nas voltas da vida, quando é a minha vez de contemplar o sofrimento ou o fracasso de alguém, o que procuro fazer é simplesmente me calar, tento de verdade apenas ter percepção entre o que eu gostaria de fazer e o que aquele que está prostrado a minha frente precisa que eu faça. Há um diferença tão grande entre esses dois mundos!

Gostaria de poder olhar profundamente nos olhos desse alguém, se possível tocar sua mão, talvez tocar seu rosto e praticar um silêncio fraternal. Gostaria de mentalmente mandar toda a energia harmoniosa que pudesse. Abraçar forte talves e quem sabe até derramar mais um pouquinho do meu amor. Sei que nenhuma palavra é boa o suficiente. Apenas acalentar com expressões de concordância, de amenização seria um bom começo, além de, o mais importante: ouvir!

Nada de frases feitas! Nada de saídas instantâneas! Nada de indelicadezas ditas ou feitas sem pensar! Nada de querer fechar a questão ou finalizar a situação só pra me livrar logo de um mal momento! Simplesmente estar lá! É isso o que eu gostaria de fazer por alguém que fracassou e pede meu auxílio. É isso o que eu gostaria que fizessem por mim!

Posso fazer uma lista infindável das atrocidades que já ouvi nos últimos dias. Todas dignas de fazer o Cazuza muito provavelmente mandar pro mesmo lugar com toda a sua ironia e escárnio de cantor e poeta. E a linda variação de bateria que introduz sua obra prima "O tempo não para", faz o riso jocoso brota em meu estômago e tudo fica ácido e se transformando lentamente em gargalhadas de um humor negro profundo. Piadas emergem da minha mente sem controle algum. Julgamentos sumários, mentiras, ódio destilado, tudo atirado ao chão pela minha boca maldita faz a terra tremer. As pessoas riem mas é meio riso. Só até o tempo da idéia cristalizar na mente e perceber que não há graça. Que é sombrío!


Um diálogo felino aqui, uma estocada ali. Minha face de perdedora fica crispada pela lâmina dos inimigos, mas minhas garras triscam no chão quando ando com os braços junto ao corpo. Não vou deixar barato. Por mais que esteja sofrendo e que os dias pareçam anos. Não vou me curvar a isso! Não vou me entregar calada! O escárnio e a ironia são o veneno que cintila na ponta de minhas garras!


O dia seguinte ao dia seguinte da grande perda deste ano é uma agonia que se arrasta lenta e pesada. E o outro dia consegue ser ainda pior. O tempo ganha outra lógica de moção. O cinema nos deixa mal acostumados com a passagem do tempo. É muito mais lento do que aparenta. A contemplação da dor é longa, profunda e faz os segundos terem uma passagem velada pela tristeza que parece infinita, forte e imutável.


Não é tão simples esperar o tempo passar nessas condições. Os pesadêlos não permitem o sono. O corpo dolorido pela tensão noturna sofre durante o dia. A mente luta pela sanidade em meio a tanta gente louca para te afundar um pouco mais, além dos outros que tentam ajudar e só pioram. Sem falar nos que se alimentam da tristeza alheia! Criaturas inferiores e desprezíveis!


O dia seguinte ao dia seguinte é uma luta pela sobrevivência, pois se sobreviver à derrota no primeiro dia parece impossível, reerguer-se e manter-se de pé nos dias seguintes é surreal! As batalhas incessantes contra os golpeios da mente e o tremor da carne do corpo que só quer se atirar ao chão são enormes. Apenas se entregar seria o melhor a fazer... Deixar-se cair, deixar-se levar, deixar o corpo e os ossos se estabacarem no chão e permitir a enxovalhada de golpes do inimigo a se aproveitar da fraqueza do oponente derrotá-lo certificando-se de que não se reerguerá mais.


Nas batalhas entre os índios, o combatente espera o oponente caído se levantar e lhe voltar os olhos para o golpe final. Enquanto o oponente ainda se ergue haverá luta. É tão considerando desonroso ficar deitado e desistir quanto atacar quem está caído. Espantoso como a chamada civilização se tornou em muitos aspectos, um culto à covardia absoluta e à falta de ética, moral ou escrúpulo.


Hoje eu sou o corpo que caiu e tenta se reerguer. Meus músculos retesados pela dor se contraem tentando buscar força para expandir e me levantar do chão de lama desse pântano de tristeza que tomou conta de mim desde o minguar da lua. Os olhos dos meus inimigos estão pregados em mim, insandescidos para que eu volte a me deixar cair ao chão para que venham até minhas costelas com ponta pés!


Mas meu olhar se ergue e os encara a todos.


A tristeza me devora e a humilhção me faz titubear.


O dia seguinte ao dia seguinte é mais uma chance do inimigo te destroçar outra vez em uma fraqueza nova procurada sistematicamente. E a justiça cega e de mãos ocupadas nada pode fazer se a vítima não consegue recorrer a ela.


Hoje eu sou a vítima. E cada lágrima que derramo. Cada frase triste que escrevo neste post é um golpe a mais que me convence que me deixar cair é melhor. Talvez de fato o seja. O cansaço e a fadiga me tomam os músculos e ossos doloridos. A tristeza me embebeda a mente e a sonolência é um convite ao sofá, ao transe da tv e o vazio, o oco doloroso de contemplar o tempo a passar sem reagir.


Hoje eu ainda sou triste e triste serei no dia seguinte a este como fui no primeiro dia em que perdi uma das maiores batalhas da minha vida. E caída ficarei e ferida serei até que a vontade de viver me faça me reerguer outra vez.


Quando será não sei?

Nesta eternidade de dias seguintes... Qual será o dia do fim desta agonia.

Não enxergo.

"Vai passar!" dizem todos. Frases feitas são fáceis de serem ditas àquele que está atolado até as orelhas no pântano da tristeza.

Coragem é enfrentar cada minuto de agonia até as forças voltarem e ver o tempo passar te roubando cada sopro de vida e esperança que ainda lhe resta!


Frases feitas são fáceis de serem ditas.

A vida é para os bravos! Os que não precisam de palavras!

Guerreiros se reconhecem pelo olhar!

Guerreiros sabem que o dia seguinte será pior e que não há palavras suficientes para expressar isso!

Viver é um ato de coragem ao se saber disso.

Poucos sabem disso.

Não há férias, não há verão, não há fim de ano que baste. A batalha permanece lá e mais dia menos dia será a sua vez de ir para a frente dela.

E então o que você escolherá para o dia seguinte:

A frase feita ou a ação certa?


Afinal como diria o nosso amado poeta Cazuza: "O tempo não para."

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

"Perdas e danos"

Título de filme maldito!

Filme maldito!

Já viu?



É uma ótima sugestão para comprovar uma das minhas teorias mais convictas.



No fundo do poço ainda pode haver um alçapão.



Isso é muito real! Quando acreditamos que chegamos no maior extremo da tristeza que nossas vidas possam nos levar, algo acontece e nos mostra que ainda pode haver muito... muito mais!



Terrível hein?

Esse filme consegue tangenciar o que estou dizendo, acredite-me!



Perdas são difíceis de administrar, seja qual for o tipo.

Perder os documentos, perder um livro, perder um cd, perder dinheiro, perder seu cachorro (essa deve ser de matar! sou louca por bicho!). E as perdas pavorosas: perder um ente querido, perder um amigo, perder o amor da sua vida, perder a confiança de quem interessa, perder seu emprego, perder o prazo para matrícula na faculdade! Minha nossa! Já está me dando tontura!



Administrar o fracasso é coisa para poucos.

Comecei a fumar quando perdi meu pai, a beber quando perdi o amor da minha vida e ainda caço desesperadamente o meu livro de mitologia celta que algum desgraçado pegou emprestado e não me devolve nunca mais!!!!!!



Isso é infernal! A sensação é de um murro diretamente na boca do estômago! Acho que é por isso que aquela fala foi repetida aos montes no filme Tropa de Elite continua tão poderosa quanto o filme: Perdeu playboy! Perdeu!



É um sentimento irreparável. Pois mesmo que seja feita uma outra via do documento, compre outro livro ou cd, trabalhe pra cacete e ganhe outro dinheiro ou reencontre o seu cachorro (que deve ser um alívio daqueles que faz a gente derramar as lágrimas), ainda fica uma marca no peito, como uma sutura mal feita depois de uma cirurgia de risco. Uma ferroada que fica estocando. É o tempo perdido no poupatempo é a grana do livro ou do cd recomprados que poderia ser investida em outra coisa, é o dinheiro que nunca volta a não ser com mais trabalho, é o olhar do seu cachorro pedindo pra vc cuidar dele melhor.



A sensação de fracasso é insuportável.



E nas perdas pavorosas então: O que não foi dito, o que não foi feito, o que não foi percebido, o que não foi realizado a tempo. A dor profunda de ter quase sentido o que havia de certo a fazer e ter escolhido errado, perdendo a oportunidade muito provavelmente para sempre. Tudo se transforma em doses de culpa infindáveis, que nos devoram por dentro. Afinal não há carrasco melhor que a boa e velha culpa judaico-cristã-capitalista ocidental maldita!



E isso não é privilégio só nosso não! Os orientais também padecem deste mal. Os suicídas japoneses são milhares por ano! A maioria desempregados ou porque não conseguiram manter a tradição de profissão, carreira e trabalho da família!



Imagine se isso rolasse por aqui?

O metrô não corria mais pelos trilhos de tantos corpos de suicídas que ali se empilhariam!



Talvez boa parte dos latinos tenha encontrado outras formas de lhe dar com isso! Um porre, um sambão, uma balada destruidora, um maço de cigarros, ficar sem comer, comer a geladeira toda em uma noite.



Recursos muito eficientes, já tentei todos!



Mas não adianta... Na manhã seguinte, lá está ele sentado logo ao lado de sua cama: o fracasso.



Gostaria de aplicar conceitos mágicos para combater esse sentimento: Alegria, leveza e despreocupação formam uma grande tríade! Poderosa! Uma verdadeira arte de viver. Olhar para trás e encher o coração de um ar puro e positivo, sentir toda a dor da culpa e da mágoa se esvair em uma luz cor de rosa enorme que toma conta do peito, do corpo e do mundo todo! Esvaziar-se da negatividade e visualizar toda a situação como um grande aprendizado, um mal necessário, algo que realmente vai contribuir para uma bela virada de página da vida e sentir-se bem, harmonizada e pronta para uma nova etapa.



É tudo o que eu gostaria de ser hoje, neste momento de perda absoluta e de sensação de completo fracasso.



Mas ainda não é possível vibrar positividade, ainda preciso de tempo e de mais alguns passos no lado sombrio que agora sou. O lado escuro e triste pela perda absoluta... Como aquela carta do tarot que me apunha-la o peito toda vez que a vejo: o oito de copas. Uma carta dramática e cuja vasta bibliografia que examina este oráculo me trás aprendizado a custa de muito desprendimento e sofrimento por não aceitar o que já está na hora de ser deixado para trás. Uma das minhas interpretações favoritas é:

"... esta carta implica na necessidade de desistir de alguma coisa. A verdade dos fatos deve ser encarada, pois nada que se faça vai adiantar e não existe outra alternativa senão abrir mão, entregar. Uma forte depressão quase sempre acompanha essa fase, pois o mundo das trevas é o lugar das lamentações, do luto e do choro. O futuro não pode ser manipulado. Caminhamos de mãos vazias em direção ao desconhecido." (O Tarot Mitológico de Juliet Sharman-Burke e Liz Greene).




O personagem principal do filme Perdas e Danos é londrino e na última cena do filme, caminha de mãos vazias em direção ao desconhecido em alguma vila italiana, após sua perda pavorosa. Apesar de ter bufado no cinema ironizando o quão esnobe pudesse parecer a cena na época em que o filme foi lançado, quando me lembro de sua face marcada pelo fracasso absouto, me recordo que não há fuga que baste, não há paraíso turístico capaz de estancar tal ferida e continuo a indicar o filme para quem tem coragem de refletir sobre esse caminho pelo qual todos passamos.

Hoje estou vagando por este vale de tristeza no mesmo campo de batalha onde fui derrotada, sem direito à uma vila italiana para fingir que sofro menos.

Lamento não ter nenhuma mensagem positiva para deixar por aqui. Espero que quem quer que esteja lendo este post não perca suas chances e não fracasse, mas caso seja inevitável, aconselho que deixe-se chorar, deixe-se tomar por essa sensação temida por todos. É terrível de verdade, mas molda o caráter, depura a alma, lapida a mente e pode preparará-lo pra cometer outros erros em busca de seguir o caminho com toda a dedicação de um ser humano que só quer ser melhor.



Grata por de alguma forma poder dividir os momentos ruins também.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Tentando ser frequente!

Olá!

Insatisfeita pois os filmes não me preenchem, nem os livros, nem a revista de moda ou os catálogos com as mais recentes coleções de primavera verão que peguei no shopping neste fim de semana.



Por que?



Porque tudo isso é pífio demais para mim! Essa é a realidade!



Preciso de ar livre! Preciso de atividade! Ação! Caminhar pelos lugares onde os Deuses sorriem com mais facilidade!



Me lanço de novo à máquina para tentar lutar contra uma rotina preguiçosa e perversa que insiste em me atirar ao sofá da sala!



Tento me lembrar de alguma cena importante do dia.



Hoje durante os vinte e poucos minutos que restaram da hora de almoço, dividimos eu e um grande amigo, uma pequena fantasia bastante recorrente dos bons fugitivos da realidade. "Onde você gostaria de estar agora?"



Respondi nas ilhas ao sudoeste do Canadá, não apenas porque sou geógrafa, mas porque já vi aquelas lindas paisagens em uma edição antiga da National Geographic importada. Aquela coloração verde, aquele oceano escuro, aquele ar frio, úmido e esverdeado fez os de meu amigo revirarem enquanto eu descrevia a paisagem. Temos a mesma paixão por países frios.



Utilizei meus talentos de geógrafa e dublê de escritora, caprichando nos detalhes enquanto nossas cabeças caíam para trás nas poltronas da sala de descanso pós-almoço.



Citei minhas árvores favoritas daquela região: betos e cedros, pinheiros e carvalhos, plátanos e sorveiras, todos verdejantes pela cobertura de musgos, altos e úmidos pela ação do mar e suas ondas estourando em redor. Segui com minha descrição deste lugar edílico inserindo na beira da floresta, próximo a um penhasco profundo, um chalé com uma lareira poderosa, uma varanda que dá a vista para o mar, alguns livros, um notebook e muitos cds, cobertores, bebidas e comidas.

A esta altura já gemiamos de prazer! Com a idéia é claro!

Música é fundamental como pano de fundo de uma pantomima como esta! Pela manhã o som de Rachmaninoff para inspirar a leitura, a escrita e as longas caminhadas com cardigã de lã grossa e gola roulé, calças de veludo e botas resistentes e de cano bem longo, forradas de lã.


Ao cair da tarde som do silêncio visitado pelo estouro das ondas do mar nos rochedos da ilha, para embalar uma soneca na varanda com um bom cobertor é claro!


Noite adentro, Billie Hollyday e sopa de champignon em uma tigela tão funda que daria pra enfiar a cabeça dentro dela, fumegando ao lado de um belo prato de pão italiano bem cortado e uma bela taça de vinho para completar, à beira da lareira, para a entregua a pensamentos profundos lambidos pelas labaredas do fogo alaranjado e perfumado pela madeira escolhida a dedo durante o dia.


Na madrugada, uma bela caneca de chocolate quente para ajudar a fechar mais um capítulo do livro ou terminar aquela crônica.


Se der coragem, ver o dia amanhecer na varanda, com um cobertor para se enrolar e se encher de esperança para mais um dia. Voltar para cama e dormir o dia todo ou talvez sair para pescar. Dar uma volta com Chopp, um lindo cachorro peludo e fofo que conheci no shopping esse fim de semana.

O que o simpático Chopp estaria fazendo no Canadá é que é difícil de dizer... Mas eu sei o que estaria fazendo lá...


Vivendo com dignidade.


Não que aqui eu não viva. Mas ao julgar pelo tanto que relaxamos eu e meu amigo durante essa pequena fuga mental no que restava de nossa hora de almoço, foi possível verificar que estamos longe de viver com dignidade nas condições em que nos encontrávamos.


Os caminhos da mente são insondáveis. Podemos fugir para onde quisermos! A ajuda das revistas, dos filmes, livros e músicas é enorme. Já falei disso algumas vezes não?


Mas algumas escapadinhas são especiais e eu gostei muito dessa sabe?

Tanto ao ponto de querer dividir.

Quero umas férias assim algum dia.

Na verdade quero minha aposentadoria assim.

Publicar meus livros, ler outros, ter um Chopp como companheiro.

Boa alimentação, roupas bem resistentes.

Aprender a pescar e navegar.

Morar no Canadá talvez seja demais... Talvez não... Talvez sim!



Não parece muito.



Acredito que para o meu amigo também não. Ele só fez uma restrição: "Comida sempre pronta!"

"Eu faço!" fui rápida: "Você será meu convidado!"

Rimos um bocado e relaxamos bastante tentando prolongar nossa fuga por mais um pouco.

Fuga ou projeto de vida?

No meu caso... Projeto de vida sem dúvida!



Um lugar lindo para se viver.

Uma vida linda para se aproveitar.



Desejo isso à todos!

Abraço meu e do Chopp!

Fim de ano! Fim da sanidade!

Meses se passaram!

Um, dois comentários...

Puxa alguém passou por aqui! Fico mui grata! De verdade!

Gostaria que este blog fôsse mais competente na produção de textos e na captação de seguidores.

Mas não há tempo!

Tempo!

O ano está acabando! O tempo novamente se esgota nos calendários julianos ocidentais cristãos malditos! Mais um algarismo que vai mudar! Mais stress, mais cansaço, mais tensão pelos resultados das empresas anuais: a escola, o balanço do ano, o fechamento das horas trabalhadas, o resultado do ibope, o resultado do vestibular, a demissão, a promoção, os desfechos das historinhas.

Lenta e insana, inicia-se uma contagem mental no inconsciente das pessoas levando-as ao estado de tensão que reina na cabeça de boa parte da população deste planeta nesta época do ano: o final! Seja na comemoração absurda do natal: uma festa de inverno enfiada goela abaixo do terceiro mundo ao sul do equador ou na festividade louca da passagem do ano: cores de roupas de cima, de baixo, lugares e bebidas obrigatórias.

Mesas cheias de comidas que se estragam, bebidas deixadas pela metade, sujeira nas ruas, nas praias, gente dando trabalho nos hospitais e nas delegacias; presentes caros, imprudência no trânsito, no cartão de crédito, no sexo e nos alucinógenos.

Inspiração não falta, afinal são festas por toda a parte. Festas de fim de ano do trabalho, na escola, na facul, no projeto ambiental. Aquele momento esperado o ano todo para dizer o que não devia ser dito, fazer o que não de via ser feito, por excesso de decoro ou por falta de coragem, talvez. Os olhos brilham, os corpos serpenteam, a voz é interrompida pela falta de fôlego. Quanta espectativa! Se der certo e gol! Se não, logo em seguida virão as férias e aí o verão e então até a volta com o novo algarismo, estaremos salvos dos erros do passado tão distante, basta pularmos as 7 ondas da praia e fazermos novas promessas para a redenção do número novo, digo, do ano novo!

Amargo não?

Não sou eu não! É o que vejo a muito tempo. O privilégio do trezoitão!

Chamo a minha idade divertida de trezoitão! 38 anos! Charmoso e engraçado! A parte charmosa é a do revólver calibre 38! Clássico entre os amantes do tiro "das antigas". O giro do tambor, o encaixe dos projéteis, o som da trava do cão, a força para apertar o gatilho, o estampido do disparo! O engraçado é o apelido: um "ão" bonachão para uma idade que já beira à saída da maturidade... Aparentemente não? (pausa para ligeira limpeza da garganta)

Adoro atirar!
Adoro chegar aos 38 anos!
Achei que seria uma analogia interessante.

Acho que na minha idade as ações devem ser pensadas, escolhidas, como na mira do atirador que se utiliza de uma tremenda arma como um 38! Não estou atacando de dona pudica por favor! Escrevi pensar e escolher, jamais deixar de fazer. Apenas avaliar se o estrago do tiro será grande demais e se há disposição para pagar... Deu pra compreender?

Por isso minha visão desta verdadeira onda de insanidade que tomam as mentes e as atitudes das pessoas nos fins de ano ser tão ácida. Conheço muitos desses caminhos, não todos! Mas a base é a mesma. E até concordo. "Esse ano foi tão difícil!" Quantas vezes me peguei falando isso! Todo o ano! E os anos se superam! Em dificuldades e em surpresas. E não porque sou agraciada ou desgraçada, mas porque viver é difícil mesmo. E muito provavelmente o ano que vem também o será! Certamente! Talvez mais ameno em alguns aspectos e carrasco em outros. Alguns golpes de sorte, marés de azar... Quem vai garantir a proporção?

O bom é sacar isso logo e largar de se fazer de vítima! Perceber que há um pulso entre os acontecimentos um ritmo que pode ajudar a perceber o auge e a decadência de inúmeros processos. Amadurecer é praticar a saída de si mesmo, o posicionamento no lugar dos outros e a visualização de todas as situações de fora. Somando tudo a escolha não parece ser tão desesperadora.

Entendo a insanidade. Anos difíceis, com muita cobrança, como o ano para os vestibulandos, para os recém-promovidos, para os recém-separados, para os estreantes em morar sozinhos, em assumir sua verdadeira sexualidade, para os desafiados, tantos casos onde a pressão é absoluta e as raias da loucura culminam com os últimos algarismos trocados no calendário do último mês do ano. Quando a libertação acontece, seja na lista de resultados, na festa de final de ano, no beijo explosivo sob os fogos de artifício, a energia é animal mesmo acredito e endosso! A besta interior merece e deve ser liberta após tanto tempo presa.

Mas são as escolhas que nos fazem diferentes... Certo?

Acredito que esse é um dos critérios que deve nos salvar dos sofrimentos colhidos por um simples ato de exagero.

Se há disposição para a ruptura de todos os limites, basta lembrar que a natureza tende ao equilíbrio e que portanto, a força desencadeada poderá gerar outra força igual e oposta a fim de que este equilíbrio seja alcançado.

Prontos para a viagem!
Boas escolhas!

As minhas? Aw! Isso é pessoal demais para lançar por aqui...
Talvez eu possa dizer que abri mão da insanidade e que hoje busco horizontes mais calmos. Contemplação, compaixão e sonhos... muitos sonhos para alimentar a minha alma.

E claro! Muitas promessas inúteis de ano novo que "desta vez" vou levar a sério mesmoooo!
Emagrescer!
Voltar a dirigir!
Largar mão de me envolver com gente maluca!
Finalizar meu livro!
Encontrar um amor sincero!
Parar de gastar dinheiro a tôa!
Fazer a viagem dos meus sonhos!
Morar perto dos Deuses!
Fazer mais e melhores coisas pela felicidade da minha família!
Viver com competência!

Um abraço a todos e bom fim de ano!
E não se esqueçam de escolher bem as insanidades que vão querer fazer hein?
Quem sabe voltar a escrever em breve também não seria uma ótima promessa de fim de ano... Daquelas que se cumpre ou não?
Hmmmmmmmmmmmm!
kkkkkkk
Beijo!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Concrete Blondie

Como sempre as músicas vão permeando as cenas da vida.

Criaturas das telas que somos todos nós... Quem escapa? Telas de televisão, telas de cinema, telas de computador sempre estão a nossa frente, seguimos ouvindo, fugindo...



Gosto das telas de cinema.

Gosto de apreciar as cenas da minha vida como se fôssem um punhado de curtas metragens. Com uma trilha sonora pra embalar as falas.

Uma cena dramática ou uma fantasia bem apetitosa! Um belo cenário e pronto! Está feito mais um sucesso vicioso a se repetir em minha mente.



Me lembro desse vício ter me consumido boa parte na infância. Minha mãe me contou umas mil vezses sobre a professora se queixando aos meus pais sobre sua aluna que vivia no "mundo da lua". Quantas risadas já dei da série de mesmo nome que foi ao ar pela TV cultura alguns 20 anos depois!


Gargalhadas ecoaram ainda mais alto quando li que as habilidades de visualização de um bruxo começavam pela imaginação fértil na infância.


Acredito sermos todos bruxos!

Muitos já sabem disso e se exibem orgulhosos de seus feitos.

Outros buscam desesperados o que acreditam ser um representante da velha arte.

Nem todos sabemos de nossas aptidões ou do que elas significam e refugiarmo-nos em nossas fantasias torna-se convidativo o tempo todo. Até a realidade e o desejo se misturarem em devaneios e delíros difíceis de largar, até que não sabemos mais o que é sonho, o que é visão e o que é real.



Que belo cardápio para uma tarde de quarta feira de maio, chuvosa e fria!

Olhar o céu cinzento, farfalhando com o vento, com tantos tons de chumbo e sentir os olhos arderem, os lábios incharem e a mente inflar de idéias para histórias inteiras de viagens, heróis e heroínas, amor e sexo, competição e guerra.



Orientada pela música certa a mente faz proliferar imagens, nomes, situações e a criação vem preenchendo horas na frente da tela do computador ou no caderninho levado a tira colo para esses momentos: A cabeça cheia de sonhos derramando feito uma inundação.



Hoje consegui me lembrar do nome de uma dessas músicas certas: "Heal it up", do Concrete Blondie. Uma dessas em que o vocal vocifera longamente e te faz arrepiar de inveja e brincar de play back com o tubo do desodorante pelo quarto! kkkkkkkk!



Anyway! Que trilha sonora!

Quando ouço esta música e em minha atual fase do caminho, vejo um carro negro, modelo antigo, disparando veloz pela estrada, contornando uma serrania de matas verdes, com o mar arrebentando os rochedos logo abaixo e sob o mesmo céu cinzento farfalhante que está sobre minha cabeça enquanto escreve este post.

Vejo os cabelos ruivos de uma motorista enfurecida esvoaçando, suas luvas de couro agarrando o volante, seus olhos negros apertados pelas pálpebras tensas e seus dentes cerrados a encarar a estrada com uma fisionomia típica de uma mente em tempestade.



Para trás mais um amor perdido, mais uma traição, mais uma decepção. A cada marcha trocada do carro, mais um gemido abafado, mais um pedaço do coração que se parte, mais um choro abafado pela fúria. Uma sensação de desencantamento com a vida e com as pessoas, embalado pelos gritos sem fim de um ferida aberta que lhe rasga o corpo astral da base da gargante até o baixo ventre de onde um líquido verde fosforescente derrama de forma tóxica e escorre por entre as pernas, se espalha pelo assoalho do carro e verte pela estrada em um fio que aos poucos vai se transformando em jorro abundante e ácido. O estranho líquido ferroa ao sair, como líquido aminiótico de um monstro de mágua prestes a ser parido pelo desespero de mais um coração partido a vagar por mundo sem retorno do amor dado com tanta devoção.



Quanta dor a cada contração para a expulsão dessa criatura maligna: o amor pervertido, transmutado em mágua, em ódio e em fúria. Seu sangue verde ácido se esvai pela estrada e sua portadora segue rangendo os dentes e apertando os olhos para permanecer na pista, dirigindo aquele carro afogado em mágua, suas mãos seguem torcendo o volante esperando que todo esse parto de mal agouro saia de vez de seu corpo, deixe sua alma e mente em paz enquanto o carro desliza em mais uma curva da estrada cinzenta.



A estrada já está coberta do veneno verde que a consumia e depois das lágrimas pela dor lascinante aflorarem em seus olhos, o riso desconcertado, doentío lhe toma a boca. Entre a sanidade e a loucura ela se torna ciente de que só haverá leveza novamente quando todo o peso se for. Quando a criatura for libertada sem apêgo sem dor. Seus olhos se fecham e o sentimento é derramado dessa vez sem dor, sem culpa, sem apego e se esvai pela estrada, derramando seu resto de fel por toda a encosta da serra abaixo, indo dar no mar.



Redimida a motorista segue viagem aliviada.

Seu corpo e mente se refazem e a estrada passa a clarear com uma luz dourada de um sol que agora quer sair de trás do chumbo das nuvens. Agora os cabelos da motorista estão dourados, seus olhos se abrem verdes como o mar e seus dentes se destravam em um lindo sorriso pois sua alma está novamente cheia de paz.



Uma alma curada!

"... heal it up..."



Bye!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Il Ballo de Maschera

A pouco tempo fui convidada para um baile de máscaras veneziano.

Confesso que tive um pouco de hesitção.
Já são tantos os mascarados que encontramos por aí não? Como seria lhe dar com pessoas por trás de máscaras de verdade, confeccionadas com materiais reais, cheias de adornos e brilhos que ocultam suas faces, seus nomes, suas fisionomias, transformando seus olhares.

O olhar é a primeira coisa que me cativa ao travar conhecimento com alguém. É claro que nem todos os olhares arrebatadores que recebi eram de pessoas que condiziam com o ar que tanto se esforçavam por transmitir. Por outro lado, olhares tímidos já se transformaram em histórias que até hoje ainda se desdobram calorosamente.

Uma máscara impulsionaria muito mais!
Nela os olhos teriam outra moldura, a fisionomia que envolve o olhar sumiria e então os olhos e o corpo saltariam. Daí o medo!!!! Os desejos poderiam simplesmente ser libertados na forma de uma verdadeira inundação. A mente ávida como sempre, rapidamente preencheria as lacunas com seus próprios desejos e tudo eclodiria sem controle noite a dentro.

Quanto temor!

Imediatamente comecei a sonhar com as pessoas as quais eu gostaria que estivessem em um ambiente desses... E evidentemente como preencheriamos nossos anseios...

Foi então que me lembrei da ópera Un Ballo de Maschera de Giuseppe Verdi, meu amado giovanni italiani! Trata-se de uma versão mais leve da história do assassinato do Rei George III da Suécia. A trama que culmina com o assassinato do próprio rei no ápice da festa.

Mais temor!

Tirar proveito de boas situações para atingir objetivos escusos pessoais tem sido um modo covarde de viver bastante usado nestes dias. Muito do antigo é recriado com uma fachada contemporânea mas com cerne comum: a perversidade humana.

Não conversamos, esperamos o outro falar para chegar a nossa vez.

Não ajudamos, tentamos resolver rapidamente a situação do outro para que ele se sinta obrigado a nos ajudar.

Não aconselhamos, aproveitamos a situação para aquela alfinetada que queríamos dar e aliviar uma mágoa antiga que não se cura.

É claro que isso não se aplica a tudo, nem a todos e muito menos a todos os momentos. Mas o lado perverso pode aflorar e então as possibilidades podem ser enormes de que alguém realmente se machuque.

Portanto o baile reaviva o glamour do passado, mas a proposta se encaixa absolutamente nos dias de hoje como tudo o que é recriado nesses tempos de falta de originalidade absoluta de roteiro, de ter o que dizer, de realmente fazer algo de concreto e original.

Sem temor.

É apenas a mesma coisa de todos os dias só que em uma ocasião mais festiva, cheia de glamour. Nada que não façamos na cara de pau mesmo!

Adorei!
Gostaria muito de ter ido!
Mas o Il Ballo de Máscaras da vida de verdade chamou mais forte desta vez!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Amores Tóxicos

Será possível?
Falar de amor de novo?!

Bem... Estive trabalhando todos esses meses até ele dar as caras de novo e me inspirar novamente... Deve ser porque deve valer a pena não?

Valer a pena é uma frase que me incomoda. Apesar de usá-la quando o piloto automático da língua comprida está ligada (quase o tempo todo!), vem sempre aquela sensação de rejeito logo depois das palavras proferidas. Como uma pena pode valer?!

Pensa bem! Se é uma pena? Uma penalização? Você está dizendo que vale a pena o sofrimento para alcançar algo. Logo, a sentença em questão na totalidade fica como: O sofrimento causado pelo amor vale. Sofrimento? Amar é sofrer, mas é um sofrer que vale? Qual é? Tem certeza?!

Por que o valor só deve vir do sofrimento? Cai na real! Paganismo é libertação dessas culpas judaico-cristãs-muçulmanas-hinduistas-budistas e tantas outros ismos, istos, icos e aquilos em geral! Não é só coisa de ocidental não! É geral mesmoooo! Todo mundo adora um fardozinho pra carregar, para depois legitimar seus prazeres, suas alegrias, seu valor! Chame de karma, de culpa, de destino, de caminho; pinte com as cores que quiser! Continua sendo uma das maiores e mais idiotas manías humanas.

Alegria de cara! Assim do nada! Não deve ser verdade! As frases populares pipocam na mente: "Aí tem!", "Esmola demais..." "Uma mulher dessa a fim de mim?" "Nesse mato tem coelho..." "Um cara desse atrás de mim?" "Tá querendo alguma coisa que não presta!".

A culpa (outra palavra que odeio apesar de se encaixar perfeitamente nesta situação), pode ser repartida por vários agentes, novelas, contos de fada, blogs de pessoas carentes (kkkkkkk!), o modelo capitalista ocidental, a globalização, as revistas teen, as séries de tv estado-unidenses e as magistrais novelas mexicanas que, como dizem os meus alunos "são master-blaster" no assunto! Sofra por 200 capítulos e tudo se resolverá nos últimos 15 minutos!

Mas pera aí? Quando vai ser o último capítulo? Quando o sofrimento será suficiente? Ou como diria Shakespeare "Quem levaria fardos, gemendo e suando sobre a vida fatigante, se o receio de alguma coisa após a morte - essa região desconhecida cujas raias jamais viajante algum atravessou de volta -, não nos pusesse atônita a resolução, nem nos fizesse tolerar os nossos males de preferência voar para outros, não sabidos? A reflexão assim nos acovarda, e assim é que se cobre a tez normal da decisão com o tom pálido e enfermo da melancolia; e desde que nos prendam tais cogitações, empresas de importância e que bem alto planam desviam-se de curso e deixam até mesmo de se chamar atenção.".

Pobre Hamlet... A maioria das pessoas só conhecem o "ser ou não ser", mas o sofrimento é reconhecido e legitimado em toda a parte, em todos os níveis sociais e intelectuais, culturas e povos. "No pain no game!" "Forever!"

E aí seguimos nessa febre tóxica, nos consumindo de desejo e sempre nos negando a ser felizes porque isso não é possível sem uma farta dose de penalização. Para "valer a pena"!

A espera consome! Adoeçe os sentidos!

Cada lembrança, cada frase que se torna uma promessa, marcando o corpo e a mente como raios e relâmpagos marcam o céu e a terra. Uma tempestade cerebral insuportável que nos atira da agonia ao êxtase em instantes. A intoxicação das idéias, as certezas instantâneas, os medos colapsantes. Tudo se torna uma eterna busca pela próxima viagem: nas ruas, nos cantos da casa, nas imagens procuradas até sem querer na net, de carro na contra mão na madrugada, a cada ruído no corredor no meio da noite, sempre aparecem as doses cavalares para mais uma viagem tóxica que nos tire do sofrimento que nós mesmos nos colocamos porque não nos movemos, não vamos ao encontro da felicidade. "Agora não, melhor esperar..." Esperar o que? Até os tóxicos consumidos durante a espera nos levarem a uma overdose mortal?

Não sou diferente! Afinal este é um sistema eficiente que sempre alimentou a super estrutura da maior parte das sociedades humanas durante milênios. Quando estou de bom humor chamo-o de "Credikarma", falhe agora e pague pelo resto de suas vidas!

Como pagã, vivendo em Sizihgia eterna entre o Sol e a Lua e na busca incessante do equilíbrio das forças masculinas e femininas em mim e em meu amado, busco em cada bater de porta de carro, em cada gole de vinho tinto carmenére, em cada baforada de cigarro de cereja, a cada vez que coloco minhas sandálias de salto alto, que a próxima noite será a noite em que não haverá pena... Apenas haverá valor!

Que possamos superar essa necessidade de sofrimento para atingir o que almejamos e simplesmente nos permitir ser felizes! Por mais clichê que seja a frase!

Beijos viajantes para todos os caçadores do amor intoxicante... Como eu!
E coragem para admitir que a verdadeira felicidade vem das coisas simples!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Wild Horses

Já lí até em Paulo Coelho's wisdom...
"...as emoções são cavalos selvagens..."
O show Confessions Tour da Madonna, começava com montagens de cavalos a todo o galope.
Diadorin, quando o pai dela Joca Ramiro, morreu pela faca de Hermógenes dá um galope razante pelas veredas de Guimarães Rosa!
Numa de suas dores de amor, Bono Vox do U2 compôs: "Whos gonna ride your wild horses?", talvez se referindo a quem será o próximo a domar seu amor perdido...

Parece que se trata de ponto pacífico...

Emoções e cavalos trazem sensações muito próximas.

Gostaria de ser uma cavalo livre para galopar em campo aberto neste momento e deixar esse fardo para trás. O fardo de viver em mundo onde não posso me dar ao luxo de sentir!

São incontáveis as vezes em que perdi diversas coisas que me são caras, apenas porque demonstrei meus sentimentos. Perdi cargo de confiança, emprego, namorado, amante, amigos... Tanta coisa!

A maioria das pessoas não está pronta para se libertar dos arreios, dos estribos, das celas, das esporas e apenas correr livre... Como cavalos selvagens. Ser livre e expressar o que pensamos choca a maioria dos atrelados ao sistema frio e racional vigente no mundo dito civilizado... As pessoas rejeitam, nos chamam de problemáticos, passionais, fracas!

Enfim, coisas irritantes que dão vontade de sair a cavalo no galope razante, cantando U2, com as roupas da Madonna e arremessar o livro do Paulo Coelho na cabeça de quem fala tamanhas bobagens!

Porque endurecer e perder a ternura assim? Isso é considerado força? Há momentos em que a coragem requer o controle emocional para impulsionar a ação correta. Não nego! Mas transformar-se em máquina também não dá! É preciso sentir! É preciso mostrar aos outros que isso não é ruim. Essa insensibilidade incrível pode ser a maior causa da intolerância que assola a nossa espécie e que nos faz invejar criaturas livres como os cavalos selvagens. Estou certa disso!

Portanto não aceito julgamentos de quem não tem sensibilidade!

E para aqueles que dizem "fulano tem a sensibilidade de um paquiderme!", eu apenas respondo:
os elefantes são muito mais sensíveis que grupos enormes de seres humanos!

A sizigia que habita em mim traz a razão e o calor do Sol, a harmonia e o brilho da Lua, mas traz principalmente a Terra, onde os meus pés estão como um campo infinito, cercado por lagos, rios e mares, florestas, montanhas, geleiras e desertos, por onde os meus cavalos andam soltos e livres sem ninguém para lhes dizer para onde ir!

Um abraço selvagem a todos os que compartilham desse sentimento!

domingo, 18 de janeiro de 2009

Moda e Consumismo

Ao comprar um lenço palestino a uma semana atrás, me deparei com o poder de uma simples aquisição.

Como professora de geografia que sou, imagino que minha paixão pelas grandes questões naturais e humanas deve pré-determinar minha imagem para muitos que não me conhecem, uma vez que já o faz para os que pensam que me conhecem e volte e meia garante uma série de discussões com aqueles que realmente me conhecem.

Como qualquer mulher que se preza, consumir é fatal, há uma série de escolhas a fazer que podem mudar sua imagem para sempre, desde uma alergia terrível a algum cosmético mais barato até acertar finalmente a cor do cabelo!!!

Sempre parece ridículo para boa parte dos homens e algumas mulheres que conheço. Gente que gosta de se bastar sem ser escravo destas coisas, mas são extremos complicados. O "andar largado" e o "fashion victim".

Pessoalmente padeço dos dois. Quando a nuvem de problemas atraca é bem mais difícil ficar caindo da cama pra maquiagem adeqüada, mas quando consigo é realmente uma vitória e tanto, principalmente no final do dia em que ninguém percebeu que o mundo caiu na sua cabeça.

E quem disse que o largado não tem estilo. Já viu o desfile da nova coleção da Osklen no São Paulo Fashion Week? Pois é...

Talvez eu deva acrescenter uma terceira palavra no título deste post... Moda, Consumismo e Estilo.

Andar largado é um estilo. Comprar um lenço palestino porque é fashion é consumismo. Usar o lenço no outono é moda. Usar o lenço como protesto pelo massacre israelense na Faixa de Gaza é ter personalidade!

Então vamos rediscutir moda!

Por muito tempo, moda foi considerado caracter essencialmente feminino, enquanto vestir-se bem para um homem é apenas boa apresentação. Mas será que não seria um pouco mais. Algo como garantia de emprego, garantia de voz ouvida, garantia de presença reconhecida? Dá pra sentir no suspiro da mulherada só quando o cara chega.

E isso não significa terno e gravata.

Uma mera coordenação do tênis com a camiseta. O corte de cabelo super geométrico e aquele perfume gostoso anunciam uma chegada arrasadora e de efeito muito maior se acompanhadas de um sorriso e um bom papo! Conheço uns caras que já atingiram esse estágio elevado da alma. E que bom que o fizeram. Para eles mesmos e para todas nós! Certo garotas?

Moda é pra todos.

Não precisa comprar nada! Na certa você já tem tudo, só precisa escolher melhor o que combinar. É divertido! Se fizer um bom levantamento no seu guarda-roupa vai descobrir que não precisa de nada. Talvez um acessório ou uma peça básica que vai permitir mais 20 combinações do que já existe. É econômico, inteligente e faz bem.

Moda é importante para o primeiro emprego, para a primeirá reunião, o primeiro encontro... Morro de rir quando chego em meu ambiente de trabalho em um daqueles dias em que acerto na coordenação entre roupas, sapatos e bolsa. Sempre vem aquela vozinha maldosa por cima dos meus ombros quando passo: "... ela deve estar a fim de alguém!". Hilário!

Nem sempre dá pra acertar. Afinal é uma arte. Protestem todos os artistas plásticos! É arte! As cores, a textura, a leveza do tecido, o acerto do corte dando o caimento perfeito que acerta a silhoueta. A delícia do caminhar e exibir seu troféu pelos corredores, calçadas e ruas. Todos podem atingir esse ideal capaz de arrancar um sorriso do mais incrédulo! Ver-se bem vestido faz bem pro astral, pra energia pessoal é garantia de sucesso.

Sei que acertei com o lenço palestino e pretendo fazer bom uso dele na ocasião certa para que seja visto como protesto e como sinal de fé no fim das lutas naquele lugar tão amaldiçoado pelos Deuses. Mas o que custa usá-lo com um belo par de cuturnos, shorte e camisa pra combinar hein? Qual o problema?

Consumismo seria se eu saísse correndo pra comprar tudo isso só pra usar na tal ocasião específica! Absolutamente desnecessário.

Estilo vai ser a ocasião escolhida para a apresentação deste visual!

Mas esta é segredo...
Um segredo super estiloso!
Bye!

Manhã Cinzenta de Verão

No ano regido pelo Sol.
Na estação de seu maior explendor.
A Fúria da Deusa se faz entre nós na forma da mais implacável das chuvas, na primeira noite de Lua Cheia do ano.

O rio sobe furioso e arrasta a tudo e a todos.
Lava as antigas ruas de pedra com lama, árvores, casas e pessoas arrancadas.

E leva consigo toda a alegria que a estação prometia.

Quando finalmente chega a alvorada após a madrugada voraz, o céu amanhece cinza e o ar cheira a argila. Um véu ocre está sobre a cidade mais linda que já conheci.

Um véu de tristeza que pode ser contemplado na face dos que sobreviveram àquela noite terrível e embalado por suas vozes embargadas ao contar suas histórias.

Impossível continuar ali em meio a tanta dor e secura com a volta implacável da luz sobre o cinza da manhã.
A cidade nos expulsou sob forte domínio do Rei Sol.
As colunas de poeira das ruas ao passarmos, nos mostram que o Astro Rei sempre volta a brilhar, não importa quanto tempo demore.
Mas a fúria da Grande Mãe, que pode levar minutos na forma de uma terrível tromba d'água, deixa marcas que nem o calor dourado do dia mais quente do ano pode apagar.

Te desejo cura, minha linda Parati.

Que a mão furiosa da Deusa que te cobriu de lama e água, seja a mesma que te puxará deste pantano de tristeza e te trará a tona, para respirar e ser bela outra vez.

Amo-te minha cidade favorita.
Em tuas ruas de pedra deixei mais um pedaço do meu coração, que de tantos lugares te escolheu como favorita do verão e rezo todas as noites pela tua recuperação e da gente linda que contigo está.

Até breve minha querida.
Bençãos do Rei Sol e da Mãe Lua para ti! Parati!