quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

"Perdas e danos"

Título de filme maldito!

Filme maldito!

Já viu?



É uma ótima sugestão para comprovar uma das minhas teorias mais convictas.



No fundo do poço ainda pode haver um alçapão.



Isso é muito real! Quando acreditamos que chegamos no maior extremo da tristeza que nossas vidas possam nos levar, algo acontece e nos mostra que ainda pode haver muito... muito mais!



Terrível hein?

Esse filme consegue tangenciar o que estou dizendo, acredite-me!



Perdas são difíceis de administrar, seja qual for o tipo.

Perder os documentos, perder um livro, perder um cd, perder dinheiro, perder seu cachorro (essa deve ser de matar! sou louca por bicho!). E as perdas pavorosas: perder um ente querido, perder um amigo, perder o amor da sua vida, perder a confiança de quem interessa, perder seu emprego, perder o prazo para matrícula na faculdade! Minha nossa! Já está me dando tontura!



Administrar o fracasso é coisa para poucos.

Comecei a fumar quando perdi meu pai, a beber quando perdi o amor da minha vida e ainda caço desesperadamente o meu livro de mitologia celta que algum desgraçado pegou emprestado e não me devolve nunca mais!!!!!!



Isso é infernal! A sensação é de um murro diretamente na boca do estômago! Acho que é por isso que aquela fala foi repetida aos montes no filme Tropa de Elite continua tão poderosa quanto o filme: Perdeu playboy! Perdeu!



É um sentimento irreparável. Pois mesmo que seja feita uma outra via do documento, compre outro livro ou cd, trabalhe pra cacete e ganhe outro dinheiro ou reencontre o seu cachorro (que deve ser um alívio daqueles que faz a gente derramar as lágrimas), ainda fica uma marca no peito, como uma sutura mal feita depois de uma cirurgia de risco. Uma ferroada que fica estocando. É o tempo perdido no poupatempo é a grana do livro ou do cd recomprados que poderia ser investida em outra coisa, é o dinheiro que nunca volta a não ser com mais trabalho, é o olhar do seu cachorro pedindo pra vc cuidar dele melhor.



A sensação de fracasso é insuportável.



E nas perdas pavorosas então: O que não foi dito, o que não foi feito, o que não foi percebido, o que não foi realizado a tempo. A dor profunda de ter quase sentido o que havia de certo a fazer e ter escolhido errado, perdendo a oportunidade muito provavelmente para sempre. Tudo se transforma em doses de culpa infindáveis, que nos devoram por dentro. Afinal não há carrasco melhor que a boa e velha culpa judaico-cristã-capitalista ocidental maldita!



E isso não é privilégio só nosso não! Os orientais também padecem deste mal. Os suicídas japoneses são milhares por ano! A maioria desempregados ou porque não conseguiram manter a tradição de profissão, carreira e trabalho da família!



Imagine se isso rolasse por aqui?

O metrô não corria mais pelos trilhos de tantos corpos de suicídas que ali se empilhariam!



Talvez boa parte dos latinos tenha encontrado outras formas de lhe dar com isso! Um porre, um sambão, uma balada destruidora, um maço de cigarros, ficar sem comer, comer a geladeira toda em uma noite.



Recursos muito eficientes, já tentei todos!



Mas não adianta... Na manhã seguinte, lá está ele sentado logo ao lado de sua cama: o fracasso.



Gostaria de aplicar conceitos mágicos para combater esse sentimento: Alegria, leveza e despreocupação formam uma grande tríade! Poderosa! Uma verdadeira arte de viver. Olhar para trás e encher o coração de um ar puro e positivo, sentir toda a dor da culpa e da mágoa se esvair em uma luz cor de rosa enorme que toma conta do peito, do corpo e do mundo todo! Esvaziar-se da negatividade e visualizar toda a situação como um grande aprendizado, um mal necessário, algo que realmente vai contribuir para uma bela virada de página da vida e sentir-se bem, harmonizada e pronta para uma nova etapa.



É tudo o que eu gostaria de ser hoje, neste momento de perda absoluta e de sensação de completo fracasso.



Mas ainda não é possível vibrar positividade, ainda preciso de tempo e de mais alguns passos no lado sombrio que agora sou. O lado escuro e triste pela perda absoluta... Como aquela carta do tarot que me apunha-la o peito toda vez que a vejo: o oito de copas. Uma carta dramática e cuja vasta bibliografia que examina este oráculo me trás aprendizado a custa de muito desprendimento e sofrimento por não aceitar o que já está na hora de ser deixado para trás. Uma das minhas interpretações favoritas é:

"... esta carta implica na necessidade de desistir de alguma coisa. A verdade dos fatos deve ser encarada, pois nada que se faça vai adiantar e não existe outra alternativa senão abrir mão, entregar. Uma forte depressão quase sempre acompanha essa fase, pois o mundo das trevas é o lugar das lamentações, do luto e do choro. O futuro não pode ser manipulado. Caminhamos de mãos vazias em direção ao desconhecido." (O Tarot Mitológico de Juliet Sharman-Burke e Liz Greene).




O personagem principal do filme Perdas e Danos é londrino e na última cena do filme, caminha de mãos vazias em direção ao desconhecido em alguma vila italiana, após sua perda pavorosa. Apesar de ter bufado no cinema ironizando o quão esnobe pudesse parecer a cena na época em que o filme foi lançado, quando me lembro de sua face marcada pelo fracasso absouto, me recordo que não há fuga que baste, não há paraíso turístico capaz de estancar tal ferida e continuo a indicar o filme para quem tem coragem de refletir sobre esse caminho pelo qual todos passamos.

Hoje estou vagando por este vale de tristeza no mesmo campo de batalha onde fui derrotada, sem direito à uma vila italiana para fingir que sofro menos.

Lamento não ter nenhuma mensagem positiva para deixar por aqui. Espero que quem quer que esteja lendo este post não perca suas chances e não fracasse, mas caso seja inevitável, aconselho que deixe-se chorar, deixe-se tomar por essa sensação temida por todos. É terrível de verdade, mas molda o caráter, depura a alma, lapida a mente e pode preparará-lo pra cometer outros erros em busca de seguir o caminho com toda a dedicação de um ser humano que só quer ser melhor.



Grata por de alguma forma poder dividir os momentos ruins também.

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