terça-feira, 7 de setembro de 2010

"It's my nature!"

Continuando a série de testes e historinhas da meninice, gostaria de relembrar mais uma dessas maravilhosas e singelas lições que mais me marcaram a mente e o coração.

A escolhida para este post, foi marcante por trazer consigo o toque incandescente, venenoso e ácido da perversidade...

A história do escorpião e da rã.

"A correnteza do rio estava muito forte e uma rã encontrava-se em uma margem, com muito medo de atravessar para a outra sozinha.
Sentindo a agitação da rã, um escorpião que se escondia por perto, se ofereceu para fazer a travessia.
A rã não aceitou, seu instinto de sobrevivência falou mais alto e sua negativa foi imediata, o que ateou mais fogo ao desejo do escorpião que passou a elaborar uma forma de convencer a rãzinha. Ele percebeu que para conquistá-la, seu argumento deveria se direcionar à transformação do temor manifestado na resposta automática da rã de que ele a mataria. E de fato fazia sentido, afinal era instinto contra instinto, o que exigiu do escorpião o uso bem dosado de lógica e de lisongeio.
Ele disse que não a mataria ao menos durante a travessia pois a correnteza de fato estava muito forte e ter que carregar o peso morto da rã acabaria por matá-lo também.
A rã titubeou e ele arrematou dizendo que a rã poderia saltar muito antes da travessia terminar e graças às suas magníficas, longas e musculosas pernas ela estaria fora de perigo antes mesmo do fim da empreitada, colocando-se a salvo muito antes do escorpião estar de volta à terra firme.
O sorriso e a euforia da rã deleitaram o escorpião, a vaidade por ter sua inteligência e seu talento respeitados e elogiados a convenceram rapidamente.
Quando a travessia já se dava pelo meio do rio e as distâncias das margens eram impossíveis de serem vencidas nem com o mais magnífico dos saltos, o escorpião ergueu sua calda magestosa e estocou precisa e implacavelmente as costas da rã montada em seu dorso.
Com o veneno se espalhando rapidamente por seu frágil e pequeno organismo a rã ainda conseguiu perguntar o porquê do escorpião ter feito aquilo, como ele mesmo havia dito, ao que o escorpião prontamente respondeu com voz sublime: - Esta é a minha natureza!"

Pausa para quem não conhecia esta fábula poder sentir o toque incandescente, venenoso e ácido da perversidade.

(...)

Refletindo: eu gosto do ser humano e amo ser mulher! Quero deixar isso bem claro por aqui mais uma vez! O título deste blog (Sizihgia) se refere às energias masculinas e femininas misturadas em nós é verdade! Mas o feminino é o ninho de todas as minhas emoções e desejos. A vaidade, os sonhos, a energia, a beleza, o espírito feminino deixam a minha alma satisfeita todos os dias tanto no êxtase da conquista quanto no fracasso da derrota. Me orgulho de ser mulher pelas tantas irmãs que vieram antes de mim e pelas gerações futuras que vejo crescer todos os dias em minha família, na família dos amigos e na escola e nos tantos outros espaços em que tenho a oportunidade de observar.

Mas há certas mulheres que me envergonham.

Eu admiro os homens em seus papéis difíceis de serem cumpridos em pleno século XXI. Minha admiração vem das dificuldades que eu vejo muitos deles tentando vencer desesperadamente. Algumas vezes acredito que ser homem no século XIX aparenta ser mais fácil do que hoje com esse fogaréu de tantos séculos de repressão lançando muitas mulheres em verdadeiros tsunamis de sexualidade pra cima deles. Deve ser difícil quando se decide resistir, já vi alguns casos. Acredito que também deve ser difícil dar conta quando se decide apreciar, já vi muuuuuitos casos.

Também há certos homens que me enojam.

Não estou mais nessa "parada" de dizer que homens são todos iguais, ou que mulheres não prestam, ou que todo mundo não presta e essas conversas de bar regadas a cachaça e Reginaldo Rossi.

Todos temos os nossos momentos de nobreza e "cafajesteza". Percebo alguns homens e mulheres com uma dosagem maior do primeiro que do segundo, outros com o segundo em dosagem maior que o primeiro; poucos sabendo equilibrar e muitos que pensando que sabem equilibrar e perdendo num piscar de olhos tudo o que tinham com a estocada fatal do escorpião dada e/ou recebida.

Vejo com esse olhos porque acredito em algo que nessa história toda é implacável, indiscutível e inexorável: o equilíbrio do sistema.

Todas as anomalias tendem a se reequilibrarem com o tempo até a ordem ser reestabelecida para que o caos possa retornar. Cientistas de diferentes áreas do conhecimento, dogmas religiosos e ditos populares abordam este princípio de formas diferentes. O que parece bastante lógico, afinal o eterno caos nos extinguiria e o eterno equilíbrio nos mataria de tédio.

Vejo a face do caos muitas vezes por dia para temer que a extinção talvez esteja no horizonte de um futuro concreto, mas ainda luto por manter em mim a crença de que o equilíbrio ainda se fará valer em algum momento.

Acredito nos que se aproximam de mim e ainda me ofereço para a estocada mortal em alguns casos, mesmo sabendo da provável natureza de quem a mim se apresenta com tanta reverência, presteza e elogios... Mas não me iludo mais! Sei que ela virá! É uma questão de esperar, afinal somos todos rãs e escorpiões na sizigia do masculino e feminino cheio de amor e com sede de vingança que habita em nós. Logo... Tudo não passa de uma questão de saber esperar e tentar se preparar.

Esse é o final de mais um inverno que se aproxima. A armadura junto ao corpo suado e coberta de sangue e lama da última batalha range nos últimos passos rumo ao ocaso de mais uma jornada que termina. É triste saber que a evolução é lenta, pouca e quase imperceptível. Os erros ainda se repetem e a estocada ainda me pega desprevinida por uma fração de segundo.

Em alguns momentos ao menos consigo ver que ela está prestes a acontecer, em outros até consigo senti-la com certa antecedência, na argumentação tão convincente e no elogio tão falso do início que me fazem sorrir debilmente. Mesmo assim vem a sensação do que se esconde lá no fundo... Já consegui escapar de uma ou outra situação dessas a tempo algumas vezes... Mas em outras vezes ainda acontece... Afinal eu ainda acredito que um dia essas tristezas vão deixar meu caminho e meu coração.

Provavelmente ainda vai levar um tempo para eu ter essa paz, essa segurança, essa certeza e aprender a não mais sucumbir e finalmente saber declinar e me retirar.

Esse é o amor por nós mesmos que os livros de auto ajuda não ensinam de fato, porque o caminho para atingi-lo é longo, penoso, solitário e difícil demais para ser resumido às páginas de um livro ou seguido por alguém que espera resultados imediatos.

Trata-se de uma vivência inteira.

Para mim, trata-se de um sonho!

O dia em que vou poder parar de deletar pessoas da minha vida porque elas não conseguem vencer sua natureza e porque eu venci a minha natureza vaidosa de ainda querer acreditar nelas.


Não vou desejar uma boa travessia a todos porque não é!
Já morri muitas vezes e carrego comigo todas essas cicatrizes e feridas algumas ainda abertas.

Apenas desejarei que aquele(a) que lê este post saiba do que estou falando e que no momento certo ao menos perceba o que está escolhendo ser e fazer, quem sabe até ciente das consequências dessas importantes coisas. E isso já é desejar demais!

Abraço a todos!