sábado, 6 de agosto de 2011

A cela do destino

Após tantas e longas reflexões sobre o que posso chamar de meu caminho espiritual e dado o momento atual ser bastante propício, me atrevo a tocar nesse assunto tabu e clichê "do caramba", iniciando com uma das idéias relacionadas: O Livre Arbítrio. Trata-se de um conceito que transcende religiões.
Mesmo em seus dogmas mais terríveis e em suas variações mais fundamentalistas, as religiões aparentemente estão em acordo: a alma tem o direito a escolha. O que difere é que uma vez feita e - muito provavelmente a "burrada" consumada - como será paga a conta!
Recordo-me deste assunto ter sido abordado por aqui algumas vezes ao longo dos anos deste blog.
E como também gosto de frisar - sou aquariana, logo, rebelde às regras e sentenças. Logo vez em quando minhas fúrias galopam por aqui, como alguns posts já demonstraram!
Uma das situações em que procuro suavizar a rebeldia, a carga dramática de falar sobre destino, sobre o direito de escolha do caminho a ser seguido e a paga pelos erros é quando leio cartas de tarot.
Ao interpretar este tipo de oráculo, é dever frisar ao consulente de que a interpretação feita na leitura não é fechada. Para isto deve-se fazer uso de expressões adequadas como: "há uma forte inclinação", "uma forte possibilidade", "grandes chances", "o cenário colabora" e outros cuidados.
A idéia central é a de que nada é irrevogável e que tudo passa pela interpretação, entendimento, desejo e escolha.
Porém, com o passar de todos esses anos e enganos, tenho a percepção que a despeito de toda essa aparência de liberdade que nos é dada, de alguma forma a sequência dos acontecimentos nos traz exatamente para o lugar onde "devemos" estar. Temos a ilusão de termos o controle absoluto, mas trata-se de uma ilusão passageira. Logo os velhos fantasmas, as antigas dúvidas aparecem novamente e somos postos a prova outra vez a despeito de todos os nossos esforços para provarmos o contrário.
O velho golpe do destino para os fatalistas! A inteligência perversa dos Deuses para os pagãos!
Às vezes leva um pouco mais de tempo para percebermos a sutileza com que este mecanismo funciona... E em outras é confuso perceber em que momento deixou de ser a nossa decisão e passamos a apenas fazer o que foi previsto pela força maior... Todas as possibilidades se misturam e batemos o pé gritando que temos o controle de nossa vida e de nossas escolhas... Passamos muitos anos insistindo nisso. Muitos de nós passam a vida inteira! Vidas inteiras, para os crentes na reencarnação!
Eu escolhi estar onde estou hoje, todas as escolhas foram minhas! Passei por cima de escolhas de outras pessoas, de seus sonhos e dos meus próprios até! Ignorei pedidos dos que me amavam e/ou dos que diziam que me amavam e fiz só o que eu queria. Me martirizei porque eu queria. Fiz pessoas sofrerem por que quis. Me vitimizei porque eu queria. Fiz com que outros sofressem por meu querer. Muitas vezes tive oportunidade de escolher parar de sofrer, parar de fazer sofrer, mudar de curso, transformar completamente o meu jeito de ser, declarar independência dessa vida que decidi viver com romantismo excessivo e altruísmo.
Mas eu não o fiz. Eu me atei a causas perdidas por anos da minha vida, por puro medo de tomar uma decisão pela mudança. 
E quando vi a mesma sequência de coisas se repetindo, os mesmos fantasmas e dúvidas surgindo, ri de minha própria tragédia. Tentei enfrentar achei que fôsse a batalha da minha vida! Fui com unhas e dentes. Mas não consegui. O medo venceu de novo. Me coloquei no mesmo papel de vítima de tantas outras vezes e carreguei um fardo enorme em mais uma cena shakespeareana versão latino-americana!
Até que meus deuses interiores - aqueles que o verdadeiro paganismo te ensina a crer que habitam dentro de você - me chacoalharam: "Tem certeza de que este é o único caminho?"
Vozes em coro sacudiram as paredes do meu corpo, da minha alma, do meu ser! Todas as faces da Deusa e do Deus que habitam em mim responderam alto e claro o sonoro "Não!"
Não precisa ser assim! Não tem que ser uma sentença! Não tenho que me matar! Como se não houvesse uma chance, uma oportunidade, uma escolha!
É neste momento que a inteligência superior se mostra muito maior na forma dos ensinamentos mais antigos do caminho mágico:
A escolha está no que foi pedido, se é sabido o que pedir,
No que é dado, se é sabido como interpretar,
E no que é aceito, se for de sua vontade!
Se não souberes pedir, desastre!
Se não souberes interpretar, erro!
Se não for de sua vontade! Liberte-se!
Seus demônios te encontrarão de novo em outra senda!
Não é preciso morrer nesta queda em que está agora! Nada é circunscrito ou fechado!
Todos temos sim o direito de escolha! Mas nossas escolhas são um perfil típico, ocidental, capitalista, judaico-cristão maldito! Por mais que tentemos nos livrar desse jugo cultural acabamos retornando ao mesmo lugar achando que foi castigo (também com um perfil quádruplo desses!).
Eu escolhi viver! Com saúde! Me refazer! Interpretar melhor, entender melhor, desejar melhor e finalmente escolher melhor!
Isto é, creio eu, viver com competência!
É não aceitar a ofensa, a agressão, a humilhação, calada por medo de reagir, por não querer lutar, pela exaustão, pela paixão pela martirização como se esta trouxesse alguma compensação!
Por tantos anos humilhada, enganada, exposta por uma lista infindável de covardes!
E sei que muitos conhecem essas histórias! Toda essa papagaiada de bullying é só uma reação tardia aos horrores praticados a muito mais tempo do que se imagina!
Eu sei o que é o silêncio dos que se calam quando houvem os gritos no banheiro da escola, o que é a ameaça velada te fazendo tremer de medo de perder o salário miserável que recebe, eu sei o que é ouvir alguém desonrando sua família, sua crença, seu sexo, seu caráter e ninguém, nem o mais metido a valentão, abrir a boca por temer perder a sua condição de explorado tanto ou mais do que você!
Ah eu sei muito bem o que é deixar o corpo mole e esperar pararem de te bater, fazer cara de paisagem e concordar com tudo até pararem de gritar com você, esperar que vão embora e não dizer nada apenas calar e se distanciar até que desistam de te procurar só pra aproveitar-se de sua fraqueza mais um pouquinho...
Sei também que o apoio desaparece, que todos partem, mudam de idéia, fecham os olhos, mudam de assunto, esfriam o olhar e a voz. Dizem que você enlouqueceu, que confundiu as coisas, que exagerou, que podia ter aguentado um pouco mais!
Deveras mazelas de latino-américa, quem pega em armas perde a razão, quem reage perde o argumento, ser de paz é calar, é consentir, é esperar acalmar... blá-blá-blá...
Eu entendo a todos! Sei o que é viver com medo! Mas sei também que não tem perdão! Pois como para mim a lei do eterno retorno veio para eles também virá ao sabor do sopro dos Deuses é claro! E, se pelas estranhas voltas da roda da espiral da vida, vierem me pedir ajuda verão em meus olhos a coragem que não tiveram para comigo!
Esta é a história de uma vida inteira de ataques e da amargura pela vontade de reagir engolida por anos a fio!
A história de alguém que se cansou de ser atacada e calar-se por acreditar que seria incapaz de sentir fúria em nome da cultura da passividade e da subserviência latino-americana. Alguém que tanto ouviu e disse terminologias clichê do tipo:
"A vida é assim mesmo!"
"Fazer o quê?"
"Paciência!"
E finalmente reagiu:
"Você não pode ser cruel com quem te apóia!"
"Você não vai mais me calar pela humilhação!"
"Esta é a minha fúria! E eu tenho direito a ela!"
Chega de ser uma vítima do destino... Esse é a minha escolha! Este é o arbítrio livre que quero para mim!
Quero lutar pela defesa da minha honra! Basta de viver me arrastando novamente nas mãos de mais um covarde que, como todos os covardes que se prezam, me identificou como uma depositária de suas frustrações e rapidamente me fez cativa por ver meu medo e minha incapacidade de reagir!
Mais um covarde que por se achar inteligente o suficiente para me subjugar se fazendo de mestre achando que eu não percebia a verdade, me achando fraca o suficiente para iniciar mais um ciclo de exploração absurda e sem limites à me levar ao martírio extremo!
Finalmente eu quero fazer a escolha que adiei por tanto tempo e a tantos covardes atrás...
Seja qualquer outra escolha que eu venha a fazer, sou livre! O Destino não é sentença! Repito tudo isto mais uma vez neste texto libertador da cela do destino!
Reforço que mesmo sendo livre e fazendo o que sempre quís, as escolhas acabaram me levando a mesma encruzilhada que minha alma tanto temia e com a carga das tintas um pouco mais forte. Bem mais forte!
Mas eu também me fortaleci na fúria dos Deuses que habitam em mim!
Estou pronta! Pode vir!
Abraço e boas escolhas e encruzilhadas a todos!