segunda-feira, 11 de maio de 2009

Il Ballo de Maschera

A pouco tempo fui convidada para um baile de máscaras veneziano.

Confesso que tive um pouco de hesitção.
Já são tantos os mascarados que encontramos por aí não? Como seria lhe dar com pessoas por trás de máscaras de verdade, confeccionadas com materiais reais, cheias de adornos e brilhos que ocultam suas faces, seus nomes, suas fisionomias, transformando seus olhares.

O olhar é a primeira coisa que me cativa ao travar conhecimento com alguém. É claro que nem todos os olhares arrebatadores que recebi eram de pessoas que condiziam com o ar que tanto se esforçavam por transmitir. Por outro lado, olhares tímidos já se transformaram em histórias que até hoje ainda se desdobram calorosamente.

Uma máscara impulsionaria muito mais!
Nela os olhos teriam outra moldura, a fisionomia que envolve o olhar sumiria e então os olhos e o corpo saltariam. Daí o medo!!!! Os desejos poderiam simplesmente ser libertados na forma de uma verdadeira inundação. A mente ávida como sempre, rapidamente preencheria as lacunas com seus próprios desejos e tudo eclodiria sem controle noite a dentro.

Quanto temor!

Imediatamente comecei a sonhar com as pessoas as quais eu gostaria que estivessem em um ambiente desses... E evidentemente como preencheriamos nossos anseios...

Foi então que me lembrei da ópera Un Ballo de Maschera de Giuseppe Verdi, meu amado giovanni italiani! Trata-se de uma versão mais leve da história do assassinato do Rei George III da Suécia. A trama que culmina com o assassinato do próprio rei no ápice da festa.

Mais temor!

Tirar proveito de boas situações para atingir objetivos escusos pessoais tem sido um modo covarde de viver bastante usado nestes dias. Muito do antigo é recriado com uma fachada contemporânea mas com cerne comum: a perversidade humana.

Não conversamos, esperamos o outro falar para chegar a nossa vez.

Não ajudamos, tentamos resolver rapidamente a situação do outro para que ele se sinta obrigado a nos ajudar.

Não aconselhamos, aproveitamos a situação para aquela alfinetada que queríamos dar e aliviar uma mágoa antiga que não se cura.

É claro que isso não se aplica a tudo, nem a todos e muito menos a todos os momentos. Mas o lado perverso pode aflorar e então as possibilidades podem ser enormes de que alguém realmente se machuque.

Portanto o baile reaviva o glamour do passado, mas a proposta se encaixa absolutamente nos dias de hoje como tudo o que é recriado nesses tempos de falta de originalidade absoluta de roteiro, de ter o que dizer, de realmente fazer algo de concreto e original.

Sem temor.

É apenas a mesma coisa de todos os dias só que em uma ocasião mais festiva, cheia de glamour. Nada que não façamos na cara de pau mesmo!

Adorei!
Gostaria muito de ter ido!
Mas o Il Ballo de Máscaras da vida de verdade chamou mais forte desta vez!