domingo, 21 de novembro de 2010

A Longa Partida de Neptuno

A longa partida de Neptuno

Segundo consta do calendário de efemérides astronômicas (dia, hora e trajetória dos astros pela esfera celeste), a passagem do planeta Neptuno pela constelação de Aquário está em curso desde 1998 e terminará em 2011.

Todos conhecem os embates entre a Astronomia e a Astrologia e o quanto é desgastante abordar esses confrontos entre o discurso científico e o esotérico ("Discurso? Esotérico?" Uivam os céticos!).

No terreno do conhecimento da astronomia a faixa de tempo apresentada é absolutamente crível, afinal, após a destituição do pobre Plutão, Neptuno é o último registro orbital planetário em torno da Terra. Bem, isso é fato ao menos até o próximo telescópio abrir a sua lente super poderosa e botar tudo a perder outra vez com a visualização de outro corpo celeste pertencente ao anel exterior do sistema solar. O que é ponto pacífico mesmo é que, devido à sua distância em relação ao sol, a translação de Neptuno leva 164 anos terrestres e sua passagem pelas constelações do zodíaco é lenta quando comparada à translação do planeta Terra ou ano terrestre.

Porém, quando seguimos rumo ao conhecimento astrológico do conhecimento, esses mesmos dados podem ganhar ainda maiores possibilidades de leitura e interpretação. Que gritem os céticos, mas o arcabouço cultural embutido nas figuras e nomes que representam os astros lhes trazem enriquecimento agigantado e ainda mais emocionante e envolvente.

Por isso não concebo essas ciências separadas. O significado do aguadeiro, símbolo da casa aquariana, indicando a estação de chuvas para os povos do Egito antigo, associado ao deus romano Neptuno podem fornecer uma perspectiva de interpretação ainda mais rica, como de fato fornecera para os povos antigos que criaram esses seres mitológicos e suas histórias maravilhosas, em tempos onde a ciência era a soma de todo o conhecimento humano e não uma separação estanque e aleijada das partes que a compõem.

Em minhas conversas com os tantos que me procuram para tirar dúvidas sobre essas terríveis separações do conhecimento e suas restrições, gosto de citar o embate das duas ciências nos estudos sobre Júpiter, cuja face oculta foi revelada somente no final dos anos 70 do século XX com a passagem da sonda Voyager 1, trazendo à comunidade científica o conhecimento a cerca dos fantásticos raios azuis recorrentes do lado oculto de sua atmosfera marcada por tempestades de proporções incríveis.

Tanto os gregos como os romanos sempre representaram os fantásticos Zeus e Júpiter, respectivamente, como figuras humanas com muitas histórias de suas experiências entre os humanos. As imagens de suas fúrias apareciam marcadas por fisionomia que indicava temperamento aflorado, intempestivo, muitas delas com raios nas mãos, prontos a serem lançados quando contrariados ou contra seus inimigos.

Não acredito em coincidências, mas meu coração para quando penso nessas escolhas representativas e questiono: por que características como essas foram escolhidas como parte da representação específica desses deuses? Como esses raios registrados na face oculta do planeta Júpiter já encontravam-se representados nas antigas representações do deus Júpiter? Como foi possível que esses povos tivessem uma associação tão próxima de uma das características reais do planeta constatadas apenas no século XX de nossa era, identificada com a precariedade de suas técnicas de observação celeste datadas de dois mil anos atrás? Será que realmente dominamos o conhecimento dos avanços e retrocessos da evolução do estudo dos planetas? Será a evolução tecnológica um privilégio apenas dos observadores de corpos celestes modernos e contemporâneos?

São muitas inquietações que me afligem a mente quando se trata destes assuntos. Assim como a mesma tecnologia contemporânea e sua rapidez e avidez em invalidar o extenso e profundo trabalho dos grandes estudiosos do século passado e dos anteriores. É desconcertante ler nos boletins astronômicos e nas capas de revistas de "varejo de conhecimento" a desconsideração do fantástico arcabouço mitológico milenar, cujos estudos são verificados a milhares de anos na história da humanidade, e o desrespeito de seus contemporâneos caçulas monoteístas e suas estruturas rígidas e escravas de aparelhos de plástico com lentes poderosíssimas.

Não me atrevo a generalizar como banal toda a poderosa rotina milenar de culto aos Deuses, praticada dia e noite, a cada lunação, a cada estação e por milhares de seguidores que tanto se preocupavam com suas histórias, suas características, habilidades, paixões, amores e fúrias.

Não quero ser mais um desses seres que se dizem humanos e que realmente acreditam que são os únicos em toda a história de nossa existência a descobrirem o cosmo, a viajarem por lugares ermos, a passarem por temeridades, a realizarem experimentos extraordinários e num ato de egoísmo absoluto, simplesmente desconsiderar gerações e gerações de desbravadores do conhecimento que tem acumulado extraordinárias produções ao longo de nossa história, apagando toda esta riqueza em nome de gerações ambiciosas, tacanhas e seus valores estanques inconsistentes que vieram tanto tempo depois.

Acredito em uma conexão desses fatos, generosamente oferecida pela mão estendida dos Deuses para o nosso mundo, nos dando uma chave para a abertura de uma das portas mais valiosas do conhecimento contido no mundo antigo e esquecido pelas vias tradicionais e estanques contemporâneas de estudos do Cosmo.

Neptuno deixará minha casa aquariana ao final do próximo verão. E, diante de todo o verdadeiro furacão que tem atravessado a minha vida desde a entrada da primavera, sinto sua saída em meus poros, nervos e sinapses todos os dias.

O domínio dos mares executado por Poseidon e Neptuno é também muito latente no arcabouço mitológico grego e romano. As fúrias de Poseidon arruinaram Odisseo em sua obcessão por se julgar mais inteligente que os Deuses, de acordo com a leitura de Homero. Na astrologia o Deus romano Neptuno dá nome ao planeta que rege nossa capacidade de transcender o mundo material a partir da fluidez dos oceanos da mente. Seu domínio prolongado pode externar seu lado oculto. Como ocorre com todos os Deuses. No caso de Neptuno em específico, pode levar a longas doses de ilusão e uma tendência enorme em se afastar da realidade a partir da criação de arquétipos falsos e valores equivocados ou pervertidos de vida e felicidade.

Sou uma das mais terríveis e iludidas variações de aquariana e sinto o alívio de todas as minhas ilusões partidas. A quebra em cascata de vários padrões e princípios de vivência, transformou minhas emoções em um verdadeiro mar de lágrimas nas fúrias tempestuosas de Poseidon e hoje náufraga e desterrada; reconstruo meus valores com os músculos mais endurecidos e com a mente melhor compartimentada.

Minhas certezas caíram todas e agora eu as reconstruo lentamente sobre bases mais fortes, aguardando a partida do deus dos mares e agradecendo orgulhosa por ter vivido sob seu jugo que tanto me ensinou e me ensina sobre a preciosidade entre o sonho e a realidade e como navegar sem me perder na euforia de um e na crueza do outro.

Agradeço a Neptuno pela alegria de navegar em suas águas e me entrego feliz ao atracadouro e à roda do destino, aguardando pela próxima etapa com minha fé reconstruída. Caminhar entre a ciência e a espiritualidade não é nada fácil. Percebo que muito mais fácil é escolher apenas um e atacar o outro, lançando um olhar de uma só camada sobre tantos mundos uns sobre os outros e por dentro dos outros, se conectando entre si e conosco o tempo todo, ignorando seus sutís e inteligentes sinais na ilusão de que estamos sós e toda a decisão é apenas nossa, regida pelos valores do nosso tempo.

É mais simples caminhar obtusa pelo mundo, mas essa nunca foi a minha escolha. Minha mãe já me contava das minhas longas conversas com as flores do caminho até a casa da minha avó na primeira infância e me orgulho muito de ser a menina que de acordo com a maioria dos meus professores “vive no mundo da lua”, como já foi citado aqui tantas vezes.

Estou feliz com a passagem de Neptuno, faço as pazes com o planeta, sua regência e as faces dos Deuses que ele representa, aceito os delírios aos quais me entreguei sem pensar, guardo minha lições tomadas ao longo do processo e falo dos acertos e erros com muita honra e felicidade.

Mas anseio muito pela próxima etapa, assim como os que estão comigo e acompanham minha jornada com carinho e atenção também anseiam por essa transformação que já está em curso. Não lamento pela tristeza dos que deixaram e estão deixando o meu caminho e celebro a alegria dos que já estão chegando com todos os cuidados que se fazem necessários.

Desejo boas passagens, intensas alegrias e tristezas, profundas ilusões e realizações a todos. Estou convencida de que da lágrima ao êxtase, estamos sempre melhorando nossa condição ao longo caminho de nossa existência e toda a vivência se torna muito importante.

Abraços cósmicos a todos!

Lix