Como quase todo mundo sabe, gosto de posts com uma trilha sonora para acompanhar.
Quase sempre sugiro algo para meus leitores como música de fundo para a leitura, muitas vezes porque letra, música e arte se misturam com a vida e por isso, tal música combina com tal momento e tudo o mais, como uma legítima trilha sonora cinematogáfica deve ser!
Mas a verdade é que a minha mente custa a ficar em silêncio.
Não sei se isso se deve à radiola e à vitrola sempre presentes em minhas memórias de criança mais antigas, talvez se deva também ao surgimento dos clipes de tv para os grandes sucessos do rádio e dos discos nos anos 70, que me fascinaram desde Penny Lane dos Beatles. Ou se foi Tommy, a ópera rock mais fantástica que já assisti na vida! Mas raramente minha casa está em silêncio, raramente estou sem fones de áudio em meus ouvidos, mesmo que seja para buscar pães na padaria e quando a bateria descarregou e estou longe de casa, em poucos instantes a mente abre seus arquivos e sempre salta a música perfeita que vai direto para a boca, vergonha no ponto de ônibus.
Sei lá... Talvez seja fake... "Poser!", grita a concorrência... Talvez seja só o meu processo... Já cansei de investigar tudo o que é comportamento recorrente e meu! Quer saber? Cansei de bancar a psicóloga de almanaque comigo mesma! Eu vivo num clip, num filme do tipo musical mesmo! E pronto!
Pois é! É tempo de celebrar! Aliás a semana toda foi uma celebração leve e constante, como que voltando para um ideal de vida mais elevado, leve, cristalino... De novo... Como diz a belíssima letra da canção.
Hoje, finalmente cruzado o obstáculo, consigo ver com a adrenalina baixando suavemente a cada dia a simplicidade da vidal Aquela que sempre percebemos após as grandes batalhas. Gostaria mesmo de ter essa visão nos momentos difíceis do caminho, mas aparenemente isso faz parte da nossa memória animal fadada a repetir os erros do passado esquecido.
Quem está na tempestade custa a se lembrar dos céus azuis e ensolarados dos dias felizes. E uma tempestade de tantos anos de fato custa a se desfazer na mente e no coração.
Talvez por isso tenha demorado tanto. A cobrança de quem se encontrou no caminho tendo como resultado uma busca sem fim pela excelência. Um questionamento sem fim, um fazer e refazer trabalhos, ler e reler bibliografias, fazer e refazer trabalhos de campo, tudo em busca de excelência. Por isso e tantos outros excelentes issos mais, conta-se da concepção à finalização do projeto de graduação: 10 anos!
Caramba! Hoje já poderia ser doutora! E assim como enrolei magnificamente nos textos deste blog para tocar neste assunto, enrolei ainda mais magnificamente para entregar e defender meu trabalho de conclusão de curso de bacharel em geografia.
É gozado conversar com os colegas de departamento sobre isso. Os que já defenderam concordam que o alívio é incrível, mas que as dores da pós-graduação são ainda mais terríveis e portanto, incomparáveis. Os que ainda não defenderam vidram os olhos e se calam, no pânico de saber que mais um colega "empacado" já defendeu e que agora a situação vexatória é só dele e que ele não tem mais o velho companheiro para chingar o departamento, a faculdade a universidade e a vida, só para desabafar e escapolir das velhas frustrações.
Foram dez longos anos de fuga e retorno, de viagens de campo e viagens de fuga, de amores ganhos e perdidos para a pesquisa. Sou a piada da turma, a curiosidade pitoresca do momento no departamento! Mas pouco importa. A leveza com que sinto a vida transcorrer pelos dedos de minhas mãos agora não é mais a tristeza de quem perde o nectar da vida, com as palmas viradas para cima e sim quem tem as mãos em forma de garra com a palma virada para baixo, escalando uma verdadeira queda d'água de felicidade.
Disposta a pagar pelo que não aproveitei e pelo que não fiz, eu volto à alta roda da vida, como canta a música de Steve Windwood. Volto com mais idade, mais kilos sobre os ossos e medos mais paralizantes do que nunca! Porém com a mente leve de quem apenas quer chegar sem se importar mais quando.
E para todos aqueles que se sentem em débito consigo mesmos de alguma forma. Sejá lá um vestibular, ou mais. Um curso que não terminam, um casamento que não encerram, um filho que não assumem, uma verdade que não aceitam, ou tantos outros fantamas que nos caçam, digo que não se preocupem. Saibam de alguém que fugiu da vida por uma década que também é possível chegar, mesmo mais tarde, mesmo pra lá da metade do jogo. Saibam também que muito provavelmente não será nem um minuto a mais nem a menos do que deveria ser. E saibam ainda que a chegada se dará na forma de alguém que certamente sabe do valor do que alcançou e saberá valorizar o que vem muito mais do que todos os outros que passam pela vida tão rápido que nem a viram passar.
É claro que as custas da fuga foram, são e serão sentidas por muitos anos, talvez pelo resto da vida, muito provavelmente. Mas não se cobrem, há os ganhos dos outros caminhos percorridos e certamente são pontos que também são computados na corrida da vida, apenas de outra forma.
Aqueles que apenas se preocuparam em chegar primeiro também tem seus méritos e defasagens. Ouça as críticas com compaixão, eles também terão esta preciosa visão algum dia.
Aqueles que apenas se preocuparam em chegar primeiro também tem seus méritos e defasagens. Ouça as críticas com compaixão, eles também terão esta preciosa visão algum dia.
Quanto a mim, ainda estou na maré de sizigia da euforia, vendo o dia passar com o doce som da calmaria, assistindo ao brilho da esperença voltando a deixar cair o véu da paz sobre as coisas perturbadoras da vida. Um verdadeiro bálsamo merecido, sem esquecer porém que muito em breve o véu se erguerá e um novo desafio se cristalizará no horizonte para ser vivido pelo guerreiro em mais um bela batalha pela evolução!
Abraços armados!
Angélica