sábado, 30 de abril de 2011

Fúria Urbana

Caminhando pela Avenida Paulista.





Com a fúria na altura das antenas de transmissão, atropelo todas as energias que encontro em meu caminho!





Praguejo, grito, rio, choro!





Paquero, mostro a língua, dou um beijo de repente um qualquer que me olha atraído pela beleza das fúrias que estão comigo! A galera toda do bar grita!





Quando ele começa a corresponder vou embora!





A galera toda vaia!





Meu companheiro de caminhada fica extasiado!





Não sinto nada, só a fúria a me devorar os fluidos da mente até os ossos!





Percebo que estou no lugar certo e a hora não podia ser melhor! A noite cinzenta de outono e de fuligem cai rápida sobre a cidade , carros enlouquecidos, pessoas com roupas de lojinha que parcela em 15 vezes roupinha de executivo, estudantes de faculdade, estudantes de cursinho, tatuados, skatistas, gays, lésbicas. Todos com um olhar altivo incertos do que querem, mas certos do que precisam aparentar! Rio deliciosamente! "A mesma coisa! Vinte anos depois a mesma coisa!"





Sim estou no lugar certo porque estou na contra mão de todos eles, esbarro encaro, rio da cara. Carrego nos olhos apertados e no sorriso debochado a raiva de quem sabe o que quer mas que não consegue porque o mundo é povoado de gente como eles!





Covardes! Todos! Tão empenhados em aparentar o que na real não sustentam por mais do que uma hora! Exatamente aquela uma hora que levei para atropelar tudo para atravessar a avenida Paulista no início da noite. Tudo é passageiro no mundo pós-moderno globalizado multimídia última versão super tecno business just int time! Porque é isso que permite às pessoas sairem de cena assim que a máscara começar a cair e a verdade decepcionante começar a aparecer! Tudo é um show instantâneo! Várias palavras inteligentes para mascarar mais uma farsa! Não há nada de novo! Nada de revolucionário! É o velho blefe disfarçado com uma fachada super power high tech!





A maior de todas as farsas!





Debaixo de toda a fachada de pessoas livres, independentes, criativas e donas de seus destinos está a grande verdade! A maior de todas! Tudo o que mais querem é alguém a quem pertencer! Tudo o que mais querem é algo do qual fazer parte! É sucumbir ao amor, à preguiça, à ignorância, à alienação e à acomodação.





Todos farsantes!





Eu já fui um deles!





E hoje ando na contra-mão de todo esse discurso falso do se amar, se gostar, se valorizar e assumir a verdade sobre o que quero: amar, gostar, valorizar quem sabe de toda essa farsa e não tem vergonha de admitir que precisa das mesmas coisas vindas de mim!





Fúria total pela calçada da avenida Paulista!





Gargalhada total de toda aquela encenação gigantesca!





Choro louco, beijo enlouquecido no cair de mais uma noite na cidade!





Fúria de quem é honesta consigo mesma, com o que sente e quer e que portanto tem todo o direito à fúria sagrada a ir e voltar pela mais conhecida de todas as avenidas da cidade até se acalmar e voltar para casa na madrugada ainda com fogo nos pulmões e palavrões em gaélico nos lábios, mas satisfeita em ser única e ter o direito a ela! Até que alguém apareça e me prove o contrário!





Beijos furiosos a todos!