quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sizihgia na Balada Flashback

Essa história de voltar para a balada abriu certas portas na minha mente sabe?
Pastas antigas, recordações.
Tempos que eu chamava de "Tempos de Elevados Índices de Auto-destruição".

Deixa eu introduzir o assunto, afinal não é tão simples assim. Eu não saí pra balada só pra me destruir porque eu simplesmente decidi isso. Não! Sempre há uma força que te impulsiona a atos como este: a auto-destruição. E no meu caso foi o da maioria dos pobres mortais:

Um amor desgraçado!

Isso mesmo! Todo mundo tem um cafajestão na sua vida! Um maldito que cospe o teu amor de volta na sua cara e te intoxica com uma montanha russa de sentimentos tão grande que é impossível não viciar. Todo mundo passou por isso. Se não, vai passar... É só uma questão de tempo. (hahahahahahhahahah!)

Acredito que essas facetas do masculino perverso (calma aew porque eu tenho o conhecimento que o perverso feminino tem igual potência destruidora, mas esse é um blog meu e eu sou feminina portanto...), são aspectos mal resolvidos do nosso masculino dentro de nós (e vice-versa portanto). São coisas mal resolvidas na sizihgia dentro de nós (dúvidas leia o cabeçalho do blog por favor). Masculinos mal resolvidos internamente nos seres femininos desencadeiam essas coisas. Desespero por figuras excessivamente masculinas, sem feminino algum e que dão a false impressão de atração magnética dos polos invertidos. Não somo pilhas, somos seres humanos! Temos que resolver essa polaridade dentro de nós e não com o sexo oposto!

Pois é... Nessas! Anos luz longe de chegar a essa conclusão que é a luz da minha vida afetiva atual. Eu viciei no meu amor bandido por muitos anos. Isso mesmo! É dramalhão mexicano mesmo! Anos! Contando com o início das histórias, os desfechos, as mortes, ressurreições e cafajestadas (afinal ele não foi o único eu aprendi bastante e revidei sobre o próprio mestre), sem falar nas crises de abstinência até o desligamento final ao qual eu chamei de sublimação.

História comprida! Não dá blog! Dá livro! E dos grandes! Romance de fazer mocinha chorar! Conto outro dia! O que eu quero aqui é falar das sessões de auto-destruição. As tais baladas altamente destrutivas.

Elas ocorriam entre uma recaída e outra, uma morte e uma ressurreição do caso, um desfecho mequetrefo e um retorno em grande estilo. Um amor de tango, de Nelson Rodrigues, de Sid e Nancy,de vexame em festa de fim de ano, de Delegacia de polícia.

Por isso a auto-destruição. Para conseguir os picos de energia masculina sobre a feminina que eu tinha com aquele amaldiçoado ser, eu precisa do equivalente quando eu tentava deixá-lo.

Começava pelas roupas, pelo corte do cabelo e a cor das mechas, os sapatos. Tudo agressivo. Eu tinha que agredir porque era agredida. Óculos escuros sempre! Não importava a hora! Tequila sempre! Não importava a hora! Cigarros sempre! Não importava a hora! Balada toda a noite! Atirava o relógio por cima do ombro antes de sair de casa.

Varava as noites indo trabalhar logo em seguida e o encontrava sempre quando desabava do carro de ressaca ou ainda bêbada! Porque encosto que é encosto pinta no local de trabalho, pra acabar de estrepar com a sua vida em todos os níveis! E quando dava de cara com ele e com seu senho franzido pela estranheza de me encontrar cada vez mais auto-destruída eu me deleitava.

Passava a noite me estragando só para causar uma expressão cada vez mais perplexa, dar um sorriso ainda mais jocoso e sair rebolando e me escorando nas paredes com um sex appeal cada vez maior. Ainda não sei quem eu matava mais, se era ele de desejo ou a mim e minha alma feminina de desgosto por me contentar com tamanha mediocridade.

Meu cenário favorito era a mesa de um rock bar bem alternativo, a maioria já nem existe mais porque como já comentei em histórias anteriores que essa fase "baladeira" é antiga. Bebia sempre tequila, trazia um charuto na bolsa. As amigas acompanhavam e os homens nas outras mesas piravam. E nós chutavamos todos eles numa vingancinha juvenil, só para tentar aplacar a dor em nossos corações femininos, com elevado complexo de vítima por nossos algozes, os amores bandidos. Todas passavamos pela mesma maré!

Eram noites eternas, a hora não seguia devagar porque tudo não passava de uma agonia disfarçada. Me lembro que bebia tequila até a letargia amolecer os músculos e a ansiedade se tornar um tick nervoso distante, brincava com a fumaça dos tantos cigarros de diversos sabores, fazia pose, batia na mesa quando tocava Doors, Stones e Jimmy Hendrix e cantava aos berros desafinando com as amigas num coral lazarento de matar todas as mesas vizinhas de raiva. Tudo era exagerado, os risos, a voz, as piadas, as dancinhas, as frases feitas, as frases código, os movimentos. A ordem era chamar a atenção, cativar, laçar e chutar. E quando o auge chegava, lá para as duas da manhã, acendiamos o charuto e tomavamos a tequila pura, sem o ritual do limão e do sal que gostavamos tanto de exibir só pra enlouquecer os machos em volta chupando a mão com sal.

Depois do charuto, vinham os chutes finais nos teimosos que ainda não tinham sacado que ninguém queria nada com ninguém ali e finalmente começavam os papos bêbado-filosóficos. Ahhh essa era a melhor parte! Porque na primeira esculhambavamos com tudo, homens, mulheres, relacionamentos e afins. Depois começavamos a criticar com mais inteligência formulando teorias brilhantemente alcólicas. Lembro dos meus nervos se assentarem, de sentir prazer, de ver o dia raiar com um ar prepotente, uma certeza de que chegaria ainda mais altiva para trabalhar e encontrar o carcereiro dos meus sentimentos com mais deboche do que nunca.

Quando as amigas cansavam e não aceitavam meus convites, eu ia só. Encostava-me no balcão cheio de cabeludos, pedia tequila e tomava pura de virada, fazendo os caras delirarem, dava bola pra todo mundo, depois ia chutando todo mundo entre uma virada com limão e sal e outra pura, entre um cigarro e outro, fazendo pose quando eles acendiam seus isqueiros zippo. Até quase não ficar mais de pé, para então ir ao banheiro e me recompor com bastante água na cara pra tentar voltar pra casa. Caminhava pela rua feito um zumbi, rindo da alvorada e de mais um dia e mais um encontro com o maldito a quem eu dera meu coração.

Num desses dias, voltei ouvindo Red House Blues do Jimmy Hendrix no discman porque mp3,4,6,8 truco! Tava longe ainda...

Um Blues maravilhoso, digno de uma Blue Noite, mas que naquele dia caia bem para chegar em casa com o dia quase claro.

Lembro de ter comprado o jornal com o cigarro pendurado na boca parecendo o Keith Richards e da cara perplexa do jornaleiro com o meu estado, com os óculos escuros escondendo a pior parte do meu rosto devastado pela auto-destruição noturna.

Também me lembro da mudez do pessoal da padaria perto de casa, todos comentando a minha vida como juízes de uma escola de samba que passava. Comprei os pães fazendo sinais com os dedos. Daria na mesma se eu tentasse falar ou não.

Me lembro de ter chegado em casa me arrastando. O barulho da borracha do cuturno no piso da cozinha me despertou o suficiente pra fazer café, tentar ler jornal até a água quente passar pelo coador, esquecer o açúcar e cuspir tudo na mesa, ir tirando a roupa pela cozinha, pelo quarto de vestir até o banheiro, ligando o chuveiro, nua, de óculos escuros e cigarro na boca.

Pronta em minutos, com o mesmo look agressivo só que com peças limpas e material de trabalho na bolsa enorme. Eu aguardava a carona do meu algoz. Porque encosto que é encosto trabalha no mesmo lugar e é vizinho também pra acabar de estrepar com a sua vida em todos os níveis possíveis e imagináveis. E, é claro, te oferece carona! Sempre!

E lá vinha ele descendo pela rua, com seu carro brilhante e sorriso voraz, ávido por saber o que eu tinha aprontado na noite anterior.

E eu louca pra injetar um pouco mais daquela morfina em mim, colocando as botas no painel do carro dele e fumando um cigarro com ar altivo e sexy, seduzindo-o de novo, ressucitando outra vez o que jazia morto a dias atrás... Outra vez. Só mais uma vez. Só mais uma...

Hoje, escolhendo as situações tóxicas que quero e pelo tempo que desejo, respeito muito aquele momento da minha vida afetiva. Eu respeito muito o cafajeste da minha vida. E mesmo quando muitos anos depois, sua escolhida o deixou e talvez o tenha feito sentir algo um décimo parecido com o que eu outrora senti, fui muito gentil em declinar seus convites.

Hoje escolho minhas baladas e minhas dores.

E valorizo muito aquelas noites e aquelas faces femininas que carreguei com orgulho. Tenho orgulho de ter assumido aquela paixão suicída. Tantos se escondem, fogem, evitam a dor, mas a dor nos faz sentir vivos e nos traz a possibilidade de escolher se queremos repetir a seqüência ou trocar de caminho. Quem sabe escolher caminho algum. Talvez escolher estar só de corpo e alma finalmente e mais que finalmente em paz.

De todas as baladas que já fui antes desse divisor de águas da minha vida afetiva e todas as que vieram depois, esse é o meu flashback de balada mais caro. Um tempo em que a minha maré viva, a minha sizihgia, estava avassaladora, uma verdadeira guerra dentro do meu ser, uma zona de combate em meu corpo, uma constante luta em minha mente e uma bipolaridade etérea da minha alma.

Tempos que me lembro com honradez, que não deprecio nem desfaço. Não! Não fui uma boba! Não desperdicei meu tempo nem minha vida nessa história. Estou convencida disso! Abandonei a bebedeira. Tequila? Uma dose com limão e sal num bar cubano que eu goste? Por que não? Charuto? Uma baforada dos charutos que o meu chefe leva nas nossas churrascadas de final de ano tá ótimo! Cigarro? Numa Blue Noite ou outra a fumaça do incenso quebra um galho legal.

Já vi o fundo do poço. Já vi o quanto posso me aniquilar, me refazer e me aniquilar outra vez. Já descobri que lá no fundo do poço ainda tem um alçapão, já abri e já entrei e a dor é a mesma de quando nadei de volta pra superfície e respirei pela primeira vez ao emergir pela primeira vez após anos mergulhada na lama!

E me lembro de uma frase que escrevi muito numa época em que não havia blogs, só diários de guardar na gaveta com chave da escrivaninha... "A vida chama... Depois de toda a tempestade, depois do olho do furacão... A vida chama... E o convite é irresistível!"

Inesquecível não?