segunda-feira, 18 de setembro de 2017

A prisioneira do arcano

ouvindo "Days of Why and How" do The Kills

https://www.youtube.com/watch?v=tSULoY70jaA


Na bruxaria, quando uma bifurcação se repete - na forma de uma mesma situação ou um mesmo tipo de pessoa, ou os dois juntos -  ao longo do chamado Caminho do Mago, exigindo dele uma decisão entre apenas duas mesmas alternativas e com desastre sempre iminente e igualmente repetitivo caso a escolha seja a não concordante para sua evolução e merecimento de superação, esta situação pode ser entendida de muitas formas e em várias profundidades de compreensão.

Cada um de nós - magos ou não - tem sua forma pessoal, pensada ou não de lidar com estas coisas. E viva a diferença!

Podemos nos vitimizar, agir com fúria, dizer-nos enfeitiçados ou prisioneiros de um arcano do tarot. Desta perspectiva as reações são as mais diversas e todas são desencadeadas ao mesmo tempo para engrossar a substância a ferver no caldeirão: brigar com os mestres mais experientes, odiar os amigos que fazem troça da nossa dor pelo amargar da repetição das coisas, brigar com os Deuses, entre outras tantas fúrias.

Há também o entreguismo total, nadar no mar da vitimização, sofrer com pena de nós mesmos como eternos sujeitos a um carrossel de tristezas que se repetem e a perguntar insistentemente o porquê de tudo isso longa e insistentemente pouco percebendo as respostas e nem se importando se há ou não nos dedicando cuidadosamente ao curtir o prazer da dor e o prazer de sentar-se no trono do mártir.

Mas há sempre uma visão mais elevada que se pode ter de tudo.

Como no conto da grande Deusa Mãe - em sua face de tecelã "dos dedos ligeiros" - onde seu trabalho se faz com os fios das nossas vidas emaranhando-os em lindos desenhos que só ela consegue ver do alto do Tear da Vida e que nós - embolados nos fios dO Caminho - não conseguimos ver ou se quer perceber o que se passa.

Ou não queremos ver, provavelmente.

Mas se pudermos optar - em um esforço hercúleo - e vislumbrar de alguma forma, por um milésimo de segundo, sem emoção e sem ilusão este tipo de over view mental e espiritual. Se encontrássemos em nós uma força descomunal que nos impelisse a romper com a condição da mesmice e sua miserabilidade e entrar em um estado de concentração que parece beirar as raias do impossível quanto ao apego as nossas certezas e tentar de verdade, mesmo no infinitesimal, mas arrogante estado de mortalidade, ler a mente dos Deuses por um momento no ad eternum!

Talvez consigamos alcançar - da preguiça e da zona de conforto do prazer em que nos encerramos vezes pela fúria, vezes pela dor - o visualizar do desenho se formando fio a fio pelos dedos ligeiros da Grande Tecelã em um frame!

Um olhar lá do alto, do drone espiritual, dos reinos do ar, dos zéfiros, do guardião do quadrante leste, do reino dos saberes do dragão alado branco e em um piscar de seus e então - talvez - possamos alcançar uma nova forma de visualização, um novo ângulo de enquadramento, uma perspectiva que ainda não havia chegado à mente, bloqueada pelo martírio emocional.

E a partir disto talvez possamos acessar uma força transformadora.

Uma possibilidade de transmutar toda a cena repetida.

E fazer o algoz se tornar mestre.

O repetitivo se tornar definitivo.

O temor se tornar contemplação sublimadora.

E se ouvirmos esse sussurro dos Deuses e alcançarmos a fórmula, aquela que finalmente quebrará o ciclo, explodirá o carrossel, dinamitará a bifurcação descortinando a baia por traz do cenário onde a cena tanto se repetia e de uma vez por todas ver quem está lá, por trás de tudo com olhos de faca! Nos fitando! Nos esperando! Com um sorriso mortífero!

Nessa fração de segundo e somente nessa fração de segundo - talvez - mereçamos que este alguém, estes olhos de faca nos estenda a mão e ofereça finalmente a possibilidade real de libertação.

E a prisioneira do arcano se libertasse...

Seria uma ruptura e tanto, seria um final realmente surpreendente, com um carrossel terminando em uma estrada para um novo fluxo de vida!

Que eu me esforce!
Que eu veja!
Que eu alcance!
Que eu quebre!
Que esteja lá!
E que eu agarre esta mão de uma vez por todas!

Que assim seja!
Que assim se faça!