sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ri Na Cruinne (Reflexões sob um Jardim Prateado parte I)

Do galês, Rei do Mundo. Uma expressão que me enche o peito quando a ouço na música do grupo Clannad, durante as longas madrugadas cotemplando o jardim de minha casa sob a luz da Lua. Sentir o chamado da vida na forma da mão do Rei do Mundo estendida para você e ver a eterna pergunta expressa claramente em seu olhar é uma experiência pagã que torna a respiração dolorida, deixa os olhos ardidos e a boca seca. A eterna pergunta que não cala nunca: "O você quer?" Responder a uma pergunta desse tipo não é tarefa simples. Principalmente se é o Rei do Mundo quem te pergunta. E quem é o Rei do Mundo? (para quem já não está aguentando mais de curiosidade) O Cristo para os cristãos, Buda para os budistas, Merlim para os magos celtas. Enfim, a grande inspiração para o caminho! Quando o meu Rei do Mundo toma forma em minhas preces e ritos, seus olhos são morteiros ao fazer a bendita pergunta, porque ele já sabe a resposta! E é claro que ele sabe! Afinal ele lê a minha alma! E, é claro também para todos os que prestam atenção, afinal ela está estampada em mim! "Eu quero viver um grande amor!" Tão cafona, tão singelo e tão poderoso ao mesmo tempo! E extremamente complicado, obviamente! O amor entre os guerreiros sempre foi muito difícil, que dirá nesses dias de saída de Netuno de Aquário e de passagem de Hades por Capricórnio! Mesmo porque as batalhas dos nossos terríveis dias não são mais uma guerra aberta como em outros tempos, quando os inimigos se olhavam nos olhos em campo de batalha. Os combates de nossos dias se dão na mente e os inimigos estão em toda a parte, inclusive dentro de nós mesmos. Os campos de batalha não são tão abertos e claros e até na hierarquia dos planetas estão querendo mexer. Quanto horror a matar o amor! No trabalho, na família, entre os amigos! O amor morre a duros golpes de horror como o dinheiro, o interesse, a vaidade e a mediocridade. Por isso deixei de pedir. Me calei perante ao Rei do Mundo, pois cansei de me decepcionar. As batalhas são frustrantes tamanha a mediocridade dos propósitos dos oponentes e os inimigos são indignos de serem chamados de guerreiros pela baixeza de seus motivos e armas para guerrear. Alguns irmãos de armas ainda resistem e os Deuses em seu bom humor me permitem encontrar um ou outro, vez ou outra. São na maioria solitários, cansados e cheios de mágoas como eu, a ponto de não acreditarem em nada nem em ninguém, para evitar a repetição de decepções. Conheço alguns valorosos que na primeira oferta de seus respectivos Reis do Mundo, e apresentaram a mesma resposta que eu, tiveram e agarraram seus grandes amores! Estão firmes e invejáveis em seus relacionamentos. Mas são tão poucos! Raros como pequenas estrelas no céu poluído da cidade, quase sumindo na fuligem da infidelidade, da vulgaridade e do egoísmo extremo das pessoas que se consomem e se jogam fora reinantes por toda a parte! E o meu grande amor? Ah o meu grande amor se transformou em uma quimera! Pois o grande guerreiro que por toda a vida eu esperei para cavalgar a meu lado se transformou em um mero personagem. Um desses que se constrói em um jogo de RPG, constituído e alimentado a anos por uma garotinha que era acusada de "viver no mundo da lua". Hoje mulher feita, me desfazendo com a sutileza do tempo, sou uma guerreira do Sol e da Lua, solitária e por mim mesma e mais ninguém! Cheia de medos, encaro o horizonte com as sombras dos amantes covardes a passarem por mim e a levar mais um naco do meu coração que vai endurecendo e escurecendo a cada inverno. Com as últimas luzes se apagando lentamente enquanto sussurram: "Não fuja de mim!" "Não minta para mim!" "Não traia a minha confiança!" "Não se esconda de mim!" "Não me tenha temor!" "Como todos os guerreiros que tanto admiramos, encare a maior batalha de todas de cabeça erguida a me olhar no fundo dos olhos!" A maior batalha de todas é o amor! Pois então te espero mais uma vez Ri Na Cruinne, como todas as noites, em meu jardim prateado pela Lua quase cheia novamente! Sim! Meu coração partido vai ficar cheio outra vez pelo seu amor e me estenderás a mão com teus olhos de faca a me fazer a eterna pergunta que não se cala e eu irei ter contigo sem mais nada responder porque a resposta foi calada no fundo de mim, enquanto os encantados sempre entoam a mesma canção... Love bob amser yn ennill! O amor sempre vence!

Que o amor vença e nos salve a todos!