segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sem parar pra pensar, só sentir

Refletir demais dói!

Por vezes é melhor ser oco e só deixar a pulsação fluir velozmente pela grande perfuração que arde entre os ombros e os peitos...

E tem que ser pra agora! Enquanto a primeira lua cheia de inverno se ergue vermelha, com seu escudo de sangue emudecendo as estrelas e o riso furioso ferve em minha garganta em uma gargalhada seca e dolorosa.

Tem que ser enquanto um som pós-punk de tantas guitarras sujas, bateria de ataque, baixo distorcido e voz esganiçada está rolando no aparelhinho portátil e de péssima qualidade sonora tem a ver com a ocasião, assim como a cerveja preta avermelhada combina perfeitamente com o esmalte vermelho sangue pisado nos dedos frenéticos que apertam o copo gelado.

O cabelo desgrenhado pelo suor da fúria tem que voar pesado pelo ar, em uma coreografia louca sob a luz da lua que sobe pela muralha do velho jardim, testemunha de inúmeros ataques psicóticos como o desta noite!

As pragas e azarações reverberam pelas paredes do crânio a sacudir, tentando absorver mais um desfecho imperfeito de mais uma das histórias diluídas pela chatice da vida.

Só o riso escrachado consegue expressar tamanho descontentamento!

Só o corpo bêbado, louco, solto pelo ar frio tem permissão para assim o ser. As folhagens, flores e pequenas árvores azuladas pela luz da lua cheia permitem e testemunham!

Só a voz mais entorpecida pelo fracasso do punk pode atingir o tom e a forma de mais um desfecho insatisfatório para uma quase história de amor.

Só resta rir!

E bailar!

E caçoar de mais uma história que igual a tantas outras, parecia diferente, mas era profundamente igual, portanto o final era absolutamente previsível já de início e a obvia surpresa se fez de novo! Que tristeza!

Não acreditar na antevisão, ainda crer naquela bobajada que te falam todo dia no rádio, na tv, nos livros de auto-ajuda e revistas femininas: O quanto vc é especial, o quanto vc é importante! O quanto vc faz a diferença no mundo!

E quando menos esperar vc é mais uma mulher desiludida e alcólatra no mundo, vagando pelo jardim da sua casa, tremendo de frio numa noite de sexta-feira enluarada, rindo de sua própria pateticidade! Mais uma mulher frustrada por mais um amor perdido! Mais uma promessa vazia! Mais uma tola que acreditou nessa pataquada de "respeito e admiração" que na verdade significavam "descobri que vc não era o que eu fantasiava e não quero ficar com vc sua chata romântica sem graça!".

Mostre-me uma mulher independente e dona de seu destino, que não precise de nada nem de ninguém e eu lhe mostrarei uma impostora! Porque debaixo de toda a couraça intransponível jaz um corpo frágil que quer ser alvejado tanto quanto qualquer outro que vaga por este mundo sofrendo sem amor!

O amor partiu para longe e o que ficou foi o corpo frágil, prostrado ao lado da couraça em mais um dos campos de batalha entre a mente e o coração.

Não há o que pensar, só o que sentir.
Não há o que refletir, só viver.
E esta noite, viver é bailar só a noite inteira até sucumbir a exaustão e dormir.
Quando acordar iniciar a longa espera...
Até que essa história se dilua na apática rotina do dia a dia.
E uma nova história apareça para tomar o seu lugar neste longo inverno enluarado.
Tem que ser agora!
Tem que ser assim!

((((((Este post foi feito ao final da lua minguante por dificuldade em decidir se seu teor restritamente passional deveria ou não ser exposto neste blog))))))))))