terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O galope da loucura

(... ouvindo Hearing Damage de Thom Yorke...)

Não sei se por conta da arte, da magia ou do tempo...

Mas muitas vezes a mente voluntariamente escolhe fluxos obscuros.

É como sentar-se a beira da Marginal Pinheiros na hora de ir para a balada e ver os carros passarem...

O mesmo fluxo louco acelerado mas com velocidade e energia diferentes do movimento do dia.

Fico ali, a parte... Assistindo o espetáculo de sons e luzes dos pensamentos mais comuns e banais como sexo, grana, luxúria e vaidade e contemplo o mundo aparente se mostrando com toda a sua força em lugares e momentos como este.

É o fluxo da vida contemporânea.

Ter um emprego ou um trabalho e, mesmo sem identificação ou vontade legítimas, continuar lá e seguir conquistando premiações para cultuar aparências, aquisições e falsos confortos que não bastam nunca e endividam o corpo, a alma e a mente!

Pensar em tudo isso dói, então para fugirmos criamos mais uma trama de fantasias e devaneios.

Alguns mais sãos, buscam a arte e/ou o esporte.  Outros mais insanos vão atrás dos sonhos dos outros com a mídia, as pseudo religiões e tantas outras artes de se enganar com valores que não são os nossos verdadeiramente.

Alguns mais investigativos buscam alguma ajuda e outros poucos um tanto mais meticulosos, buscam ajuda especializada!

Tratar a mente é mais terrível do que eu possa escrever! Talvez um gráfico com três variáveis ou um asteroide que gira em quatro eixos chegue perto.

Criamos armadilhas para nós mesmos conscientemente, fingimos que nos enganamos, enredamos profissionais rasos que pagamos para detectar o problema mentindo que o resolvemos ao dizer exatamente o que eles querem ouvir.

Sim somos capazes de tudo!

Nossas mentes são alimentadas constantemente por incríveis fantasias midiáticas e alguns de nós se convencem de que são o que criam e passam o tempo todo convencendo as pessoas de que são aquilo e vivem uma sobre vida se enganando com amor e admiração de adoradores enganados.

Criamos fantasias e as vestimos e com o tempo elas vão se atando aos músculos da nossa mente.

Tirar cada pedaço traz dor aguda!

A maioria desiste! Nem tenta... Finge que tenta! Faz a vida fingindo e estimulando o fingir!

"... pagar a conta do analista para não saber mais quem eu sou..."

Quem decide enfrentar esta senda, caminha voluntariosamente para o "pântano da tristeza". Os estados de consciência são sombrios. Enfrentar a si mesmo é uma das maiores artes da guerra que se possa escolher.

Seu olhar sobre o mundo se modifica completamente. Outros véus caem entre o seu self e a realidade, permitindo releituras assustadoras.

Encontrar um andarilho pelo caminho, torcer para não ser abordado e contemplar, estupefacta, a boca dele se abrindo e despejando aos berros tudo o que está na sua mente naquele momento!

Compreender com compaixão porque um viciado opta conscientemente pela dose que o matará.

Estender a mão para a mulher que teve seus sonhos traídos mas não consegue se soltar do corpo e da mente do traidor.

Finalmente sublimar o porquê do seu amante mais desejado te-la deixado, mesmo sabendo que estava perdendo a mulher da vida dele!

As raias da loucura permitem compreender porque o salto para o abismo e o corte de tudo o que nos ata a este mundo são tão atraentes.

Viver de verdade, com consciência das implicações da ação de cada músculo na caminhada em busca da verdadeira realização é muito mais difícil do que se possa escrever.

Talvez seja por isso que os sábios Deuses nos contemplam com "olhos de faca" que nos despem de todas as couraças que criamos.

Talvez seja por isso que as religiões mais procuradas são as que "dão" emprego, carro, marido, cura para a doença que na verdade é somatização da mente doente e da alma infeliz!

Caminhar pelo limiar da loucura é conversar com a insanidade.

Apaixonante, solitário, dolorido, apavorante... Uma arte para poucos realmente dispostos a pagar o preço altíssimo de caminhar sob os olhos atento dos Deuses.

O melhor mesmo é enfiar o MP3 na orelha e chegar logo no emprego desgraçado, contar os dias para o "pagamento" e terminar logo aquela prestação para começar outra de mais uma coisa desnecessária.

Aguentar o cara que te drena o viço da vida só para dizer que tem alguém, que tem algum dramalhão para fugir da vida difícil de quem busca por um amor de verdade.

Ver a pessoa que se diz "amiga" e seus olhos famintos para te atacar nos pontos fracos que com tanto amor foram demonstrados a ela por você mesmo em um momento de fragilidade, tendo consciência de tudo o tempo todo.

Dói só de ler isto não?

Por isso quando me perguntam "tá melhor?" a resposta do momento é:

"Tudo certo!"

Afinal... Como dizem os sábios hindus e sua leitura milenar e imortal...

"Em todos os casos a vida é certa!"

Boas dores e fugas para todos!