quarta-feira, 29 de abril de 2009

Amores Tóxicos

Será possível?
Falar de amor de novo?!

Bem... Estive trabalhando todos esses meses até ele dar as caras de novo e me inspirar novamente... Deve ser porque deve valer a pena não?

Valer a pena é uma frase que me incomoda. Apesar de usá-la quando o piloto automático da língua comprida está ligada (quase o tempo todo!), vem sempre aquela sensação de rejeito logo depois das palavras proferidas. Como uma pena pode valer?!

Pensa bem! Se é uma pena? Uma penalização? Você está dizendo que vale a pena o sofrimento para alcançar algo. Logo, a sentença em questão na totalidade fica como: O sofrimento causado pelo amor vale. Sofrimento? Amar é sofrer, mas é um sofrer que vale? Qual é? Tem certeza?!

Por que o valor só deve vir do sofrimento? Cai na real! Paganismo é libertação dessas culpas judaico-cristãs-muçulmanas-hinduistas-budistas e tantas outros ismos, istos, icos e aquilos em geral! Não é só coisa de ocidental não! É geral mesmoooo! Todo mundo adora um fardozinho pra carregar, para depois legitimar seus prazeres, suas alegrias, seu valor! Chame de karma, de culpa, de destino, de caminho; pinte com as cores que quiser! Continua sendo uma das maiores e mais idiotas manías humanas.

Alegria de cara! Assim do nada! Não deve ser verdade! As frases populares pipocam na mente: "Aí tem!", "Esmola demais..." "Uma mulher dessa a fim de mim?" "Nesse mato tem coelho..." "Um cara desse atrás de mim?" "Tá querendo alguma coisa que não presta!".

A culpa (outra palavra que odeio apesar de se encaixar perfeitamente nesta situação), pode ser repartida por vários agentes, novelas, contos de fada, blogs de pessoas carentes (kkkkkkk!), o modelo capitalista ocidental, a globalização, as revistas teen, as séries de tv estado-unidenses e as magistrais novelas mexicanas que, como dizem os meus alunos "são master-blaster" no assunto! Sofra por 200 capítulos e tudo se resolverá nos últimos 15 minutos!

Mas pera aí? Quando vai ser o último capítulo? Quando o sofrimento será suficiente? Ou como diria Shakespeare "Quem levaria fardos, gemendo e suando sobre a vida fatigante, se o receio de alguma coisa após a morte - essa região desconhecida cujas raias jamais viajante algum atravessou de volta -, não nos pusesse atônita a resolução, nem nos fizesse tolerar os nossos males de preferência voar para outros, não sabidos? A reflexão assim nos acovarda, e assim é que se cobre a tez normal da decisão com o tom pálido e enfermo da melancolia; e desde que nos prendam tais cogitações, empresas de importância e que bem alto planam desviam-se de curso e deixam até mesmo de se chamar atenção.".

Pobre Hamlet... A maioria das pessoas só conhecem o "ser ou não ser", mas o sofrimento é reconhecido e legitimado em toda a parte, em todos os níveis sociais e intelectuais, culturas e povos. "No pain no game!" "Forever!"

E aí seguimos nessa febre tóxica, nos consumindo de desejo e sempre nos negando a ser felizes porque isso não é possível sem uma farta dose de penalização. Para "valer a pena"!

A espera consome! Adoeçe os sentidos!

Cada lembrança, cada frase que se torna uma promessa, marcando o corpo e a mente como raios e relâmpagos marcam o céu e a terra. Uma tempestade cerebral insuportável que nos atira da agonia ao êxtase em instantes. A intoxicação das idéias, as certezas instantâneas, os medos colapsantes. Tudo se torna uma eterna busca pela próxima viagem: nas ruas, nos cantos da casa, nas imagens procuradas até sem querer na net, de carro na contra mão na madrugada, a cada ruído no corredor no meio da noite, sempre aparecem as doses cavalares para mais uma viagem tóxica que nos tire do sofrimento que nós mesmos nos colocamos porque não nos movemos, não vamos ao encontro da felicidade. "Agora não, melhor esperar..." Esperar o que? Até os tóxicos consumidos durante a espera nos levarem a uma overdose mortal?

Não sou diferente! Afinal este é um sistema eficiente que sempre alimentou a super estrutura da maior parte das sociedades humanas durante milênios. Quando estou de bom humor chamo-o de "Credikarma", falhe agora e pague pelo resto de suas vidas!

Como pagã, vivendo em Sizihgia eterna entre o Sol e a Lua e na busca incessante do equilíbrio das forças masculinas e femininas em mim e em meu amado, busco em cada bater de porta de carro, em cada gole de vinho tinto carmenére, em cada baforada de cigarro de cereja, a cada vez que coloco minhas sandálias de salto alto, que a próxima noite será a noite em que não haverá pena... Apenas haverá valor!

Que possamos superar essa necessidade de sofrimento para atingir o que almejamos e simplesmente nos permitir ser felizes! Por mais clichê que seja a frase!

Beijos viajantes para todos os caçadores do amor intoxicante... Como eu!
E coragem para admitir que a verdadeira felicidade vem das coisas simples!