sexta-feira, 23 de abril de 2010

O amor nos deixou?

As declarações de admiração e mais puro amor dos meus poucos leitores que se pronunciam neste blog, me levam às lágrimas sempre que tenho coragem de ler.


Sou mui grata e desejo todo este amor e carinho três vezes mais a todos, como manda a antiga lei.


Mas hoje me dirijo especialmente àquele cujo nome não vou expôr, mas que em seu texto de comentário me questionou de uma maneira diferenciada. O questionamento foi exatamente no nervo de meu propósito! Provavelmente no nervo do propósito de todos!

Talvez querendo, talvez sem querer, esse meu leitor especial tocou em um ponto central sobre o qual ainda jaz todo o eixo de sanidade que luto por construir com trabalho mental árduo todos os dias.


Esse espírito iluminado, esta alma leve simplesmente me questionou o que me faria feliz...


Pelos Deuses o tremor foi dos meus lábios aos meus dedos sobre o teclado do computador em uma fração de segundo! Ninguém, nunca, nem o mais fiel dos meus amigos, nem o mais infiel, nem o melhor dos meus amantes, nem o pior, nem o mais romântico dos meus namorados, nem o mais terrível, nem meus parentes mais amados... Ningúem! Nunca! Nunca ninguém havia me questionado sobre isso.

Mal posso descrever como me sinto cada vez que me lembro disso!

Em seu depoimento singelo esse visitante querido deste blog dramático teceu elogios doces. Disse muitas coisas que já ouvi de muitas outras pessoas doces como ele, as quais sempre tenho a sorte de encontrar pelo caminho. Mas sua maneira de dizer essas coisas doces teve uma profundidade diferenciada, aquele questionamento deixou seu comentário tão apaixonado com uma outra cor, uma beleza e sensibilidade que só os mais sensíveis percebem como a face de Ágape o amor supremo. Sou mui grata de todo o coração.


Mas toda essa doçura não apagou o nocaute. Eu fui à nocaute com aquele questionamento: "não sei nem nunca saberei o que a faria feliz".


Meu querido. Não sei responder nem a mim mesma... Acredite? Vivemos em um mundo onde o querer e a felicidade são coisas materiais, orgulho e vaidade e eu tenho todos esses desejos não se engane. Por trás deste estandarte de princípios jaz uma fera consumista, carente e psicopata como qualquer um de nós, lutando pelo que queremos neste hospício gigante que é o mundo "globalizado"! Ora!

Mas... naquelas noites de verão em que o ar fica perfumado sob a luza da lua cheia, ou naquele por do sol róseo do outono, na noite fria, gélida do inverno, na primeira manhã da primavera, quando tudo fica simples e me lembro de meu estado natural puro, intocado pela urbes. A resposta aparece de forma mui simples... Amor. O amor é a resposta! (Isso é uma canção?) Só o amor me resgataria deste atoleiro de tristeza que o caminho se tornou para mim nos mais recentes tempos.


Por favor que fique claro aqui que o amor ao qual me refiro é como uma superestrutura muito a maior do que qualquer um de nós possa imaginar. O amor é do mundo invisível, o amor é mágico, é transformador e como tudo o que é poderoso, tem muitos nomes e muitas faces.


Pode gerar vida, pode tirar vida, pode gerar ainda mais amor e pode originar ódio profundo. Sua manifestação pode levar um indivíduo ou mais ao auge em segundos, com um olhar, um gesto, um sorriso, uma única palavra.


Pode estar no som da respiração de um amante enaltecido, no olhar de uma criança ao ver a via láctea, no riso de um ancião que pela primeira vez vê o mar, no grito de um jovem que salta de paraquedas, na felicidade de uma menina ao ver seu cachorro curado de uma doença terrível correr pelo quintal, na alegria de um pai ao ver seu filho dar o primeiro passo, no primeiro beijo da mocinha mais tímida da rua, no poema secreto de uma adolescente para seu amado proibido, no vôo da pipa do moleque, no primeiro presente de natal de alguém que nem sabia que essas coisas existiam, no fumacear de um prato de comida quente dado pela mãe à sua filha depois de um dia de trabalho duro, no braço estendido pronto para tirar um explorador de um buraco na trilha, no médico que recém formado que recebe o primeiro "obrigado" de um paciente... Ele está em toda a parte. Ele me faz feliz.


Encontrar isso me faz feliz. Os comentários elogiosos ao meu blog me fazem feliz, os abraços e o carinho dos que me amam me fazem feliz.


Mas a felicidade é etérea e se desmancha no céu como nuvem sob o vento forte. E ao voltar os olhos para o chão o sorriso se desfaz. Porque esse amor não foi feito para durar. Aí reside a sua beleza... Sua fugacidade. Sei que devia buscar essas poderosas coisas sempre que ficar triste, como meu querido amigo destacou em seu comentário... Mas nem sempre é possível recrirar esse poder. E viver na nostalgia não dura (acreditem eu já tentei). E aí a fera retoma ao poder e em seus dentes trincados se faz o som da derrota e da amargura outra vez!


Não vou desejar o impossível, momentos que se tornem felicidade eterna. Também seria monótono. Já foi falado por aqui e algumas vezes até, o quanto somos dependentes do sofrimento para legitimar a felicidade. O caso são as doses de um e do outro. No meu caso um deles ganha disparado e o outro custa a chegar e se vai mui rapidamente.


Talvez o que me atormenta nesses dias possa ajudar a elucidar o dilema.


Algo me incomoda. Algo de errado com o mundo, como se alguma coisa estivesse fora do lugar! Não meus queridos, não é a Matrix! Uma grande idéia que originou um grande roteiro cinematográfico, verdade. Aqueles filmes me acalmaram a mente por anos, porque sanavam algumas das minhas dúvidas e incômodos sobre existir nesta trama global com uma rapidez quase que imediata.


Exceto quando as máquinas amam. Nessa parte da história fica difícil. Máquinas, softwares, amando? Difícil. Já vi esse tema antes, Blade Runner ainda me tira o fôlego. Andróides que amam... Insanos! Apaixonantes! E no final de O Exterminador do Futuro II: até as máquinas podem descobrir o valor da vida humana, quem sabe nós possamos? Que frase! Um soco na boca do estômago.


Leio sobre a construção do Belo Monte no vale do Xingu, debato sobre o merecer da vida aos animais no trabalho, assisto na TV a mocinha do reality show gritando que só fala a verdade e percebo que não. Não aprendemos o valor da vida, não sabemos o valor da vida. Alguns dos desenhos animados como Wall-e, Happy Feet, Irmão Urso, abrem um grito silencioso tentando tocar as gerações futuras, tentando plantar em seus corações o amor que os adolescentes de hoje tem dificuldades para manifestar, fora poucos bravos que ainda me roubam o fôlego de tanta emoção... Mas são poucos! Os outros me fazem chorar de desespero todos os dias com suas atitudes individualistas, intimístas, agressivas e por vezes até violentas. E nem eles percebem que são!


Então questiono eu agora! O amor nos deixou?


O amor partiu de nós? Virou enredo de novela? Só se for de épocas passadas, porque nas atuais ele raramente aparece como personagem principal, só coadjuvante. A estrela é o desejo! Desejo, substantivo e verbo em primeira pessoa ao mesmo tempo. Algo que devora a mente e o corpo em segundos e o amor vai de Eros a Thanatus em milésimos de segundo. O desgoverno é tão grande que a variação de assassinatos com requintes de crueldade enchem a pauta dos noticiários todos os dias diante de nossos olhos e ninguém se move? Por que? Eu respondo! O amor nos deixou. O amor ficou reservado a poucas coisas, às mais próximas e individualistas possíveis. Ao universo restrito do EU e do que ME agrada.


Quando um ser iluminado mostra que o amor é muito mais do que isso corremos para ler sobre ele, ver seu rosto, ouvir suas histórias, assistir suas desventuranças e logo depois voltamos a rotina de sempre, porque só pessoas muito especiais é que tem coragem para isso. Mais ninguém pode! Quem tem tempo? Isso é exagero! Forçar a barra! Já ouvi isso tantas vezes...


E isso, meu querido amigo, isso me faz infeliz. Ver tudo se acabando numa mesmice cotidiana medonha que me faz querer sair dessa selva de pedra e rios de esgoto. Parar de escrever e agir, mas em outro lugar, onde fazer a diferença trouxesse de fato algo de concreto. Mas esse lugar é difícil de chegar, talvez nem exista e se existir talvez eu não aguente ser tão destemida quanto os meus grandes heróis. Talvez eu mereça ler sobre o fim da reserva indígena do Xingu, talvez eu tenha que ouvir que os animais em extinção merecem morrer, talvez o grito da dona participanete de reallity show se dizendo dona da verdade na tv seja a coisa certa a ser feita. Cada um de nós sermos os donos da verdade até que ela apareça com todas as suas faces nos deixando loucos com sua complexidade! Talvez mereçamos tudo o que está por vir. Se de fato vier. Talvez a própria verdade esteja fatigada de tão evocada!


Muito provavelmente eu mereça também por não ter coragem de finalmente romper com tudo isso e ir para o campo de batalha verdadeiro. Deixar tudo e todos os que amo para trás por um amor maior. Isso me faria feliz. Já fez porque algumas vezes eu já fiz isso.


E foi o amor puro, a felicidade pura, até descobrir que os que fazem as usinas hidroelétricas que vão inundar terras indígenas também estão lá, que os matadores de animais também estão lá e que as mocinhas donas da verdade também estão lá e aos montes! E mais uma vez a felicidade etérea joga o seu beijo de vedete e deixa o palco na escuridão da tristeza outra vez.


Acredito que vc esteja certo meu querido. Não há como saber o que me faria feliz. A valorização da vida, o amor pelo o que os Deuses nos deram e nos dão todos os dias, o respeito pelos outros são coisas que já não sabemos mais se existem com a efetividade que nos faria feliz.


Minha dor e meu sofrimento pelo que vi, senti, pelo que lutei e que perdi não cabem em mim, me atormentam sempre. Suas doces palavras aplacam esse tormento mas não o eliminam meu caro. Ao contrário de você a esperança me deixou. Minhas ilusões se perderam em minhas viagens e no reencontro do que eu mais fugia lá a me esperar salivando.


E hoje, com essa legião de individualistas, vaidosos e egoístas em toda a parte da aldeia globalizada manifesto minha admiração por você meu querido amigo que ainda tem alguma esperança.


Hoje esse post é para você de alguém que quando cruzou o seu caminho sabia o que fazia, sabia pelo que lutava e hoje... Não sabe mais.



Eu.

Mui grata e para sempre,

Angélica