terça-feira, 18 de novembro de 2008

"Ai se sesse..."

"O que mata são as possibilidades...", me disse uma vez, um amigo meu. Paulistano radicado fluminense falava de sua cruzada em busca do amor impossível mais recente.


Quem não gosta de amores impossíveis não é mesmo?


Uma historinha de amor bem difícil, só para quebrar a rotina com descargas maciças de adrenalina injetadas diretamente na pelvis huh? Sexy huh?


Pois é, a primavera sofreu uns golpes frios mas o Rei Sol está aí! As árvores florescem, tudo tem mais cor, mas sabor, mais calor, tudo é possível (Isso não é nome de programa de domingo urghhhh!)!


E aí, quem tem histórias assim conhece bem esse estado viciante típico desta época do ano.


"Ai se sesse..."


Meu amado Cordel de Fogo Encantado tem a frase certa para a situação que tento descrever.


Tento descrever a vivência de uma situação bem difícil, uma história de amor que beira o impossível. Um estado de delírio que faz a respiração parar porque o peito está pregado com grampos e não consegue inflar sabe? Uma certa dor quente, típica da ansiedade absoluta nas noites de verão, que faz a vítima jurar que o coração acabou de parar! Tudo isso como resultado de fantasias que podem se transformar em artefatos para a construção de uma verdadeira bomba terrorrista emocional!


Quem é que não gosta de contar uma boa história? Quem é que não gosta de ouvir uma boa história? Tem os chatos, céticos que ficam julgando a psiquê dos outros de acordo com os clichês que fatalmente aparecem em todas as histórias de amores impossíveis, o que aliás é até divertido também, mas, convenhamos, contar a história é bem melhor não? Afinal todas tem cliches... Por isso são impossíveis!


E nada como uma história bem vivida. Com atitudes que fazem sentir a vida pulsar novamente só de contar. Pode ser algo longe do real, do possível, do considerado normal. Um exagerozinho, uma mentirinha, um toque apimentado só pra aumentar a adrenalina! Que atire a primeira pilula de alucinógeno quem não fez isso!


Adoro isso! Ir pra cama só com as possibilidades pululando nas veredas da mente! Ficar pirando a noite inteira!



Tudo bem, logo a realidade vem feito locomotiva e nos arrasa totalmente! O preço é geralmente alto e toda a euforia sucumbe à um marasmo de tédio. Feito a depressão logo após o pico. Mas o barato é poderoso e pode durar meses! Ok! Quanto maior a extensão do barato maior o baque ao retornar para a realidade das coisas. Mas na maioria das vezes e, no meu caso especificamente, sempre valeu a pena.

Meus delírios geralmente se dão em torno de amores impossíveis porque, além de toda aquelas conhecidas histórias sobre o quão gostoso é o fruto proibido; a provocação, o jogo, e as tais possibilidades tornam tudo tão apetitoso, que cada momento pode gerar uma onda de impulsos elétricos cerebrais medonha.

Bobagem querer viver assim. Mas em tempos difíceis, quando o ambiente de trabalho está massacrante, a vida em família está um fardo pesado, o espírito de pesquisa está intediado e os amigos tomaram chá de sumisso ou chá de chatice! Vai bem! Vai muito bem!

Construir situações a partir de dados reais e aí ir pirando, desenvolvendo, cultivando. Todo dia um pouquinho. Foi assim que comecei a desenvolver histórias inteiras ainda menina! Todo mundo tinha férias espetaculares pra contar no colégio. Eu inventava as minhas... Tinha o verão inteiro pra pesquisar e inventar bem ué!

Mas o legal mesmo foi quando as coisas começaram a acontecer!!!

As saídas noturnas, as viagens e as aventuras começaram a pipocar logo cedo em meu caminho. Nossa quanta coisa boa! Parecia realmente que os Deuses haviam ouvido tudo o que eu pirava a pré-adolescência inteira e me presenteavam com magníficos causos e romances deliciosamente impossíveis! Daqueles da turma toda do colégio ficar torcendo, amando, odiando... Hahahah!

Vivi com muita competência cada uma dessas histórias, fato que me faz ser muito bem resolvida com a minha acolescência me sentindo livre para retornar àquele espírito flexível, leve e inconseqüente sem nenhum medo. Não houve nenhum tipo de trauma, fui a primeira da turma, mesmo trabalhando muito, tinha grana, adorava estudar e me envolver nos projetos do colégio, tinha amigos super descolados e tava sempre enrolada com gatinhos difíceis e sacanas. Ah que delícia! Nenhum complexo! Nenhum problemão me tirava o sorriso do rosto. O vento sempre soprava a favor e tudo era muito leve e divertido! Uma raridade pelo que eu ouvia da minha turma e dos meus alunos hoje em dia.

Só teve um problema... Um pequeno grande problema...

Eu viciei!

Agora tudo tem que ser espetacular! Or die...

E faz sentido não? Quem já tinha banda de rock'n roll aos 15 anos, era roteirista e diretora das peças de teatro do colégio e tava sempre enrolada com algum dos cafajestes mais desejados do colégio, além de usar sempre roupas super "transadas"... Ía virar o quê hein? Hein? Hein? Junkie! Viciada! Pirada! Sempre aumentando as coisas e desenvolvendo estados de delírio pessoais de quase infartar! De ter que fazer caminhadas pelo parque ouvindo pauleira no mp3 pra conseguir botar pra fora tanta energia! Mas que diabos!

Aí vem a realidade no pique da Roda da Fortuna e dá aquela pancada que derruba e deixa sem sentidos por alguns dias, transforma tudo em tristeza e tédio. Faz todo o culto à flexibilidade da adolescência parecer bobagem. A maturidade despenca feito uma bigorna na cabeça e os amigos chatos vêm com as frases feitas! Todas começando com a famosa inicial...: "Não te falei...".

Mas não importa... Alguns dias passam, nem uma fase da Lua inteira na verdade, e já é possível desperta no meio da noite, arfando de suor com o calor do verão e da mente, com alguma coisa que escapou nas exaustivas análises do porquê o mundo caiu. E a mente e o corpo gritam juntos em uníssono...

"Ai se sesse!"

Muito bom!


domingo, 12 de outubro de 2008

O homem que falava em listas

Tem umas figuras maníacas que simplesmente se materializam na sua frente não?



Quando fiz as pazes com o verão e voltei a usar cores alegres nas roupas, mechas douradas e flores naturais nos cabelos, mal sabia que na verdade estava dando a abertura para dar de cara com uma delas.



A quase dois anos atrás, caminhando pelas ruas de uma cidade litorânea fantástica qualquer entre as tantas maravilhas do meu país, apreciando as luzes e as cores da estação mais esperada do ano. Me deparo com o olhar que distingüe o másculo do masculino. Ahh sim! Há homens que sabem apreciar o que é uma mulher... São raros! E é uma festa encontrá-los!



A maioria fica procurando padrões, bastante comum aliás. Os olhos deles passam atravessando as pessoas em busca da convenção escolhida pela maioria. Mas há aqueles que apreciam aquele detalhe que você escolheu para complementar a barra da saia, a barriguinha escondida e o decote disfarçado.



Esses, apenas com o senho frazido que demonstram quando apuram o olhar e com o sorriso mínimo, quase imperceptível que abrem ao vê-la passar, fazem-na andar mais devagar, requebrar um pouquinho mais e andar na ponta dos pés assim que se deparar com um obstáculo qualquer, propositadamente claro! Só para estender o momento.



Foi o ocorrido, entre eu e um motoqueiro, que passava pela rua em que eu passeava, em sentido oposto e em rota de colisão.



Tantos foram os outros encontros casuais, até as apresentações, as lacunas entre as frases, os olhares cada vez mais longos, o charme e a sedução crescentes, a cada reencontro a expectativa galopante...



Mas qual não foi a surpresa quando da primeira vez em que todo o desejo se consumiu, que o tal, o olhar tão másculo, o indivíduo que aparentava tanta capacidade em destacar qualidades que poucos outros haviam percebido, não começou a despejar listas de preferências e ocorrências?



Estática, contemplei mais um exemplar masculino torpe - por favor não se ofendam os que não tem necessidade de se reafirmar como machos a cada três minutos - falando em listas de mulheres que já havia colecionado, classificado e, para meu delírio, que abrira uma categoria para mim!



Lisonjeada e ao mesmo tempo morta de vontade de sair correndo, permiti que a piada seguisse em frente e notei que havia listas para tudo, lista de classificação das minhas amigas, lista de classificação das mulheres de passagem pela cidade, das mulheres da cidade, das mulheres da cidade já contempladas pelo olhar que eu tanto apreciara e demais desdobramentos, lista das mulheres com as quais ainda não havia chegado aos desdobramentos... Mas que certamente chegariam e tantas outras mais.

Tudo isso me carregou do êxtase à agonia, invertendo o título do filme. Como é possível? Tanta decepção minutos após tanto êxito?

Assim são as relações atuais. Uma série de listas, de conquistas instantâneas, de certezas momentâneas. Lembro-me de uma discussão com outra figura semelhante, tempos atrás alegando que existem as coisas de momento e as coisas de instante.

É impressionante a volatilidade dos sentimentos. Adoro fazer listas de compras, de tarefas para desempenhar no trabalho, de presentes absurdos de aniversário... Mas pessoas? Listas de amantes? Classificação de affaires? Hierarquia de flertes? Ranqueamento de ficadas? Há uma especialização séria de graus de não envolvimento rolando por aí e é impressionante o quão mais distantes, frios e desapegados acreditamos que somos, quando na verdade já estamos prestes a nos mostrarmos mais comprometidos do que nunca! Basta um olhar de um segundo a mais ou a escolha de uma palavra ruim em um momento instantâneo qualquer, e tudo está perdido!

Deixei o homem das listas terminar sua classificação me divertindo muito com suas metas e com seu esforço em demonstrar que eu era mais uma de muitas conquistas. Assim que sua luta por não demonstrar envolvimento algum tinha terminado, não foi difícil ir embora.

Claro que esse pode ter sido o objetivo da encenação toda! Mas talvez poderia ter sido atingido com um pouco mais de doçura e cuidado. Porém, como disse no início deste post, másculo e masculino ainda são nuances que confundem os homens que, em sua maioria, não sabem quando ser um ou ser outro. A maioria das histórias que ouço e das minhas próprias, são incontáveis desastres resultantes da falta de sensibilidade de homens e mulheres, essas também muito confusas entre o feminino e o feminismo, o que deu vazão a erros de interpretação incríveis que a covardia levou ao extremo culminando em rupturas violentas sem necessidade.

O medo do amor como um cerceador da liberdade é assustador. Esse sentimento tem tantas faces! Às vezes me surpreendo ainda pensando em questões de amor... Por que dar a ele nomes e classificar em tipologias fechadas? Por que acreditar que pessoas e reações sejam passíveis de análises categoricas ou de padrão esperado? Quanto da vida e de pessoas interessantíssimas não se deixa de conhecer em nome de padrões tão aprisionadores quanto o sentimento do qual mais se teme...

Talvez o meu querido listador e classificador de mulheres não passe de mais um homem que procurou se defender de algum sentimento que talvez tenha emergido em meio a mais uma conquista. Mas um homem que me tema não me interessa, mais uma vez os enganos entre o masculino e o feminino me roubando mais uma bela história.

Ou... Talvez tenha sido uma conquista de anos que se desfez em uma única estada... Quem pode saber? Nem ele e nem eu talvez possamos responder com alguma certeza.

Só questiono o porquê de um final ruim para um começo tão excitante...

Decepcionei?

Também fiquei decepcionada... Afinal listas de compras são feitas para apoiar no carrinho do supermercado até percorrer todos corredores e jogar fora antes de chegar no caixa.

Amantes são poesia.

Anseio por reencontrar poesia, assim como anseio pela partida do inverno... Que por algum motivo ainda não se foi... Talvez porque ainda haja alguma lista chata de coisas que faltam acontecer para que o verão possa finalmente chegar!

Beijos listados e classificados como razoavelmente agradáveis.
Lix

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A Incompetência é um benção (?)

Já experimentou lidar com essas pessoas abençoadas com a extraordinária capacidade de falhar no que é óbvil?

Tem coisa mais irritante?

Tá ali na frente do indivíduo, mas ele não consegue!

Incapacidade, falta de percepção, burrice? Talvez algo sobrenatural... Vai saber?



É difícil escrever ou falar sobre essas coisas. Parece esnobação, soberba... Mas não me importo! Se não sabe terminar, não comece! Tudo poderia ser simplificado assim!



Mas, pensando bem... Muito provavelmente não daria certo. Porque incompetente que se preza, não sabe nada, nem o que é começar ou o que é terminar. Muito menos o que é saber fazer essas coisas! Já reparou? Eles são masters em ter uma resposta na ponta da língua... Mas ação mesmo, o que daria forma a tantas idéias fantásticas, nada! Porque não suportam ficar sem resposta ou admitir que não sabem. São orgulhosos demais para admitir. Parecem orgulhosos de sua incompetência!


Sim estou furiosa. Adoro o ator do clássico em preto e branco Henrique VIII, encenando o próprio: "Estou cercado de incompetentes!" ou a máxima que amo rosnar pelos corredores em resmungos quase inaudíveis: "As coisas que eu faço pela Inglaterra!".

Gostaria tanto de viver nos tempos em que a palavra valia pelo caráter daquele que a proferia. Pena que as mulheres podiam ter suas reputações arruinadas por duas ou três palavras de um homem, que provavelmente foi incompetente com ela também. Mas o fato é que hoje, século XXI, com a suposta igualdade dos sexos, vejo incompetência dos dois lados.

Tanto no cara que não consegue admitir que perdeu tudo porque foi incompetente ao administrar a perda de uma grande amiga quando não soube cultivar sua confiança quanto a garota que fala tão lindamente, emprega expressões tão eruditas ao descrever fatos aparentemente simples e depois deixa na mão a colega de trabalho porque não conseguiu entregar um simples conjunto de dados por escrito para efetivar a mudança que propunha.

Decepcionante, não é a tôa que temos tanta vontade de mudar de vida. Ultimamente sonho com os esquimós. Viver com eles uns anos. Me lascar lá no Alaska! Puxa! Que lindo! Ali a palavra deve valer... Também se alguém falhar ali todos morrem de frio, de fome ou os dois... Aqui não, sempre há um jeitinho, sempre há uma brecha pra escapar, uma desculpa. Somos a sociedade tecnologizada da incompetência high tech, multimídia, pós-moderna! Ou seja, falamos um monte de bobagens e fingimos que nos deixamos enganar só pra postergar a decepção, pra evitar a briga, o confronto ou a cobrança, porque não queremos ser cobrados. Quem cobra é o chato.

Sou a chata! Este post é um post chato! E você pode parar de ler agora! Mas lembre-se que é sempre mais fácil e sempre haverá uma desculpa e um jeitinho de escapar disto também. Sei que vou perceber pelo sorrisinho amarelo que vou receber de alguns de meus leitores... Mas também sei que esse sorrisinho disfarça uma dor real porque todo mundo já sentiu essa vontade de atacar o ponto fraco de todos, mas que ignorou para dar uma de legalzinha.

Não quero ser legalzinha. Quero que as coisas sejam feitas direito! Não estou exigindo perfecção ou dando uma de chata ou de exemplar, pior, hipócrita. Só acho que não combina querer ser bem tratado e não cumprir sua parte.

Competência é algo que se conquista exercitando a arte de fazer tudo como gostariamos que fôsse feito para nós. Tenho uma lista muito curta de amigos que assim o são e todos escolheram isso e sei que posso contar com todos eles. O restante, fico só aguardando a hora em que seus discursos vazios e suas poucas ações vão me decepcionar.

Há os que me enganam, os piores, prefiro os que são convictos e felizes. Neste caso já sei com o que posso contar da parte deles. Não muito, mas é verdadeiro. Sei até onde as conversas podem ir, até onde os pedidos podem ser feitos, até onde dá pra ouvir e até onde é preciso partir a conversa ao meio com gentileza.

Nesse caso a incompetência é uma benção.

Mas aos outros, que vestem-se do que eu quero para se aproximar e depois acabam deixando a costura das vestes se desfazer, estes eu considero uma maldição. Sei que em muitos casos houve boa intenção. Que o sujeito até queria se aproximar e ser aquilo que tanto alardeava. Mas é incrível como a inevitabilidade salta aos olhos... A costura afrouxa porque o que é proposto é insustentável. O indivíduo não aguenta por muito tempo. Não dá conta, foge, mente, entorta as próprias palavras ou pior, as minhas! E pensa que engana, mas na verdade se engana. Meu silêncio e meu olhar tenta dizer, porque meus lábios estão selados pelo desencanto. Não perco mais meu tempo explicando.

Uma das minhas frases favoritas para esta situação é: "São nossas escolhas que fazem quem somos...".

Nada contra. Escolha perceber-se incapaz, admita sua incapacidade. Faz bem. Quando eu o faço me sinto frágil e atingível e isso é tão bom! Porque é meramente humano. E é impressionante quantas mãos se estendem quando se tem a coragem de admitir não saber o que fazer.

Experimente... Nesse caso a incompetência pode ser uma benção!

O que eu não daria para ouvir: "Sei que tem alguma coisa errada, sei que não consigo ver o que é! Será que você pode me dizer o que é por favor? Gostaria tanto de concertar isso mas não sei por onde começar e não suporto mais essa sensação que sinto cada vez que te vejo."

Mas até para isso é necessário competência não?

Boa sorte a todos abençoados e amaldiçoados!


segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Those who never gone!

Acredito ser a arte de sair de cena um talento de poucos.
Adoro simplesmente sair fora depois de uma frase de efeito!
Atores frustrados que somos... Todos!

Mas e quem não quer sair?
Pior que o encosto, que gruda que é uma beleza (favor consultar posts anteriores), os que não saem definitivamente fingem que saem... Por alguns meses, anos até em alguns casos. Mas voltam... Sempre voltam! Basta terminarem o namoro, ou sentirem-se solitários, ou sentirem-se solitários dentro do namoro... Não importa. Qualquer sensação mínima de marasmo correm atrás da ex.

As conversas são sempre as mesmas... "Ai que saudade!", os mais emotivos. "Te vi na rua!", os casuais. "Vi um programa na tv sobre Amazônia!", os banais. Mas todos, todos tem o mesmo olhar saudoso, o mesmo sorriso e a mesma energia vital ecoando em meu estômago: "Quem sabe rola?"!

Não rola! Por que? Porque são histórias maravilhosas que acabam todas do mesmo jeito: "Você é uma mulher forte demais, extraordinária demais, mas eu não posso oferecer o que vc quer!" Já ouvi tanto que tenho vontade de virar as costas e largar falando sozinho assim que vejo aquele par de olhos ardendo de olhar pra mim criando coragem para dizer o velho clichê de sempre. Voltar depois disso? Da desculpa mais antiga do mundo. Cansei de ser sensacionalmente sozinha!

E se é isso mesmo, por que a volta um tempo depois? E a freqüência é assuntadora, só nessa semana dois! No mesmo dia! Será que eu devo me sentir orgulhosa disso? Pior que não consigo! Só vejo mais e mais perfís iguais de homens, tão iguais e clichê quanto as frases que me dizem quando querem encerrar a história. Já nem respondo mais, fico olhando fazendo cara de paçoca! Não há o que dizer! Não disse que eu era demais, que não podia me oferecer o que eu queria... Agora pode? Por que? Virou um sujeito demais também?

Não consigo acreditar nos papos do "Agora vai ser diferente!". Isso é só uma vez na vida com o encosto! Quando vejo outro encosto se aproximando já corto de vez. É melhor nem deixar rolar sabe?

Por que? Tá achando que as pessoas merecem uma chance?
Desculpe! Mas se é pra sair de cena, saia bonito. Se a frase é: "Você é demais e eu não posso te oferecer o que você quer." Saia tão humildemente quanto a frase e não volte! Aí tudo fica combinante! Agora essa de revivle não dá não! Quem vive de flashback é danceteria, só as quintas feiras e às duas da manhã já acabou tudo porque sexta feira é dia de trabalhar!

Eu já tentei! Sei do que estou falando. Essas conversas de... Ah! Não tá rolando nada com ninguém mesmo! Por que não? Não! Porque aí começa tudo de novo! O encantamento, a sensação enganosa de que talvez dê certo desta vez e logo em seguida... "Eu estava enganado, pensei que fôsse capaz..." E aí a dor de uma segunda perda é insuportável. Porque vem acompanhada da sensação de burríce!

É estúpido demais! Por isso evito! Corto mesmo! Já dou umas pancadas, uns coices e jogo limpo logo! Sei que no mundo dos sentimentais isso é desprezível! Mas já amarguei muito por pessoas que não foram honestas comigo por medo de me machucarem e me magoaram mais ainda! Portanto sou sincera. E digo logo: "Não faço isso por você, mas por mim mesma!".

Chame de egoísta, de mulher com cabeça de homem! Pouco me importa! Sizígia é isso! Saber fazer uso do masculino. E eu faço! Quando preciso eu faço! Vem de titi na internet, de conversa mole no telefone, de olhar de peixe morto no celular! Pouco importa! Sou direta! Gone baby gone!

Sei que é trocar um sofrimento por outro. Mas eu prefiro esse mesmo! Morrer na mesma praia não. Se for pra morrer que seja numa praia nova, porque aí pode-se dizer que tentou, que não sabia, que não conhecia o figura... Essas coisas. Mas com o mesmo? De novo! Ah tenha dó! É uma questão de amor próprio!

Mas e na cabeça deles hein? O que será que faz esses caras pensarem que podem ir e voltar assim? Uma dessas histórias que voltou essa semana já tem oito anos! Acreditem! Oito anos! É tempo demais! Não dá pra re-re-re-reconsiderar não é?

"Pode ser amor verdadeiro!" Se empolga uma amiga minha toda romântica! Ahan! Oito anos é um casamento inteiro babe! Se depois de tudo isso não soube o que queria, vai saber agora por que? Hein?

Talvez seja isso. Talvez esse monte de ex me procure porque já sabe que eu sei que eles não sabem o que querem e tentam um breve momento de euforia, um resgate do que um dia já foi. Como se eu fôsse um youtube or something!

Precisa ver a reação quando conseguem me fazer falar que estou só! Nooossa! A euforia que nem se preocupam em esconder é enervante. Devem achar que já ouvi a mesma coisa de tantos outros e que sempre serei demais e impossível de agradar!

Talvez seja verdade!
Talvez seja essa a maior verdade de todas!
Sou demais pra qualquer homem e além de toda a sua capacidade de me fornecer prazer!
Mas rebaixar os meus gostos por conta disso!
Never!
E assim faço a minha saída de mestre!
Babe... I'm gone!

domingo, 28 de setembro de 2008

Infatuation

Ora vejam só!
Ao sentar à máquina para mais uma diarréia terrível (favor ler o post anterior para não pensar bobagem!), me deparo com uma necessidade química!
Ver um clip do Rod Stewart!

Legal o Rod Stewart. Um cara de diarréias também (em meu pequeno modo pessoal de analisar processos criativos das pessoas). Ele some por vários anos e depois aparece com umas combinações malucas, como a parceria com o guitarrista Jeff Back, na música título deste blog. Depois some mais alguns outros anos e reaparece com um cd de remake de clássicos do Jazz e do Blues. Sempre um sucesso de milhares de cópias.

No clip da referida música, ele aparece em meio a um thriller em pb (adoro fotos e clipes em preto e branco) onde ele é um foyer de uma linda mulher, sua vizinha de condomínio. Típico dos clipes dos anos 80 e 90. Clip com historinha! Divertidíssimo! O quarto dele é todo decorado com fotos da vizinha, que era uma modelo famosíssima naquela ocasião, sei lá. Ele deve ter se casado com ela, não importa, o que me envolve é o solo delicioso do Jeff Back, que também faz uma ponta no clip e o desfecho da história do maníaco que acaba se dando mal nas mãos do gangster do qual a vizinha é amante.

Bacana vai! Adoro assistir no youtube e matar saudades dos clipes com historinhas e das músicas decentes dos anos 80 e 90, com metais, estrutura e uma letra que simplesmente fala de sensações íntimas suas.

E é assim que eu me sinto. Infatuated.

Não gosto da tradução, apaixonada, prefiro a fixação que o autor da música representa tão bem no filme.

É isso! É uma fixação. Uma obcessão. O saber-se encrencada, cometendo um grande erro, entrando em beco sem saída, não conseguindo comer, nem trabalhar, nem correr. E "machuca tão gostoso!" que "eu não entendo"!

É claro que não é pela moça do clip ou pelo meu vizinho (que não tem nada de atraente), é por alguém que eu queria que fôsse meu e só meu. Gostaria de ser vizinha dele, mas isso é tecnicamente impossível e gostaria de ser foyer dele, mas também não há a mínima chance.

Ele não responde minhas mensagens de celular. Tenho medo de ligar pra ele ou procurá-lo, porque apesar das diferenças o final desta história pode ser igual ao final do clipe.

Pois é... Ele tem dona! Isso piora bastante, não que eu seja apreciadora desse gênero de história, mas vez enquando acontece. Bem que eu tentei evitar por um bom tempo, mas... Quando vi que a recíproca era verdadeira logo no começo da história, percebi que era só sentar e esperar pelo desastre. Que ainda não veio, mas já está a caminho.

Essas coisas são assim inevitáveis. Por mais que os amigos, os colegas de trabalho e os elfos falem do quanto isso é uma fria, é involuntário. Infatuation! Há palavras em inglês que são perfeitas demais para serem traduzidas. Essa é uma das minhas favoritas.

Os dias vão passando e sei que algum desfecho virá e que será trágico, só fico pedindo para que haja pelo menos um momento em que algum dos meus delírios pudesse se tornar real. Talvez mais um encontro, o derradeiro antes do kaos para a minha sorte de condenada. Mas é uma vã esperança. Quem não tem uma vã esperança? E quem não viveu uma historinha sem vergonha como essa? Se pronuncie! Não é incrível como o vício é forte? Durmo pouco, corro no parque, danço até morrer na sala, como um pratinho de passarinho só para não desmaiar e qualquer tremor do meu celular é um terremoto nos meus músculos.

Tudo o que peço é só mais uma dose! Como um viciado, um alcólatra, um fumante. Mas não é algo que eu possa comprar. É algo que depende do desejo do outro. Um desejo que já existiu, mas que pelo vazio da minha caixa de mensagens do celular, existiu é a conjugação correta.

Poderiam existir clínicas e tratamentos para isso, como existem para os outros tipos de viciados. Tome uma pílula de "Toma vergonha na cara!", acompanhada de um copo de "Para com isso!" e pronto! Problema resolvido! Talvez umas pequenas doses de "Que coisa feia!" para complementar o tratamento por uma semana e caso resolvido!

Mas não! A piração fica aí! Firme e forte! Te enlouquecendo a noite inteira e te arrancando da cama logo que amanhece. Como é possível tamanha energia! Isso porque o sujeito não é visto a meses! Porque se fôsse, como o caso da feliz vizinha do infeliz Rod Stewart, eu já seria passado.

A distância piora mais as coisas, aumenta a fantasia, ajuda a arrumar desculpas fantásticas! Tudo para estender o barato. É uma química poderosa. Nada mais é necessário, o pico vem sozinho, basta qualquer idéia absurda, como uma lembrança idiota qualquer. Uma música que lembra um momento. Uma bebida que lembra uma noite. Um clipe de música que fala do mesmo tipo de perigo...

É... Estou condenada.

Quem sabe qualquer dia consigo contar a história toda. Se é que acabou. Ou talvez tenha acabado e eu ainda não aceitei.

Nem quero aceitar. É uma química boa demais para ser encerrada assim sem um final satisfatório. Estou até emagrecendo! Tomara que dure até eu ficar macérrima e ele cair aos meus pés... Mas aí... Vai acabar o barato... Certo?

Boas químicas para todos!
Angélica

Por que demoro para escrever?

Talvez seja porque tenho uma oposição de Netuno com Saturno na minha casa solar.

Mas colocar a culpa no mapa astral talvez seja superficial demais.

Posso me desculpar com algum acontecimento fatídico como uma promoção no trabalho que agora come o meu tempo feito um tumor, ou mais uma história de amor que parecia promissora e que mergulhou no vazio antes mesmo de se configurar como tal... Mas isso deveria inspirar ou pirar não?

As pessoas me cobram bastante! Deveria ficar lisongeada mas fico constrangida e fujo para os mesmos vícios. Os escritores que conheço me contam que isso é processo. Falam em tom marital que devo enfrentar o demônio olhando em seus olhos todos os dias.

Mas fugir é sempre melhor... Não?

Quantos romances interminados, uma novela, milhares de contos. Tenho o final de todos eles pipocando em minha mente... Mas o coma perante a televisão sempre vence. Ouvir o mesmo cd de blues até me acabar de dor por mais uma perda vêm logo em segundo lugar e ligar para os amigos e me atolar em contas de telefone quilométricas vem logo em seguida. Ás vezes são os três juntos!

Que falência ridícula. Ficar sem dinheiro, não sair de casa, ver tv pendurada no telefone e reiniciar o ciclo sem fim. Se sentir horrível por disperdiçar vida assim, entrar numa fossa tectônica por isso (porque fossa de esgoto já passou longe hein?) e não escrever por pura tristeza profunda devido a sensação de fracasso tomar conta da mente e torná-la improdutiva.

Acho que consegui explicar bem não?

E devo ter decepcionado muita gente também não?

É o preço de se mostrar em sua verdadeira face. Não a mascarada, coberta de maquiagem para disfarçar as olheiras de mais um final de semana insatisfeita em casa ou trabalhando até a morte para se esconder de si mesma.

Isso é que é demônio. Daqueles que não dá pra olhar nos olhos.

Resolvi portanto falar dele. Não escrevo por isso. Fico meses sem aparecer em orkut, sem ler e-mails. Se bem que agora depois do aumento do trabalho (vulgo promoção), tenho que olhar vez enquando, mas abro e respondo somente correspondências urgentes. Fracasso pessoal sim, mas desapontar pessoas que prezo... Ainda não né? O restante, fica todo parado, esperando o que eu chamo de diarréia produtiva. Que recomeçou hoje, criando uma frase para um concurso de revista feminina sobre a importância da maquiagem.

"Minha nossa!" Deve ter pensado que leu até aqui. Antes que desista, por favor, leia somente mais esta máxima do sentimento de fracasso: Não sou perua! Sou uma mulher. Gosto de ser elogiada pela rapidez com que resolvo grandes questões, pela criação de situações cômicas sem ensaio, pelo bom humor e alto astral, mas se tudo isso vier acrescentado de um elogio à minha pele, ao meu cabelo, à minha roupa ou todos juntos de forma bem verdeira, ganho o dia. Como qualquer mulher!

Por isso me inspirei para voltar a escrever aqui após me inscrever em um concurso de revista feminina sobre a importância da maquiagem sim!

E, em tempos que fotos de capas de revista são maquiadas por programas de informática para melhorar as imperfeições dos modelos fotográficos, quem é que vai me contrariar sobre a importância da maquiagem.

Faço maquiagem todos os dias. Cubro todas as pequenas imperfeições do meu rosto com um cuidado artesanal todos os dias. "Devia escrever todos os dias!" Sussurra o demônio com um riso de escárnio ao final da repreensão diabólica. Uma verdade. Mas maquiar-se também é fuga e escrever... Nem sempre.

Agora, devidamente explicada. Me sinto feliz ao anunciar que voltei a produzir textos para este blog e satisfeita por não ter que pedir desculpas ou me explicar para ninguém. É assim que vai funcionar. Aí vem a diarréia... Logo mais... Mais uma extraordinária fuga.

Quem sabe com este post alguma coisa mude... talvez os intervalos diminuam... Talvez não...

Abraço a todos!
Angélica

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Sizihgia na Balada Flashback

Essa história de voltar para a balada abriu certas portas na minha mente sabe?
Pastas antigas, recordações.
Tempos que eu chamava de "Tempos de Elevados Índices de Auto-destruição".

Deixa eu introduzir o assunto, afinal não é tão simples assim. Eu não saí pra balada só pra me destruir porque eu simplesmente decidi isso. Não! Sempre há uma força que te impulsiona a atos como este: a auto-destruição. E no meu caso foi o da maioria dos pobres mortais:

Um amor desgraçado!

Isso mesmo! Todo mundo tem um cafajestão na sua vida! Um maldito que cospe o teu amor de volta na sua cara e te intoxica com uma montanha russa de sentimentos tão grande que é impossível não viciar. Todo mundo passou por isso. Se não, vai passar... É só uma questão de tempo. (hahahahahahhahahah!)

Acredito que essas facetas do masculino perverso (calma aew porque eu tenho o conhecimento que o perverso feminino tem igual potência destruidora, mas esse é um blog meu e eu sou feminina portanto...), são aspectos mal resolvidos do nosso masculino dentro de nós (e vice-versa portanto). São coisas mal resolvidas na sizihgia dentro de nós (dúvidas leia o cabeçalho do blog por favor). Masculinos mal resolvidos internamente nos seres femininos desencadeiam essas coisas. Desespero por figuras excessivamente masculinas, sem feminino algum e que dão a false impressão de atração magnética dos polos invertidos. Não somo pilhas, somos seres humanos! Temos que resolver essa polaridade dentro de nós e não com o sexo oposto!

Pois é... Nessas! Anos luz longe de chegar a essa conclusão que é a luz da minha vida afetiva atual. Eu viciei no meu amor bandido por muitos anos. Isso mesmo! É dramalhão mexicano mesmo! Anos! Contando com o início das histórias, os desfechos, as mortes, ressurreições e cafajestadas (afinal ele não foi o único eu aprendi bastante e revidei sobre o próprio mestre), sem falar nas crises de abstinência até o desligamento final ao qual eu chamei de sublimação.

História comprida! Não dá blog! Dá livro! E dos grandes! Romance de fazer mocinha chorar! Conto outro dia! O que eu quero aqui é falar das sessões de auto-destruição. As tais baladas altamente destrutivas.

Elas ocorriam entre uma recaída e outra, uma morte e uma ressurreição do caso, um desfecho mequetrefo e um retorno em grande estilo. Um amor de tango, de Nelson Rodrigues, de Sid e Nancy,de vexame em festa de fim de ano, de Delegacia de polícia.

Por isso a auto-destruição. Para conseguir os picos de energia masculina sobre a feminina que eu tinha com aquele amaldiçoado ser, eu precisa do equivalente quando eu tentava deixá-lo.

Começava pelas roupas, pelo corte do cabelo e a cor das mechas, os sapatos. Tudo agressivo. Eu tinha que agredir porque era agredida. Óculos escuros sempre! Não importava a hora! Tequila sempre! Não importava a hora! Cigarros sempre! Não importava a hora! Balada toda a noite! Atirava o relógio por cima do ombro antes de sair de casa.

Varava as noites indo trabalhar logo em seguida e o encontrava sempre quando desabava do carro de ressaca ou ainda bêbada! Porque encosto que é encosto pinta no local de trabalho, pra acabar de estrepar com a sua vida em todos os níveis! E quando dava de cara com ele e com seu senho franzido pela estranheza de me encontrar cada vez mais auto-destruída eu me deleitava.

Passava a noite me estragando só para causar uma expressão cada vez mais perplexa, dar um sorriso ainda mais jocoso e sair rebolando e me escorando nas paredes com um sex appeal cada vez maior. Ainda não sei quem eu matava mais, se era ele de desejo ou a mim e minha alma feminina de desgosto por me contentar com tamanha mediocridade.

Meu cenário favorito era a mesa de um rock bar bem alternativo, a maioria já nem existe mais porque como já comentei em histórias anteriores que essa fase "baladeira" é antiga. Bebia sempre tequila, trazia um charuto na bolsa. As amigas acompanhavam e os homens nas outras mesas piravam. E nós chutavamos todos eles numa vingancinha juvenil, só para tentar aplacar a dor em nossos corações femininos, com elevado complexo de vítima por nossos algozes, os amores bandidos. Todas passavamos pela mesma maré!

Eram noites eternas, a hora não seguia devagar porque tudo não passava de uma agonia disfarçada. Me lembro que bebia tequila até a letargia amolecer os músculos e a ansiedade se tornar um tick nervoso distante, brincava com a fumaça dos tantos cigarros de diversos sabores, fazia pose, batia na mesa quando tocava Doors, Stones e Jimmy Hendrix e cantava aos berros desafinando com as amigas num coral lazarento de matar todas as mesas vizinhas de raiva. Tudo era exagerado, os risos, a voz, as piadas, as dancinhas, as frases feitas, as frases código, os movimentos. A ordem era chamar a atenção, cativar, laçar e chutar. E quando o auge chegava, lá para as duas da manhã, acendiamos o charuto e tomavamos a tequila pura, sem o ritual do limão e do sal que gostavamos tanto de exibir só pra enlouquecer os machos em volta chupando a mão com sal.

Depois do charuto, vinham os chutes finais nos teimosos que ainda não tinham sacado que ninguém queria nada com ninguém ali e finalmente começavam os papos bêbado-filosóficos. Ahhh essa era a melhor parte! Porque na primeira esculhambavamos com tudo, homens, mulheres, relacionamentos e afins. Depois começavamos a criticar com mais inteligência formulando teorias brilhantemente alcólicas. Lembro dos meus nervos se assentarem, de sentir prazer, de ver o dia raiar com um ar prepotente, uma certeza de que chegaria ainda mais altiva para trabalhar e encontrar o carcereiro dos meus sentimentos com mais deboche do que nunca.

Quando as amigas cansavam e não aceitavam meus convites, eu ia só. Encostava-me no balcão cheio de cabeludos, pedia tequila e tomava pura de virada, fazendo os caras delirarem, dava bola pra todo mundo, depois ia chutando todo mundo entre uma virada com limão e sal e outra pura, entre um cigarro e outro, fazendo pose quando eles acendiam seus isqueiros zippo. Até quase não ficar mais de pé, para então ir ao banheiro e me recompor com bastante água na cara pra tentar voltar pra casa. Caminhava pela rua feito um zumbi, rindo da alvorada e de mais um dia e mais um encontro com o maldito a quem eu dera meu coração.

Num desses dias, voltei ouvindo Red House Blues do Jimmy Hendrix no discman porque mp3,4,6,8 truco! Tava longe ainda...

Um Blues maravilhoso, digno de uma Blue Noite, mas que naquele dia caia bem para chegar em casa com o dia quase claro.

Lembro de ter comprado o jornal com o cigarro pendurado na boca parecendo o Keith Richards e da cara perplexa do jornaleiro com o meu estado, com os óculos escuros escondendo a pior parte do meu rosto devastado pela auto-destruição noturna.

Também me lembro da mudez do pessoal da padaria perto de casa, todos comentando a minha vida como juízes de uma escola de samba que passava. Comprei os pães fazendo sinais com os dedos. Daria na mesma se eu tentasse falar ou não.

Me lembro de ter chegado em casa me arrastando. O barulho da borracha do cuturno no piso da cozinha me despertou o suficiente pra fazer café, tentar ler jornal até a água quente passar pelo coador, esquecer o açúcar e cuspir tudo na mesa, ir tirando a roupa pela cozinha, pelo quarto de vestir até o banheiro, ligando o chuveiro, nua, de óculos escuros e cigarro na boca.

Pronta em minutos, com o mesmo look agressivo só que com peças limpas e material de trabalho na bolsa enorme. Eu aguardava a carona do meu algoz. Porque encosto que é encosto trabalha no mesmo lugar e é vizinho também pra acabar de estrepar com a sua vida em todos os níveis possíveis e imagináveis. E, é claro, te oferece carona! Sempre!

E lá vinha ele descendo pela rua, com seu carro brilhante e sorriso voraz, ávido por saber o que eu tinha aprontado na noite anterior.

E eu louca pra injetar um pouco mais daquela morfina em mim, colocando as botas no painel do carro dele e fumando um cigarro com ar altivo e sexy, seduzindo-o de novo, ressucitando outra vez o que jazia morto a dias atrás... Outra vez. Só mais uma vez. Só mais uma...

Hoje, escolhendo as situações tóxicas que quero e pelo tempo que desejo, respeito muito aquele momento da minha vida afetiva. Eu respeito muito o cafajeste da minha vida. E mesmo quando muitos anos depois, sua escolhida o deixou e talvez o tenha feito sentir algo um décimo parecido com o que eu outrora senti, fui muito gentil em declinar seus convites.

Hoje escolho minhas baladas e minhas dores.

E valorizo muito aquelas noites e aquelas faces femininas que carreguei com orgulho. Tenho orgulho de ter assumido aquela paixão suicída. Tantos se escondem, fogem, evitam a dor, mas a dor nos faz sentir vivos e nos traz a possibilidade de escolher se queremos repetir a seqüência ou trocar de caminho. Quem sabe escolher caminho algum. Talvez escolher estar só de corpo e alma finalmente e mais que finalmente em paz.

De todas as baladas que já fui antes desse divisor de águas da minha vida afetiva e todas as que vieram depois, esse é o meu flashback de balada mais caro. Um tempo em que a minha maré viva, a minha sizihgia, estava avassaladora, uma verdadeira guerra dentro do meu ser, uma zona de combate em meu corpo, uma constante luta em minha mente e uma bipolaridade etérea da minha alma.

Tempos que me lembro com honradez, que não deprecio nem desfaço. Não! Não fui uma boba! Não desperdicei meu tempo nem minha vida nessa história. Estou convencida disso! Abandonei a bebedeira. Tequila? Uma dose com limão e sal num bar cubano que eu goste? Por que não? Charuto? Uma baforada dos charutos que o meu chefe leva nas nossas churrascadas de final de ano tá ótimo! Cigarro? Numa Blue Noite ou outra a fumaça do incenso quebra um galho legal.

Já vi o fundo do poço. Já vi o quanto posso me aniquilar, me refazer e me aniquilar outra vez. Já descobri que lá no fundo do poço ainda tem um alçapão, já abri e já entrei e a dor é a mesma de quando nadei de volta pra superfície e respirei pela primeira vez ao emergir pela primeira vez após anos mergulhada na lama!

E me lembro de uma frase que escrevi muito numa época em que não havia blogs, só diários de guardar na gaveta com chave da escrivaninha... "A vida chama... Depois de toda a tempestade, depois do olho do furacão... A vida chama... E o convite é irresistível!"

Inesquecível não?

quarta-feira, 12 de março de 2008

Sizihgia e a Balada

Pois é!



Decidi que chegou o momento de parar de contemplar a passagem do tempo!



E logo com qual atitude minha decisão foi para a prática?


Decidi ir para a balada!


Pois é... logo eu, uma mera geógrafa pagã, ligada a natureza, com atividades ligadas ao dia e as trilhas na mata. Atividades noturnas?! No máximo um banho de mar a noite em uma praia deserta...


Foi um grande passo! Não que não goste de baladas noturnas, eu até vou uma ou duas vezes por ano, em aniversários... o meu e o de mais algum dos meus poucos amigos que gostam dessas coisas!




Não foi sempre assim, já foi diferente, já consegui ser baladeira, nuns tempos passados aí, quando a idade era mais de banana verde e o frescor da adolescência ainda fazia o corpo todo vibrar uma eletricidade que nunca acabava! Aproveitei bastante o tempo da noite, chegava até a lamentar quando o dia amanhecia.


Deu coceira na bunda ?


Deeeeeu!


Tudo bem analistas de plantão! É verdade! O meu lado solar fala alto aí! A Geografia! O Ambientalismos! Mas há também uma forte dose de preguiça e medo! Vontade de me esconder do mundo, vergonha, recalque, timidez, comodismo e tudo o mais! Assumo! Sou uma encalhada assumida e feliz!


Porém, o que mantenho como minha defesa é o argumento de que abandonei as atividades recreativas noturnas nos últimos anos porque elas acabaram por se tornar chatas, previsíveis e enjoativas. Sempre os mesmos personagens, as mesmas peças no mesmo tabuleiro com um final típico, previsível e de custo elevado demais! Enfim, são desculpas, mas são boas!




São boas por que? Porque são reais, ora! Ir para a balada e viver emoções fortes é raro nesses dias de século XXI com as chamadas tecneras, as raves e afins. As pessoas buscam outras coisas! É verdade que o que eu chamo de emoções fortes é diferente do que a moçada baladeira de hoje chama de emoções fortes. Tem algumas semelhanças mas a atitude e a intenção mudaram um bocado.



Por exemplo, o piscar das torres da região da Avenida Paulista vista do carro seguindo pela pista expressa da marginal pinheiros, continua impagável! Continua um marco que aponta o centro nervoso da balada paulistana, o ritmo das luzes parece o bombeamento do sangue urbano noturno pelas veias do corpo da cidade, como um pulso. É um ritmo intervalado de forma magnífica. A respiração muda, os olhos apertam, a boca abre um sorriso voluptoso, o som do carro fica mais alto porque todos param de falar e entram no transe, o pé da motorista afunda no acelerador, tudo é velocidade, na estrada e na mente. Isso não mudou.


Fazer um tour pelos principais pontos de encontro é que mudou. São muitos! Em vários pontos da cidade! Tem mais tribos musicais! Mais variações de casas noturnas e bares! Os preços continuam altos e continuam raras as noitadas mais em conta, principalmente se a tribo procurada ou o estilo da casa está na moda.


Fila na porta é comum! E aí as diferenças saltam aos olhos! Na fila as personagens repetem figuras antigas. As mocinhas com os cabelos extremamente tingidos, extremamente lisos, os saltos das sandálias extremamente altos, as roupas extremamente coladas. Um tipo de beleza que não é novo. A moda não é nova. Moda é divertido! As energias é que são outras. Sinto falta de mais atitude. A escravidão da moda não é só pra mulheres! Os homens também tem seus pré-requisitos para estarem ali. Os corpos malhados, as camisas ou camisetas justas, cortes de cabelo iguais e adornos muito parecidos lembram um exército. Terrível!


Quem está fora deste padrão (uma vez uma amiga que é super ligada nessas coisas os chamou de "out"), sente-se realmente fora imediatamente. Raros são os que tem atitude e matem a altivez diante daquele exército de corpos e semblantes duros, cada um olhando para uma direção como se suas vidas fossem um longa metragem de cinema de grande sucesso, com apenas eles mesmos como protagonistas únicos da história. Nessa fila de geladeiras meus olhos procuravam pelos altivos "out", pessoas que olhassem umas para as outras, que sorrissem, que não agissem na defensiva ou na posse de todo o tempo e de todo o espaço em volta delas.


Daí o cadastramento irresistível, prática costumeira das minhas noitadas de outrora:


Personagens típicas da balada:


A Rainha da Balada: corpo de bonceca de academia de ginástica, cabelo perfeito, maquiagem que não derrete, roupas do último grito da moda! Super in! Dança com movimentos controlados para não transpirar, olhar no horizonte, inatingível, alvo certo do Gatão Malhadão

A Gordinha Palhacenta: super animada, risada gostosa, roupas super combinadas num estilo original, fala alto, ri alto e tá sempre saindo da fila com movimentos largos pra todo mundo olhar e falar o quanto ela parece divertida apesar de ser out.

O Gatão Malhadão: garrafa de cerveja na mão para bebericar sempre mostrando o braço extremamente apertado pela manga da camiseta colada e os músculos explodindo. Ou então com as mãos nos bolsos da calça de cintura baixa com a mesma finalidade. De olho na Rainha da Balada, afinal quem pegar vai ser olhado por todos os outros e será o macho alfa da noite! Absurdamente in os músculos da barriga sarada que ele tenta mostrar "sem querer" gritam: in! in! in!

A Inha: são meninas tão pequenas que precisam andar com o RG pendurado no pescoço pra provar que não tem treze anos e que até já menstruam. Um tipo perfeito para a moda, tudo fica perfeito, são o manequim pp, super in para a ditadura das modelos anêmicas, dá medo de pisar em cima, andam em bandos pra fazer volume e também são as favoritas dos Gatões Malhadões.

O Desesperado: cola em uma garota se ela simplesmente passar os olhos por ele. Não percebem que não foi um olhar prolongado de quem tem interesse, não percebem que chegam perto demais pra falar, pra dançar, pra oferecer cerveja ou qualquer outra coisa. Não percebem nada! Só sossegam quando levam um mega fora, aí saem bicudos, chingando e ficam olhando feio o resto da balada ou vão atrás de uma outra garota que ainda não tenha aprendido a não olhar pra eles. Adoram a Inha e se esforçam tanto para serem in, que fica apelativo demais, mais ainda que os Gatões Malhadões porque transpiram a ansiedade em que se encontram!

A Desesperada: a princípio confundível com a Rainha da Balada, não fôsse seu olhar desesperado pra todos os lados em busca dos Gatões Malhadões. Dança com movimentos maiores e mais sensuais porque precisa se fazer ver desesperadamente. Geralmente pega o refugo da Rainha da Balada no final da noite, quando o páreo terminou.

O Palhação: dança com movimentos exagerados, bebe exageradamente, tenta encoxar alguém e ri de si mesmo quando não consegue, tenta conquistar a Inha e, fatalmente ignorado vai zoar com os companheiros ou achar alguém out, porque decidiu no meio da balada que não quer mais ser in.

A Bacana: Não tem grandes movimentos de dança, não usa roupas in, mas faz aquele comentário inteligente que todo mundo cala porque acha out, ficar puxando papo na balada. Está ali pra se divertir e acaba segurando a onda do amigo Palhação ou da amiga Desesperada quando esses não conseguem o que querem. Quando é amiga da Inha, tem que se virar pra voltar sozinha e sempre ser compreensiva.

O Alternativo: Roupas super diferentes, out mas in, perdoado pela originalidade, olhar crítico, parece comentarista de Oscar, cara de conteúdo, paga de intelectua, nunca se meche, raro abordar alguém, entra e sai da balada com a mesma cara e se alguém chega usa frases feitas bastantes comuns do tipo: "A casa tem uns DJs de trance e hip hop que eu curto...! e tals!

A Autêntica: Absolutamente "na dela", é in, mas dança pra si mesma, faz questão de mostrar que está ali pra se divertir mas também quer ficar com alguém, espera ser encontrada como a Rainha da Balada e copia o estilo dela só que com algum toque pessoal pra não parecer mais uma. Tem pavor de ser comum e curte o Alternativo, apesar de identificar logo suas frases feitas.

Em um mapeamento rápido, o diagnóstico foi instantâneo! Os "in" dominavam toda a fila e as filas das baladas do outro lado da rua. Estavam em Toda a parte! Um ou outro aqui e ali não eram "out" de verdade uma vez que estavam cabisbaixos e sem atitude, afetados pela intoxicação dos "in", eram os desesperados, palhações e as palhacentas, que não usavam as roupas requisitadas ou não tinham as formas físicas requisitadas.


Não quero ser saudosista! Nem bancar a hipócrita com máximas do tipo "no meu tempo era diferente"! Não mesmo! O mundo sempre foi dos magros e a moda uma ditadura das cores, cortes e modelos de roupas.


Mas pera aí! Tem o corpo, tem a roupa e tem a atitude. Tem modelos fotográficos horrorosas hoje em dia, com narizes inacreditáveis, estaturas impossíveis para a profissão, formas físicas esqualidas que chegam ao bizarro! Mas estão ali porquê? Porque tem atitude! O olhar, o jogo de pernas a posição do corpo, dos braços.


Só que essas pessoas de atitude são modelos profissionais! Tem essa atitude porque esse é o seu trabalho! Já fui manequim! Existe o olhar certo, o ângulo certo, a posição gestual correta para a idéia a ser transmitida! Só que isso é para uma passarela, para o momento de uma fotografia a ser tirada! Nunca para o trato com os outros, sem socialização, sem integração, sem contato. Era isso que eu via, uma verdadeira fila de geladeiras.

Acho que nem preciso descrever o resto da balada não?

Um casal ou outro vivendo de fazer pose ao dançar, ao beijar, ao encenar uma paixão que dificilmente vai sobreviver ao nascer do dia, uma série de pessoas dançando para si mesmas na esperança louca de que alguém desafie romper sua redoma e as conquistar, resultando em um monte de pessoas terminando a noite sozinhas.

As Inhas todas acompanhadinhas pelos Gatões Malhadões, a Rainha da Balada aos beijos no saguão da saída com o Gatão Malhadão vencedor da noite, a Desesperada lutando para fazer igual sem muito sucesso porque não convence a si mesma nem ao cara que está conversando com ela, quanto mais a galera! A Bacana fazendo careta na fila do caixa, o Palhação dando show na fila para a saída juntamente com a Gordinha Palhacenta, a Autêntica se esforçando para se mostrar interessada na conversa mole do Alternativo e o Desesperado de cara feia para a Inha que o desprezou.

Voltei pra casa com a barra do dia já disparada, morrendo de rir das minhas amigas e dos personagens que, sem imaginar a crítica que eu fazia, lutavam por atuar até o fim e me ajudando inclusive a descrever ainda melhor os outros. Espero que não se ofendam.

Mas o fato é que tudo isso é irremediável. Balada é isso. É se divertir representando um papel, uma faceta que temos e que acreditamos ser a ideal para uma noite emocionante.

O que me enjoa é a mesmice das escolhas e a falta de interação. Mas, num mundo de orkuts, msns, blogs e tantas outras ferramentas de culto ao individualismo... Como é que isso seria diferente. Não é a toa que a política, a ciência, a religião e a ação ambiental são tão difíceis de serem escolhidas como um ideal pelas pessoas. Ir para a balada e vestir um personagem é muito mais simples e comum.

Mas as pessoas não lutam tanto para ser diferentes? Para chamarem atenção pela diferença que fazem no mundo? Ou serei eu uma pessoa ultrapassada?

A lua, a noite, e o feminino em mim ficaram gratos pela experiência. Pude ver que muita coisa mudou mas a beleza da noite urbana continuava intocada. Cheia de pessoas que encenam muita coisa, mas que continuam buscando pela energia que continua a lhes faltar. Ao ir para a cama com a luz do sol, o dia e o masculino em mim dormiram satisfeitos. O equilíbrio das energias me tirou a tristeza por também ter terminado a balada sozinha, apesar de meio Autêntica, meio Gordinha Palhacenta e meio Bacana. Afinal, apesar de todo o senso crítico eu também buscava a mesma coisa que a maioria disfarçava ali: Emoções fortes!

Passou a coceira na bunda? Vai pra balada!




















quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Blue Noites

Hoje, logo que cheguei em casa, atirei a bolsa no sofá, a pasta na mesa da cozinha, os sapatos no canto do quarto e o corpo na cama.
Busquei a trilha sonora certa nas gavetas da mente, uma pequena obsessão pela música certa para cada momento do dia. Era uma daquelas noites em que a vida parece um filme com a música perfeita sempre aparecendo na hora certa.
No filme da minha vida, na cena da noite de hoje, escolhi um Blues que logo que começou a tocar fez todos os músculos começarem a relaxar e a mente a questionar.
O que fazer com os dias que são verdadeiros fardos e as noites terríveis em que o doloroso cansaço nos devora?
Penso nas mulheres e homens dos tempos primitivos, que exaustos sucumbiam ao sono profundo rapidamente, pelo trabalho árduo com a terra e cuja única preocupação talvez fosse viver dignamente sobre a Terra.
Hoje vejo homens e mulheres invertendo papéis e sofrendo toda a agonia e o êxtase das perdas e ganhos que essas inversões lhes trazem. Vejo o mesmo trabalho árduo, mas vejo apenas sobrevivência e pouca dignidade.
Bloggs são importantes porque neles as palavras tem um efeito um pouco mais prolongado do que a fala. Pessoas pensando, escrevendo , registrando idéias e tendo a coragem de se posicionar, de errar, de reler e se refazer. Finalmente algo digno!
Mas ações não são passíveis desse processo! O que está dito está dito! A energia já foi gerada. Um texto ruim pode ser editado. Palavras mal escolhidas e ditas na hora errada são mais difíceis de serem substituídas.

Pode aparentar despeito, mágua, rancor. Mas eu acredito na força das palavras. Eu acredito que quando a boca das pessoas se abre, dela não saem somente sons mas energia. Acredito que a fala é geradora de verdadeiras tempestades elétricas no cérebro dos outros e sempre que exaltamos o outro ou o magoamos profundamente provamos desse poder. Mais do que isso, acredito que nos apoderamos dele, manipulamos a partir dele e quando não atingimos nosso objetivo ou o preço é alto demais por um mero momento de êxtase, negamos sua existência ou tentamos reduzir sua importância com palavras do tipo cliche que são ainda mais mortíferas como "eu não sabia que causaria isso", "não imaginava que isso aconteceria" e outras tantas e piores.

Acredito que para esses momentos, de perda, de desapontamento, quando sucumbimos à fadiga da mente e do coração, a melhor trilha sonora dessa verdadeira cena de cinema é o Blues.

Para mim o Blues é para momentos blue, uma tristeza charmosa, que devora tudo numa dor deliciosa, que faz os olhos arderem, mas não derramarem. Uma contemplação silenciosa e elegante da própria derrocada. Uma perda digna que traz um sorriso dolorido e a voz interior que te fala vibrando a carne e os ossos "você já sabia que isso aconteceria". Somos viciados e nos sentimos poderosos, mas esquecemos que os outros também podem destruir afeições imensas com meras palavras mal escolhidas.

E a noite vai se arrastando. Um mp3 ou 4 pra ajudar a externar a música que já tocava na cabeça, talvez um banho quente, a luz mais suave de uma luminária, um incenso adocidado para embalar a dor e esperar o sono chegar para quem sabe parar de pensar. Muitas vezes não dá para reagir, melhor esperar a maré ruim recolher tudo e no recúo das ondas caminhar pela praia da mente e reunir o que sobrou para recomeçar.

Mas com dignidade por favor! Afinal Sizígia é a Maré Viva! É o Sol, a Lua e a Terra alinhados. Se o mar virou, bravio, se alguma energia foi desencadeada, sempre há um motivo gerador, a natureza da Terra e a natureza humana caminham juntas, assim como a maré das palavras que me derrubaram hoje teve sua razão de ser.

Talvez algumas coisas precisam ser destruídas para que outras se formem em seu lugar nesta eterna luta entre masculino e o feminino dentro de cada ser humano precisam brigar para demarcar seus espaços e se respeitarem mutuamente para a harmonia psíquica. O nocaute foi poderoso e hoje não vou reagir. Hoje sou triste. Charmosa e sexy espalhada na minha cama ouvindo um Blues na minha Blue noite. Amanhã eu reajo.

Mas só amanhã.
Boa noite.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A pergunta que não quer calar... (Maturidade Existe? Parte II)

Como o tema inesgotável que é... Mais posts! Fatalmente!
Este aqui vai para uma percepção pessoal: Um ato de coragem. Lá vai:

Acredito que a maturidade pode aparecer em alguns momentos da vida, que pode dominar aspectos inteiros da existência de um homem e de uma mulher. Mas não acredito em uma condição si ne qua non para a evolução e o crescimento.

Vejo muita gente em busca de respostas únicas! Certezas! Como se amadurecer fôsse ter alguma certeza!
Leio Jean Paul Sartre que me sussurra aos ouvidos: "Amadurecer é perder as certezas!"
O incerto abre precedentes demais, concordo! Mas o certo é tão frágil!
Não repito mais determinadas ações pois já conheço as possíveis conseqüências.
Outras repito mesmo assim... Afinal... Já sei onde vai dar mesmo... Logo... Por que não? É escolher a encrenca na certa, mas é uma escolha consciente, afinal sou adulta, madura, sou dona do meu nariz e posso quebrar ele onde eu quiser... Certo?

E continuo gostando muito de dizer que quando alguém me fala que tem certeza de alguma coisa eu imediatamente sinto coceira na bunda.

Sei que é chulo, mas é uma coceira simbólica sabe? Quando certos cliches como verdades infundadas ou frases feitas que nos fazem imediatamente franzir o nariz e pensamos "Ele(a) falou isso mesmo?!", com uma descomunal carga de ironia. Acredito que maturidade também é isso, a antecipação do desastre e a possibilidade de escolher no momento certo que hora abandonar a idéia com coceira na bunda e não porque alguém falou, porque deu medo ou o pior, porque alguém falou e aí deu medo. Coceira na bunda é um bom sinal. Se há incomodo é bom verificar o porquê, se é você ou o indivíduo que disse ter certeza e não te agradou, afinal a coceira pode ser a sua dificuldade em perceber que o sujeito pode estar certo. Largar de ser dona da verdade também é verdade e de vez enquando acontece.

Portanto se é possível ser madura em alguns momentos, pode-se afirmar que saber lhe dar com o tempo, a auto-observação, a transferência de situação, as idéias dos outros e a antecipação de situãções e a escolha do que se quer viver podem ser bons indícios de que é possível atingir um estágio de maturidade em algumas situações na vida.

E eu acredito nisso. Para dinheiro eu continuo com treze anos e gastando tudo em coisas "super importantes" como figurinhas de "Star Wars", mas posso dar alguns pitacos na escolha da carreira profissional, nos relacionamentos afetivos e na lida com a família das pessoas. Talvez possa ajudar um pouquinho também sobre a arte de ser dona do seu nariz e escolher se quer arrebentá-lo ou não! Te deu coceira na bunda? Hahahá!

Maturidade existe?

Acredito que posso partir de uma certeza: trata-se de um assunto denso para qualquer segmento, sexual, social, cultural e tantos outros segmentos da sociedade contemporânea.
Talvez seja um exercício inicial interessante começar a abordagem por uma analogia simplificada, quase juvenil, como um conceito orgânico como o amadurecimento das frutas.
Que tal Bananas?

Bananas maduras são mais saborosas ao paladar, exalam um perfume convidativo e enfeitam magnificamente arranjos de decoração tropicais.
Bananas maduras demais podem servir para fazer doces deliciosos ou para atrair aqueles mosquitinhos pequeninos e graciosos, que voam rápido quando tocamos nelas: sinal de perigo, favor consumir logo.
Bananas verdes tem muitas preciosidades culinárias, porém conhecidas apenas de alguns, pois a maioria as generalizam como: "ainda não estão boas para consumo".
Mas... e quanto aos homens e as mulheres?
Seria possível manter a analogia?
Ou será a maturidade algo restrito ao teor orgânico?
Seria um estado de consciência atingido com o tempo? Ou será que tudo não passa uma quimera? Uma fantasia humana quanto a um determinado acúmulo de experiências que poderiam nos libertar do sofrimento pela antecipação das situações adversas e possibilidade de descarte delas?
"Como se isso fôsse possível!" diria talvez uma Banana Passada.
"Consegui uma vez ou outra... Acho..." diria provavelmente uma Banana Madura.
"Espero atingir isso algum dia..." diria quase que certamente uma Banana Verde.

Quando escolhi o nome deste blogg, tinha acabado de fazer uma pesquisa sobre um tipo de maré oceânica chamado Maré Viva ou Maré de Sizígia, uma variação violenta da subida dos oceanos por ocasião da justaposição dos astros Lua, Sol e Terra no período Lunar da Lua Cheia e da Lua Nova. A pesquisa tinha como objetivo a escolha de uma data para um trabalho de campo em uma formação costeira específica do litoral sul do Estado de São Paulo.
No intuito de fazer uma pesquisa completa, saí no encalço do significado da palavra em si. E qual não foi a minha surpresa quando um estalo me levou a pesquisar a origem da palavra Sizígia!
Sendo este o primeiro post deste blogg, exclareço desde já que foi uma das palavras que unificaram de maneira mais incrível tudo o que sou, que abrigo dentro de mim e que acredito! Sizígia! O drama do feminino e do masculino dentro de nós.
Acredito que a maturidade é a habilidade em lidar com este duelo dentro de nós, com as faces do masculino e do feminino que trazemos desde a formação de nossas almas e ante a uma sociedade que nos cobra demais algo que ainda não compreendemos a profundidade e a magnitude de ser... Ser maduro!
Aos mais atentos que leram o título deste blogg e o pequeno texto logo em seguida, é importante afirmar, este blogg tratará de sexo sim!
Porém isso se fará como análise de mais uma das tantas formas de expressão que nós seres humanos temos ao nosso dispor e do mau ou bom uso que temos feito dessas formas de expressão nesses tempos modernos, onde as relações entre nós homens e mulheres, independente de preferências sexuais, religiosas tem sofrido intervenções fortes da Sizígia em nós.
O intuito aqui é a discussão do masculino e do feminino em nós, em nossos princípios criativos, em nosso comportamento e em nossas escolhas, sexuais ou não.

Grata pelos valiosos minutos e no aguardo de seus comentários.
Angélica
Lix Amazona