terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Quando é a hora certa?

(... ouvindo "Carpet Crawlers" do Genesis...)

Dizem que o que não tem solução, solucionado está.

Mas como saber se não tem solução mesmo ou se estamos desistindo antes da hora?

Ou saber se passou da hora e já estamos dando vexame!

Fui ferida de morte, FATO!

As cicatrizes fecham-se marcada e demoradamente, VERDADE!

Marcas profundas foram deixadas e vão me custar anos de análise, escrita sombria e síndromes, REALIDADE!

Mas quando será a hora certa de sair do fosso?

Ouço Peter Gabriel soprando em meus ouvidos:

"You got to get in to get out..."

Enquanto vejo as gotas de chuva caírem delicadas das folhas das plantas no jardim.

"There's no hidden memory, there's no door away..."

E as lágrimas rolam pelo meu rosto caindo pesadas no tapete do quarto a beira da cama.

Como é possível saber que já basta de sofrer e que tenho que sair do casulo que criei. Ele é tão quente, tão confortável. Foi construído com tanto carinho e amor, com tanto medo e cuidado que a mera ideia de ter que deixá-lo me apavora!

Descobri que posso ser feliz com tão pouco, que estava enganada quanto ao que realmente precisava. Típico de quem perdeu algo que amava muito e que ficou sem o chão que pisava.

Ah preciso chorar de novo! Eu amava, amava meu trabalho, meus companheiros de trabalho, meus superiores até o que me destruiu... E me tornou essa coisa recolhida e sofrida que sou hoje!

Ainda não consigo parar de perguntar porquê, de sonhar que ainda estou lá trabalhando!

Não foi suficiente então? Não entrei o suficiente em minha dor? Não rastejei o suficiente pelo tapete para poder sair?

E a resposta é simples!

Não quero mais sair!

Quero ficar aqui, chorando junto com a chuva, tendo pena de mim! Assumindo para o mundo que fui ferida e que não quero mais ser aquela na qual todos se inspiravam. Quero gritar que sou frágil, covarde e pequena! Quero ser só mais um corpo tombado no chão pelo fogo da batalha!

Não quero liderar nada, nem ser exemplo, nem referência de nada!

Deixem-me aqui por favor! Deixem-me aqui para morrer! Quero ser aquele ator que morre pouco antes do fim do filme para que o ator principal vença, fique com os louros e me deixe em paz.

Quero que parem de se lembrar de mim com carinho e dizerem que vou sair dessa!

Quero me enterrar até este terror e esta perda me tomarem completamente.

Quero entrar nessas vestes de luto e choro de uma vez por todas, mesmo que isto me custe mais do que jamais imaginei, para poder finalmente deixá-las para trás!

Estou pronta!

Se é assim, que seja!

Que venha!

Venha e tome de uma vez o que é seu, dor, ódio, rancor, mágoa, desprezo, desgosto, amargura, medo! Tudo! Leve tudo! Eu não me importo mais!

Eu perdi algo que amava e pela qual lutei com toda a bravura que pude gerar em meu coração guerreiro!

E para que? Para ser humilhada, deportada, ficar a parte da sociedade!

Então agora eu sou a marginal, a quem todos olham como se vissem uma aberração!

Que seja!

Pago o que for, para viver o que tiver que viver e me livrar deste papel terrível!

Que não desejo a ninguém!

Ninguém!

Pensei que já tivesse sofrido o bastante, mas a angústia em meu peito diz que não, que ainda não é o bastante.

Ainda não é a hora certa!

Então...

Quando?

Boas horas para todos!