terça-feira, 8 de março de 2011

Olhos vidrados

Os olhos vidrados do meu amante a contemplar o céu estrelado me recordaram de ter visto esta expressão mais de uma vez ao longo do caminho da busca pelo amor.



Fiquei menos exigente com os anos... Mais atenta aos sinais do desgaste e do fim das histórias cada vez mais lépidos!



Afinal ele sempre está lá, no momento esperado... Aquele olhar vidrado, logo após o êxtase absoluto da paixão extasiante, quando o calor ainda está pulsando eletricidade pelo corpo mas o gatilho da mente se fecha para abafar o fogo dos músculos!



Um ponto médio entre a loucura dos amantes e o frio cálculo do momento certo de romper os laços da carne e do coração.



O apego é inevitável, porém maior deve ser a força de rompê-lo, uma vez que ser o primeiro a dizer que é preciso, demonstra vitória aparente no combate, o eterno combate contra qualquer tipo de envolvimento, típico de boa parte dos relacionamentos voláteis de nosso tempo.



Aprendi a esperar por esse momento e me preparar para ele com muito custo! E contemplo com um leve sorriso os olhos vidrados de mais um amante, preparando-me para concordar rapidamente com a sua decisão e facilitar as coisas para a partida dele e para direcionar o meu desapego.



É melhor assim, afinal meus sonhos românticos precisam ser preservados para me manter viva! Caso o contrário continuarei morrendo de amor com escolhas ruins. Preciso guardar a preciosidade do meu amor para aquele que terá coragem de me olhar nos olhos e dizer que quer ficar.



Incrível, aos 40 anos ainda ter essa fantasia, mas... Quem sabe eu tenha sorte!



Entre tantos amantes, namorados, amigos e familiares que não se cansam de me decepcionar com seus olhos vidrados a pensar no quanto são mais importantes do que eu ou qualquer outra pessoa ou idéia neste mundo do culto máximo à individualidade, talvez os Deuses me permitam, pela legitimidade da minha crença no amor por ele mesmo que eu finalmente o mereça.



Enquanto o campeão escolhido pelos Deuses não aparece vou seguindo com o que aparece, afinal, como diz um dos poucos grandes amigos que restam e que passa pelo mesmo nas terras cariocas... "É o que tem pra hoje, certo?" Nunca no meu ultraromantismo passado eu teria aceitado isso! Eu o chamaria de menor, medíocre, menos, meia vida. Mas hoje com o corpo o, o coração e a mente cheios de marcas de amor e desilusão, penso que é melhor viver as metades ou o menos que a vida nos oferece do que o nada.



A solidão full time é coisa para profissionais, nem sempre é possível adorar ficar só! Dizer não e bancar a heroína banindo a tudo e a todos os que me ferem, foi espetacular por muitos anos. Mas a quantidade de perdas e decepções é tão grande que ao me ver tão triste e infeliz e à beira novamento dos penhascos da depressão, talvez seja melhor rever algumas possibilidades, não?



Algumas já foram pra lista dos "no more!", claro! Tenha dó com tanto surto psicótico e infantilidade. Tenho um péssimo gosto por pessoas é verdade, mas ter que carregá-los nas costas é demais até pra minha dramaticidade mexicana!



Outras possibilidades até merecem uma chance, outras não mas ainda tolero para amortecer a dor... A dor de que sempre será assim! Os olhos vidrados sempre aparecem e é preciso coragem para abafar a dor no peito e esfriar o sangue para dizer até mais ver!



Os olhos vidrados do meu amante então e finalmente me fazem sorrir e graciosamente lhe dizer que concordo, já é hora de ir. Ele se vai depressa e até tenta disfarçar tentando deixar alguma possiblidade de retorno. Dou de ombros e continuo sorrindo dizendo que tanto faz e ele sorri porque já sabe que tudo não passa de uma imensa farsa e finalmente parte.



E meus olhos vidram sonhando com o dia em que o amor sorrirá para mim e para todos os que ainda acreditam nele!



Boas buscas para todos!