segunda-feira, 25 de julho de 2016

A Dança do Destino


. . .  ouvindo "Alcoba Azul" de Lila Downs


https://www.youtube.com/watch?v=QxQcmVK4qaw



Como pés que bailam pela mesma pista mais uma vez e sob a mesma canção, seguimos: carregados e querendo, governados e libertos! Seguimos com ou sem vontade por nossa sina e alforria... Uma dança do destino!

Uma coreografia de combate, na qual nos enganamos aos berros, dizendo que nada nos comanda ou nos faz comandados! Seguimos dançando, rindo de todos os que se enganam, os que nos enganam e os que são enganados por si mesmos, por nós e por nós enganando a nós mesmos!

E bailamos insanos e sãos, pelos salões das verdades e mentiras que escolhemos, como quem se agarra à frágil tábua em oceanos tempestuosos de possibilidades que não quer ver!

Se há uma única resposta, que graça viver?

Se há uma única variável, como variar?

Se há tanto e escolher significa perder? Não escolher também é escolha e perda e ganho também!

Se o enfadonho sempre vence, quem foi derrotado nunca existiu?

O sorriso ácido carrega a delírios envenenados a mente entorpecida pela vigília encantada e incauta das noites de faca sob a face de foice da Lua!

E a falsa impressão pode ser a verdadeira e roubar - em um instante - todas as certezas que temos de nós e de todas as coisas que pensamos saber do mundo e de nossa pífia e doce vida nele.

O que hoje nos faz sorrir, amanhã nos fará odiar e depois negar e então chorar e então fingir que não aconteceu e depois mentir que sim e então fugir e depois voltar e depois de novo e de novo e outra vez e novamente e sempre e neste terror eterno que é viver se repetindo ao êxtase e ao enjôo até se fazer entender que não há entendimento que baste!

Escondendo que perder as certezas é também e não só a única certeza.

Seremos vítimas do que mais tememos.

E algozes do que mais amamos.

Todo cuidado de nada adiantou.

Nem todo o descuido... Fez sequer importância.

Pois que o escravo é um senhor disfarçado!

E o rei um servo louco para ser descoberto!

E que todo aquele que ainda não viu essas cousas não viveu plenamente!

Mas viverá não nos preocupemos!

A oportunidade virá para todos os que querem ver.

Basta ter a coragem de dar o primeiro passo de volta à pista quando a música tocar outra vez e ver o que aparentemente seriam os mesmos passos, os mesmos compassos, os mesmos parceiros e movimentos e ouvir o que aparentemente seriam os mesmos acordes, as mesmas células, os mesmos compassos, os mesmos repiques e as mesmas voltas é na verdade diferente e o mesmo ao mesmo tempo!

É perceber finalmente, ao verter suor frio escorrendo pela pele quente de tanto bailar, que o entendimento completo nunca virá porque não é nosso!

Não é de ninguém!

Até finalmente entender que sermos incompletos e viver a procura é o fogo que nos atormenta e que cura!

E que a grande arte de viver é saber dosar o quanto estamos dispostos a nos queimar até arder entre o queimar da dor e o arder da paixão.

Boas dores e ardores a todos!