terça-feira, 4 de outubro de 2011

Tome partido e vá para a guerra!

(... ouvindo "Orange Crush" do recém separado R.E.M.! Que M*!)

Pois é... Um acontecimento neste recente fim de semana me trouxe a este post de reflexão realmente necessário!

Aquela máxima da "turma do deixa disso" conhecida como:  "Religião e política não se discute", poderia ser considerada um anagrama salvo algumas inversões, retiradas e acréscimos de palavras para ser reescrita como: "Discuta religião e política e prepare-se!".

Tomei a minha dose de surpresas variadas com um post ácido que resolvi fazer em uma rede de relacionamento internáutica.

Aliás, ainda estou me surpreendendo 72 horas depois do início desta pantomima e, conforme prometido - e já cobrado, aí vai um post sobre o assunto!

Só para contextualizar o assunto foi um dos quadros do programa da apresentadora Xuxa, exibido nas tardes de sábado pela Rede Globo.

A apresentadora fez uma homenagem ao ano novo judaico e cantou em conjunto com um grupo de crianças uma música sagrada deste rito de passagem milenar em língua nativa. Naturalmente o cone de energia que a canção sagrada e tradicional ergueu foi espetacular, culminando com as crianças em círculo e a apresentadora no centro.

Eu, que rodava os canais caçando alguma coisa interessante parei e fui assistindo. Adoro expressões de amor e religiosidade não importa a cultura, egrégora ou panteão a qual pertençam. Em minha opinião todos são caminhos para o divino, assim como o caminho que escolhi. Como é de meu costume e sensibilidade me emocionei.

Foi então que, para o meu espanto, a apresentadora finaliza o cone energético, o ponto alto da música, a entrega final da energia captada de uma homenagem a um rito sagrado judaico com um sinal pagão feito com a mão direita.

Não quero discutir aqui se a intenção foi mostrar o "chifrinho do heavy metal", os "chifres do Deus Cornífero", o "sinal hindu de proteção" ou outras interpretações e variações existentes para o famoso sinal dos dedos indicador e mindinho pra cima. O que quero discutir é a incompatibilidade da mistura de símbolos religiosos que me deixou indignada e me impulsionou a ir a rede internáutica expressar o meu descontentamento logo em seguida!

Para mim foi uma manifestação legítima! Tanto a dela quanto a minha, democracia é isso! Liberdade de expressão!

Um mondegente escreve e performa cada idiotice com erros de português sofríveis, vulgaridades e expõe banalidades, individualismos enfadonhos e piadinhas particulares sem sentido porque não têm coragem de ir direto ao ponto ou a quem na mídia!

Tantas celebridades midiáticas cometem suicídio linguístico e tantas não celebridades geram desejos homicidas pela tamanha bobajada que escrevem e apresentam por aí, ué, é claro que a apresentadora símbolo da cultura de massa nacional pode fazer isso em horário de pico de audiência. Assim como eu também posso dizer o que eu penso a respeito. Fui lá, derramei toda a minha taça da fúria e me senti muito bem, obrigada!

Porém... Nos minutos seguintes houve uma reação que ainda hoje não parou! Muita gente começou a se expressar, não só na rede social internáutica onde lancei o comentário, mas ao telefone aqui de casa, na minha caixa de e-mails e nas visitas aos meus blogs que subiram consideravelmente, novamente, agradecida!

Gente que eu não conhecia, gente que eu conhecia, amigos antigos e muitas surpresas que me deixaram extasiada.

E é claro, vieram as críticas! Mais do que natural, saudável!

Porém em poucos minutos a coisa mudou e quando vi estava mediando um pequeno conflito que surgiu de repente e que acabou por me deixar exausta e quase desistindo de me expressar dessa forma novamente.

A meu ver cultura e religião tem seus pontos de intersecção e seus pontos de separação que, caso não sejam abordados com o devido cuidado, podem se transformar em uma sensibilidade do tipo bomba relógio! Creio que o início do conflito se deu ao navegarmos pelo tênue limite entre esses pontos - eu e os participantes do post. Tic tac tic tac!

Vejo a cultura de nosso país como plenamente capaz de absorver manifestações culturais simples como a culinária mais comum, a exemplo do cachorro quente estado unidense, transformando em um "prato de comida", e acho esta habilidade incrível!

Não é privilégio nosso fundir coisas, adoro um documentário sobre os trens a vapor britânicos serem reverenciados como Deuses na Índia!

O sincretismo religioso faz misturas incríveis entre panteões de várias religiões e demonstra assim influências de vários povos, suas culturas e religiões na formação de identidades culturais. Claro! Herança colonial, multipluralismo cultural, globalização! Manifestações culturais estudadas por muita gente por aí, aparecendo aos montes nas revistas e nos programas de tv relacionados.

Até aqui tudo certo. Concordo com aqueles que se expressaram a favor do episódio da tv de sábado seguindo esta linha.

Mas preciso pontuar que o que é sagrado é singular! E o que é sagrado para outros povos então deve ser ainda respeitado como mais sagrado ainda porque são valores de um povo que teve outra história! Há um motivo antigo para isto! Se a finalização da apresentação fôsse a mesma em uma homenagem ao Ramadã, ao Hanamatsuri ou a Corpus Christi eu me expressaria com fúria e do mesmo modo.

Creio que o que faz com que esse tipo de apresentação seja veiculada pela televisão sem nenhum cuidado é o espírito de "cabeça vazia" que aparenta ser predominante na maioria das pessoas que têm na televisão o maior ou o único agente de integração social que conhecem. O termo "cabeça vazia" foi um dos termos que ouvi entre as conversas das pessoas que me contactaram ao longo do conflito gerado pelo post.

Uma opinião "cabeça vazia", de acordo com o que conversamos, seria a opinião das pessoas que defendem que a intenção da referida apresentadora foi apenas de trazer um pouco de religiosidade e variação cultural. Absolutamente inofensivo, por tanto e bacana por apresentar diferenças culturais e fusões de valores.

Concordo também! De fato foi uma boa tentativa de apresentar um bloco mais original dentro de um programa que vai dos joguinhos sem graça expondo atores ao ridículo até concursos com oportunidades interessantes para outras manifestações artísticas. Tudo uma baita mistura e legítima cópia dos canais estrangeiros - claro que fui até o site e fiz uma investigação pra poder falar - mas até aí tudo bem! Quem não copia hoje em dia? Raro!

Mas daí a finalizar uma homenagem de rito sagrado de uma religião com o símbolo de outra, ou no caso, outras é, para mim não ter noção de valor e respeito pela história, cultura e religião dos povos envolvidos.

Me indignou ver aquilo na televisão, mas o que me indignou ainda mais foi ver ataques pessoais, pregações religiosas e ofensas na discussão que aconteceu entre os participantes dos desdobramentos do meu bendito post.

Não acredito que leitura resolva isto e nem a "iluminação de Deus", como foi citado nos ataques que acabaram por desviar do assunto totalmente, chegando ao banal e ao lugar comum, justamente o que eu estava tentando combater ao trazer o assunto a tona no meio do marasmo das expressões típicas de internet.

Acho que é preciso muito mais do que leitura e preces para evitar o que aconteceu ali. Foi absolutamente frustrante e, naquele momento, praguejei bastante! Bastante mesmo!

"Quero é mais que façam uma missa católica culminando com uma hecatombe pagã ao estilo dos romanos antigos! Tragam-me mil bois bem chifrudos por favor!"

"Que tal um Ano novo chinês culminando com as orações a Alá do final do dia?"

"Vamos ser exóticos e originais! Vamos misturar coisas dos outros e chamar atenção fazendo algo diferente! Que tal um dia Sabbat de bruxas terminando com uma sessão de passe cardecista!"

Juro que tive vontade de escrever todas essas coisas! Mas... Controlar o ímpeto é importante para resgatar o assunto e a intenção que me levaram a me manifestar, certo? Usei apenas o termo atropelo original e tentei me acalmar.

Quando o riso histérico já estava quase silenciado, respirei fundo e olhei de novo na tela, onde já pipocavam outras manifestações.

Antigos amigos de faculdade! Muito queridos! Me cumprimentando por estar causando na rede!

Ex-alunos fazendo declarações de amor intelectual emocionantes!

Amigos do tempo do colegial, melhor dizendo, do século do colegial (atual ensino médio!) me lembrando que querendo marcar um reencontro!

E uma declaração muito especial de alguém muito especial que me tirou do chão até agora!

Ah que beleza! Isso resolve! Melhor que a leitura e a prece!

A fúria passou! Apaziguei a briga e fui feliz da vida receber os amigos que, no meio do calor da discussão na tela do computador, tiveram a feliz idéia de vir me visitar, dividir comida chinesa e assistir ao Rock'n Rio na televisão!

A boa e velha tendência ao equilíbrio chegou e trouxe harmonia, uma agenda cheia de encontros e reencontros para a semana e muitas visitas aos meus blogs!

Quanto aos atacantes, atacados, mortos e feridos. Não se preocupem! Ter uma opinião formada e ter a coragem de lançá-la é um ato de guerra, meus queridos! Nem sempre o final é feliz como foi para mim neste episódio que acabo de narrar e, provavelmente, alguém se machucou e/ou se frustrou no tiroteio. Peço que traga para si o seguinte:

Melhor ter uma opinião e ter coragem de ir para a arena por ela do que morrer sem abrir a boca, sem nunca ter se expressado, como gado em vagão de trem tangido no berrante e marcado no ferro quente!

Reforce as falhas na idéia que expressou, mude, aprimore e vá pra guerra de novo!

Get you're orange crush, como na canção do R.E.M!

E por falar no bom e velho! Viva o System of a Down que arregaçou em show homérico naquela noite culminando com uma estocadinha do vocalista Serj Tankian sobre as questões indígenas versus a tecnologia no Brasil e com o "chifrinho heavy metal" do guitarrista Daron Malakian.

Aos que usam o seu poder midiático para causas importantes e com respeito aos povos e culturas no contexto certo: Os Louros!

Bons solos de cabelo roqueiros, combates internáuticos e crushed oranges a todos!