domingo, 21 de novembro de 2010

A Longa Partida de Neptuno

A longa partida de Neptuno

Segundo consta do calendário de efemérides astronômicas (dia, hora e trajetória dos astros pela esfera celeste), a passagem do planeta Neptuno pela constelação de Aquário está em curso desde 1998 e terminará em 2011.

Todos conhecem os embates entre a Astronomia e a Astrologia e o quanto é desgastante abordar esses confrontos entre o discurso científico e o esotérico ("Discurso? Esotérico?" Uivam os céticos!).

No terreno do conhecimento da astronomia a faixa de tempo apresentada é absolutamente crível, afinal, após a destituição do pobre Plutão, Neptuno é o último registro orbital planetário em torno da Terra. Bem, isso é fato ao menos até o próximo telescópio abrir a sua lente super poderosa e botar tudo a perder outra vez com a visualização de outro corpo celeste pertencente ao anel exterior do sistema solar. O que é ponto pacífico mesmo é que, devido à sua distância em relação ao sol, a translação de Neptuno leva 164 anos terrestres e sua passagem pelas constelações do zodíaco é lenta quando comparada à translação do planeta Terra ou ano terrestre.

Porém, quando seguimos rumo ao conhecimento astrológico do conhecimento, esses mesmos dados podem ganhar ainda maiores possibilidades de leitura e interpretação. Que gritem os céticos, mas o arcabouço cultural embutido nas figuras e nomes que representam os astros lhes trazem enriquecimento agigantado e ainda mais emocionante e envolvente.

Por isso não concebo essas ciências separadas. O significado do aguadeiro, símbolo da casa aquariana, indicando a estação de chuvas para os povos do Egito antigo, associado ao deus romano Neptuno podem fornecer uma perspectiva de interpretação ainda mais rica, como de fato fornecera para os povos antigos que criaram esses seres mitológicos e suas histórias maravilhosas, em tempos onde a ciência era a soma de todo o conhecimento humano e não uma separação estanque e aleijada das partes que a compõem.

Em minhas conversas com os tantos que me procuram para tirar dúvidas sobre essas terríveis separações do conhecimento e suas restrições, gosto de citar o embate das duas ciências nos estudos sobre Júpiter, cuja face oculta foi revelada somente no final dos anos 70 do século XX com a passagem da sonda Voyager 1, trazendo à comunidade científica o conhecimento a cerca dos fantásticos raios azuis recorrentes do lado oculto de sua atmosfera marcada por tempestades de proporções incríveis.

Tanto os gregos como os romanos sempre representaram os fantásticos Zeus e Júpiter, respectivamente, como figuras humanas com muitas histórias de suas experiências entre os humanos. As imagens de suas fúrias apareciam marcadas por fisionomia que indicava temperamento aflorado, intempestivo, muitas delas com raios nas mãos, prontos a serem lançados quando contrariados ou contra seus inimigos.

Não acredito em coincidências, mas meu coração para quando penso nessas escolhas representativas e questiono: por que características como essas foram escolhidas como parte da representação específica desses deuses? Como esses raios registrados na face oculta do planeta Júpiter já encontravam-se representados nas antigas representações do deus Júpiter? Como foi possível que esses povos tivessem uma associação tão próxima de uma das características reais do planeta constatadas apenas no século XX de nossa era, identificada com a precariedade de suas técnicas de observação celeste datadas de dois mil anos atrás? Será que realmente dominamos o conhecimento dos avanços e retrocessos da evolução do estudo dos planetas? Será a evolução tecnológica um privilégio apenas dos observadores de corpos celestes modernos e contemporâneos?

São muitas inquietações que me afligem a mente quando se trata destes assuntos. Assim como a mesma tecnologia contemporânea e sua rapidez e avidez em invalidar o extenso e profundo trabalho dos grandes estudiosos do século passado e dos anteriores. É desconcertante ler nos boletins astronômicos e nas capas de revistas de "varejo de conhecimento" a desconsideração do fantástico arcabouço mitológico milenar, cujos estudos são verificados a milhares de anos na história da humanidade, e o desrespeito de seus contemporâneos caçulas monoteístas e suas estruturas rígidas e escravas de aparelhos de plástico com lentes poderosíssimas.

Não me atrevo a generalizar como banal toda a poderosa rotina milenar de culto aos Deuses, praticada dia e noite, a cada lunação, a cada estação e por milhares de seguidores que tanto se preocupavam com suas histórias, suas características, habilidades, paixões, amores e fúrias.

Não quero ser mais um desses seres que se dizem humanos e que realmente acreditam que são os únicos em toda a história de nossa existência a descobrirem o cosmo, a viajarem por lugares ermos, a passarem por temeridades, a realizarem experimentos extraordinários e num ato de egoísmo absoluto, simplesmente desconsiderar gerações e gerações de desbravadores do conhecimento que tem acumulado extraordinárias produções ao longo de nossa história, apagando toda esta riqueza em nome de gerações ambiciosas, tacanhas e seus valores estanques inconsistentes que vieram tanto tempo depois.

Acredito em uma conexão desses fatos, generosamente oferecida pela mão estendida dos Deuses para o nosso mundo, nos dando uma chave para a abertura de uma das portas mais valiosas do conhecimento contido no mundo antigo e esquecido pelas vias tradicionais e estanques contemporâneas de estudos do Cosmo.

Neptuno deixará minha casa aquariana ao final do próximo verão. E, diante de todo o verdadeiro furacão que tem atravessado a minha vida desde a entrada da primavera, sinto sua saída em meus poros, nervos e sinapses todos os dias.

O domínio dos mares executado por Poseidon e Neptuno é também muito latente no arcabouço mitológico grego e romano. As fúrias de Poseidon arruinaram Odisseo em sua obcessão por se julgar mais inteligente que os Deuses, de acordo com a leitura de Homero. Na astrologia o Deus romano Neptuno dá nome ao planeta que rege nossa capacidade de transcender o mundo material a partir da fluidez dos oceanos da mente. Seu domínio prolongado pode externar seu lado oculto. Como ocorre com todos os Deuses. No caso de Neptuno em específico, pode levar a longas doses de ilusão e uma tendência enorme em se afastar da realidade a partir da criação de arquétipos falsos e valores equivocados ou pervertidos de vida e felicidade.

Sou uma das mais terríveis e iludidas variações de aquariana e sinto o alívio de todas as minhas ilusões partidas. A quebra em cascata de vários padrões e princípios de vivência, transformou minhas emoções em um verdadeiro mar de lágrimas nas fúrias tempestuosas de Poseidon e hoje náufraga e desterrada; reconstruo meus valores com os músculos mais endurecidos e com a mente melhor compartimentada.

Minhas certezas caíram todas e agora eu as reconstruo lentamente sobre bases mais fortes, aguardando a partida do deus dos mares e agradecendo orgulhosa por ter vivido sob seu jugo que tanto me ensinou e me ensina sobre a preciosidade entre o sonho e a realidade e como navegar sem me perder na euforia de um e na crueza do outro.

Agradeço a Neptuno pela alegria de navegar em suas águas e me entrego feliz ao atracadouro e à roda do destino, aguardando pela próxima etapa com minha fé reconstruída. Caminhar entre a ciência e a espiritualidade não é nada fácil. Percebo que muito mais fácil é escolher apenas um e atacar o outro, lançando um olhar de uma só camada sobre tantos mundos uns sobre os outros e por dentro dos outros, se conectando entre si e conosco o tempo todo, ignorando seus sutís e inteligentes sinais na ilusão de que estamos sós e toda a decisão é apenas nossa, regida pelos valores do nosso tempo.

É mais simples caminhar obtusa pelo mundo, mas essa nunca foi a minha escolha. Minha mãe já me contava das minhas longas conversas com as flores do caminho até a casa da minha avó na primeira infância e me orgulho muito de ser a menina que de acordo com a maioria dos meus professores “vive no mundo da lua”, como já foi citado aqui tantas vezes.

Estou feliz com a passagem de Neptuno, faço as pazes com o planeta, sua regência e as faces dos Deuses que ele representa, aceito os delírios aos quais me entreguei sem pensar, guardo minha lições tomadas ao longo do processo e falo dos acertos e erros com muita honra e felicidade.

Mas anseio muito pela próxima etapa, assim como os que estão comigo e acompanham minha jornada com carinho e atenção também anseiam por essa transformação que já está em curso. Não lamento pela tristeza dos que deixaram e estão deixando o meu caminho e celebro a alegria dos que já estão chegando com todos os cuidados que se fazem necessários.

Desejo boas passagens, intensas alegrias e tristezas, profundas ilusões e realizações a todos. Estou convencida de que da lágrima ao êxtase, estamos sempre melhorando nossa condição ao longo caminho de nossa existência e toda a vivência se torna muito importante.

Abraços cósmicos a todos!

Lix

domingo, 3 de outubro de 2010

back in the high life again

Como quase todo mundo sabe, gosto de posts com uma trilha sonora para acompanhar.

Quase sempre sugiro algo para meus leitores como música de fundo para a leitura, muitas vezes porque letra, música e arte se misturam com a vida e por isso, tal música combina com tal momento e tudo o mais, como uma legítima trilha sonora cinematogáfica deve ser!

Mas a verdade é que a minha mente custa a ficar em silêncio.

Sempre houve a busca pela trilha sonora perfeita para o momento em questão e em quase todos os momentos da minha vida.

Não sei se isso se deve à radiola e à vitrola sempre presentes em minhas memórias de criança mais antigas, talvez se deva também ao surgimento dos clipes de tv para os grandes sucessos do rádio e dos discos nos anos 70, que me fascinaram desde Penny Lane dos Beatles. Ou se foi Tommy, a ópera rock mais fantástica que já assisti na vida! Mas raramente minha casa está em silêncio, raramente estou sem fones de áudio em meus ouvidos, mesmo que seja para buscar pães na padaria e quando a bateria descarregou e estou longe de casa, em poucos instantes a mente abre seus arquivos e sempre salta a música perfeita que vai direto para a boca, vergonha no ponto de ônibus.

Já me disseram que parece que eu estou em um videoclip quando começo a cantar, já apontaram pra mim no palco quando faço apresentações ocasionais com as bandas de última hora com colegas de trabalho e alunos.

Sei lá... Talvez seja fake... "Poser!", grita a concorrência... Talvez seja só o meu processo... Já cansei de investigar tudo o que é comportamento recorrente e meu! Quer saber? Cansei de bancar a psicóloga de almanaque comigo mesma! Eu vivo num clip, num filme do tipo musical mesmo! E pronto!

E hoje a trilha sonora é de Steve Windwood, música: Back in the high life again.

Pois é! É tempo de celebrar! Aliás a semana toda foi uma celebração leve e constante, como que voltando para um ideal de vida mais elevado, leve, cristalino... De novo... Como diz a belíssima letra da canção.

O momento é de volta pois por muitos anos carreguei um fardo de medo e vergonha que me dragaram as forças vitais. O motivo desses sentimentos jaziam em uma grande muralha que eu tinha que cruzar, a maior das muralhas do caminho (ver post De volta à estrada), o que me apavorava me fazendo fugir dela criando outras em outros caminhos.

Hoje, finalmente cruzado o obstáculo, consigo ver com a adrenalina baixando suavemente a cada dia a simplicidade da vidal Aquela que sempre percebemos após as grandes batalhas. Gostaria mesmo de ter essa visão nos momentos difíceis do caminho, mas aparenemente isso faz parte da nossa memória animal fadada a repetir os erros do passado esquecido.

Quem está na tempestade custa a se lembrar dos céus azuis e ensolarados dos dias felizes. E uma tempestade de tantos anos de fato custa a se desfazer na mente e no coração.

Adiei meus compromissos de formação universitária por muitos e longos anos, paguei o preço altíssimo de chegar a maturidade sem ter me graduado no curso que mais amei. Já me graduei uma vez com regularidade em História em uma formação meio a contra gosto por motivo de falta de auto realização. Uma escolha ainda pouco maturada. Mas foi a contento. Considero meu segundo curso, a Geografia, a minha verdadeira matriz intelectual e científica.

Talvez por isso tenha demorado tanto. A cobrança de quem se encontrou no caminho tendo como resultado uma busca sem fim pela excelência. Um questionamento sem fim, um fazer e refazer trabalhos, ler e reler bibliografias, fazer e refazer trabalhos de campo, tudo em busca de excelência. Por isso e tantos outros excelentes issos mais, conta-se da concepção à finalização do projeto de graduação: 10 anos!

Caramba! Hoje já poderia ser doutora! E assim como enrolei magnificamente nos textos deste blog para tocar neste assunto, enrolei ainda mais magnificamente para entregar e defender meu trabalho de conclusão de curso de bacharel em geografia.

É gozado conversar com os colegas de departamento sobre isso. Os que já defenderam concordam que o alívio é incrível, mas que as dores da pós-graduação são ainda mais terríveis e portanto, incomparáveis. Os que ainda não defenderam vidram os olhos e se calam, no pânico de saber que mais um colega "empacado" já defendeu e que agora a situação vexatória é só dele e que ele não tem mais o velho companheiro para chingar o departamento, a faculdade a universidade e a vida, só para desabafar e escapolir das velhas frustrações.

Colegas de outros departamentos e faculdades invejam não ter defesa de graduação para fechar o curso que estão fazendo ou que já fizeram. Vejo nos olhos destes uma inveja leve e silenciosa. Agora nas águas calmas do pós-defesa não fico mais arguindo, gritando que eles são felizes por não terem uma defesa de final de curso para fazer, que eles são "felizes e não sabem!". Hoje mais do que antes da grande batalha acadêmica da minha vida até o momento, defendo o trabalho de graduação individual para a formação de um estudante de ensino superior. Mesmo sabendo das agrouras, da agonia, da super auto cobrança, da loucura, da euforia, da depressão e da covardia que assolam a cabeça do pesquisador em sua primeira empreitada oficial e examinada de sua carreira.

Foram dez longos anos de fuga e retorno, de viagens de campo e viagens de fuga, de amores ganhos e perdidos para a pesquisa. Sou a piada da turma, a curiosidade pitoresca do momento no departamento! Mas pouco importa. A leveza com que sinto a vida transcorrer pelos dedos de minhas mãos agora não é mais a tristeza de quem perde o nectar da vida, com as palmas viradas para cima e sim quem tem as mãos em forma de garra com a palma virada para baixo, escalando uma verdadeira queda d'água de felicidade.

Podem rir os bons e velhos inimigos, afagar e disfarçar os bons e velhos amigos. Chego com década de atraso, mas chego! Enferrujada, mas não morta! A vontade de simplesmente seguir em frente e fazer valer o tempo perdido me faz cravar as unhas na rocha com mais sagacidade e subir com a cachoeira partindo o véu em meu pescoço sem arquejar.

Disposta a pagar pelo que não aproveitei e pelo que não fiz, eu volto à alta roda da vida, como canta a música de Steve Windwood. Volto com mais idade, mais kilos sobre os ossos e medos mais paralizantes do que nunca! Porém com a mente leve de quem apenas quer chegar sem se importar mais quando.

E para todos aqueles que se sentem em débito consigo mesmos de alguma forma. Sejá lá um vestibular, ou mais. Um curso que não terminam, um casamento que não encerram, um filho que não assumem, uma verdade que não aceitam, ou tantos outros fantamas que nos caçam, digo que não se preocupem. Saibam de alguém que fugiu da vida por uma década que também é possível chegar, mesmo mais tarde, mesmo pra lá da metade do jogo. Saibam também que muito provavelmente não será nem um minuto a mais nem a menos do que deveria ser. E saibam ainda que a chegada se dará na forma de alguém que certamente sabe do valor do que alcançou e saberá valorizar o que vem muito mais do que todos os outros que passam pela vida tão rápido que nem a viram passar.

É claro que as custas da fuga foram, são e serão sentidas por muitos anos, talvez pelo resto da vida, muito provavelmente. Mas não se cobrem, há os ganhos dos outros caminhos percorridos e certamente são pontos que também são computados na corrida da vida, apenas de outra forma.

Aqueles que apenas se preocuparam em chegar primeiro também tem seus méritos e defasagens. Ouça as críticas com compaixão, eles também terão esta preciosa visão algum dia.

Desejo a todos os colegas que como eu emperraram na vida que não temam, não se sintam apressados ou obrigados a sair de suas condições só porque a amiga mais atrasada cumpriu suas tarefas, respeitem seus medos e aquietem-se, ouçam suas mentes despertarem e sacudirem seus corpos na hora certa. Acredito que só assim sentirão a certeza inabalável daqueles que sabem o que vieram fazer aqui no caminho por si mesmos e não porque alguém despertou. Acretido também que não importa quando esse momento virá, acredito que ele já está lá só a espera de que estejam prontos para agarrá-lo.

Quanto a mim, ainda estou na maré de sizigia da euforia, vendo o dia passar com o doce som da calmaria, assistindo ao brilho da esperença voltando a deixar cair o véu da paz sobre as coisas perturbadoras da vida. Um verdadeiro bálsamo merecido, sem esquecer porém que muito em breve o véu se erguerá e um novo desafio se cristalizará no horizonte para ser vivido pelo guerreiro em mais um bela batalha pela evolução!

Encontro vocês por lá, no campo de batalha, na alta roda da vida, de novo e em breve!

Abraços armados!

Angélica

terça-feira, 7 de setembro de 2010

"It's my nature!"

Continuando a série de testes e historinhas da meninice, gostaria de relembrar mais uma dessas maravilhosas e singelas lições que mais me marcaram a mente e o coração.

A escolhida para este post, foi marcante por trazer consigo o toque incandescente, venenoso e ácido da perversidade...

A história do escorpião e da rã.

"A correnteza do rio estava muito forte e uma rã encontrava-se em uma margem, com muito medo de atravessar para a outra sozinha.
Sentindo a agitação da rã, um escorpião que se escondia por perto, se ofereceu para fazer a travessia.
A rã não aceitou, seu instinto de sobrevivência falou mais alto e sua negativa foi imediata, o que ateou mais fogo ao desejo do escorpião que passou a elaborar uma forma de convencer a rãzinha. Ele percebeu que para conquistá-la, seu argumento deveria se direcionar à transformação do temor manifestado na resposta automática da rã de que ele a mataria. E de fato fazia sentido, afinal era instinto contra instinto, o que exigiu do escorpião o uso bem dosado de lógica e de lisongeio.
Ele disse que não a mataria ao menos durante a travessia pois a correnteza de fato estava muito forte e ter que carregar o peso morto da rã acabaria por matá-lo também.
A rã titubeou e ele arrematou dizendo que a rã poderia saltar muito antes da travessia terminar e graças às suas magníficas, longas e musculosas pernas ela estaria fora de perigo antes mesmo do fim da empreitada, colocando-se a salvo muito antes do escorpião estar de volta à terra firme.
O sorriso e a euforia da rã deleitaram o escorpião, a vaidade por ter sua inteligência e seu talento respeitados e elogiados a convenceram rapidamente.
Quando a travessia já se dava pelo meio do rio e as distâncias das margens eram impossíveis de serem vencidas nem com o mais magnífico dos saltos, o escorpião ergueu sua calda magestosa e estocou precisa e implacavelmente as costas da rã montada em seu dorso.
Com o veneno se espalhando rapidamente por seu frágil e pequeno organismo a rã ainda conseguiu perguntar o porquê do escorpião ter feito aquilo, como ele mesmo havia dito, ao que o escorpião prontamente respondeu com voz sublime: - Esta é a minha natureza!"

Pausa para quem não conhecia esta fábula poder sentir o toque incandescente, venenoso e ácido da perversidade.

(...)

Refletindo: eu gosto do ser humano e amo ser mulher! Quero deixar isso bem claro por aqui mais uma vez! O título deste blog (Sizihgia) se refere às energias masculinas e femininas misturadas em nós é verdade! Mas o feminino é o ninho de todas as minhas emoções e desejos. A vaidade, os sonhos, a energia, a beleza, o espírito feminino deixam a minha alma satisfeita todos os dias tanto no êxtase da conquista quanto no fracasso da derrota. Me orgulho de ser mulher pelas tantas irmãs que vieram antes de mim e pelas gerações futuras que vejo crescer todos os dias em minha família, na família dos amigos e na escola e nos tantos outros espaços em que tenho a oportunidade de observar.

Mas há certas mulheres que me envergonham.

Eu admiro os homens em seus papéis difíceis de serem cumpridos em pleno século XXI. Minha admiração vem das dificuldades que eu vejo muitos deles tentando vencer desesperadamente. Algumas vezes acredito que ser homem no século XIX aparenta ser mais fácil do que hoje com esse fogaréu de tantos séculos de repressão lançando muitas mulheres em verdadeiros tsunamis de sexualidade pra cima deles. Deve ser difícil quando se decide resistir, já vi alguns casos. Acredito que também deve ser difícil dar conta quando se decide apreciar, já vi muuuuuitos casos.

Também há certos homens que me enojam.

Não estou mais nessa "parada" de dizer que homens são todos iguais, ou que mulheres não prestam, ou que todo mundo não presta e essas conversas de bar regadas a cachaça e Reginaldo Rossi.

Todos temos os nossos momentos de nobreza e "cafajesteza". Percebo alguns homens e mulheres com uma dosagem maior do primeiro que do segundo, outros com o segundo em dosagem maior que o primeiro; poucos sabendo equilibrar e muitos que pensando que sabem equilibrar e perdendo num piscar de olhos tudo o que tinham com a estocada fatal do escorpião dada e/ou recebida.

Vejo com esse olhos porque acredito em algo que nessa história toda é implacável, indiscutível e inexorável: o equilíbrio do sistema.

Todas as anomalias tendem a se reequilibrarem com o tempo até a ordem ser reestabelecida para que o caos possa retornar. Cientistas de diferentes áreas do conhecimento, dogmas religiosos e ditos populares abordam este princípio de formas diferentes. O que parece bastante lógico, afinal o eterno caos nos extinguiria e o eterno equilíbrio nos mataria de tédio.

Vejo a face do caos muitas vezes por dia para temer que a extinção talvez esteja no horizonte de um futuro concreto, mas ainda luto por manter em mim a crença de que o equilíbrio ainda se fará valer em algum momento.

Acredito nos que se aproximam de mim e ainda me ofereço para a estocada mortal em alguns casos, mesmo sabendo da provável natureza de quem a mim se apresenta com tanta reverência, presteza e elogios... Mas não me iludo mais! Sei que ela virá! É uma questão de esperar, afinal somos todos rãs e escorpiões na sizigia do masculino e feminino cheio de amor e com sede de vingança que habita em nós. Logo... Tudo não passa de uma questão de saber esperar e tentar se preparar.

Esse é o final de mais um inverno que se aproxima. A armadura junto ao corpo suado e coberta de sangue e lama da última batalha range nos últimos passos rumo ao ocaso de mais uma jornada que termina. É triste saber que a evolução é lenta, pouca e quase imperceptível. Os erros ainda se repetem e a estocada ainda me pega desprevinida por uma fração de segundo.

Em alguns momentos ao menos consigo ver que ela está prestes a acontecer, em outros até consigo senti-la com certa antecedência, na argumentação tão convincente e no elogio tão falso do início que me fazem sorrir debilmente. Mesmo assim vem a sensação do que se esconde lá no fundo... Já consegui escapar de uma ou outra situação dessas a tempo algumas vezes... Mas em outras vezes ainda acontece... Afinal eu ainda acredito que um dia essas tristezas vão deixar meu caminho e meu coração.

Provavelmente ainda vai levar um tempo para eu ter essa paz, essa segurança, essa certeza e aprender a não mais sucumbir e finalmente saber declinar e me retirar.

Esse é o amor por nós mesmos que os livros de auto ajuda não ensinam de fato, porque o caminho para atingi-lo é longo, penoso, solitário e difícil demais para ser resumido às páginas de um livro ou seguido por alguém que espera resultados imediatos.

Trata-se de uma vivência inteira.

Para mim, trata-se de um sonho!

O dia em que vou poder parar de deletar pessoas da minha vida porque elas não conseguem vencer sua natureza e porque eu venci a minha natureza vaidosa de ainda querer acreditar nelas.


Não vou desejar uma boa travessia a todos porque não é!
Já morri muitas vezes e carrego comigo todas essas cicatrizes e feridas algumas ainda abertas.

Apenas desejarei que aquele(a) que lê este post saiba do que estou falando e que no momento certo ao menos perceba o que está escolhendo ser e fazer, quem sabe até ciente das consequências dessas importantes coisas. E isso já é desejar demais!

Abraço a todos!

domingo, 29 de agosto de 2010

De volta à estrada

Quando outro amor deixa o coração seco.

Quando a mente pulsa pela madrugada quente e seca da estiagem.

Quando a poeira do velho ônibus da ilusão parte e o que resta são os grilos da razão na noite solitária e sem lua.



É que se percebe a velha estrada de volta, debaixo de seus pés.



O mundo dos apaixonados tem dessas coisas... Nos arranca do chão sem que possamos perceber, nos arremessa para todos os extremos de uma das mais esperadas de todas as emoções humanas. Chega até a nos iludir com promessas de realidade e longevidade.



Mas a fugacidade desses sentimentos intensos muitas vezes nos faz esquecer dela: a boa e velha estrada.



Quando menina, volta e meia eu era abordada por alguém que me enchia de perguntas, num daqueles testezinhos de psicologia de almanaque, do tipo "A guerra nuclear começou e você vai morrer, quais são seus 3 últimos desejos?". A partir das minhas respostas, o aplicador do teste tinha um perfil psicológico pronto.



Dessas bobagens todas o teste do qual me recordo com mais clareza é um tal de teste da estrada.
Veja só porque:


"Você está em uma estrada. Como ela é?"

E eu respondia:

"Asfaltada."

Respondi assim na ocasião por causa dos road movies que eu adorava e ainda adoro!

"Caminhando por essa estrada, você encontra um vaso. Você leva ou deixa?"

"Deixo!"

O que é que um vaso tem a ver com o cenário?

"Continuando a caminhar pela estrada, você encontra uma chave. Você leva ou deixa?"

"Levo!"

De repente achei melhor pegar, vai que é algum tipo de pegadinha cruel dessas brincadeirinhas de psicologia de almanque do tipo "vc não pegou, isso significa que vai ficar careca por causa da radiação nuclear" a neura daquela ocasião! Vai saber?

"Continuando pela estrada você encontra uma concha fechada. Você leva ou deixa?"

"Eu deixo!"

Por que eu levaria isso? Credo! E se o bicho que mora lá dentro me morder? Eu era muito urbanóide na ocasião.

"Continuando pela estrada você encontra um muro. Ao pular o muro o que vc encontra?"

"A estrada de novo!"

Ué!

Lembro até hoje da fisionomia da minha amiga que aplicou o teste!
Parecia o anúncio da própria guerra nuclear!


Resumindo:

A estrada de asfalto significava que eu era uma pessoa que gostava de coisas artificiais.

Tentei explicar que era por causa dos road movies, mas ela foi sumária:

"A resposta tem que ser sem pensar!"

O vaso significava a família, ou seja, eu não me importava com a minha família.

Tentei explicar sobre a falta de sentido em levar um vaso naquelas circunstâncias, mas a resposta foi a mesma.

Mesmo com o meu pânico latente, ela continuou com sua interpretação.

A chave significava as amizades, portanto eu me importava com as minhas amizades.

Senti um pequeno alívio naquele momento, exceto pelo terror que a próxima leitura de imagem me traria.

Não levar a concha fechada, significava não encontrar o verdadeiro amor.

Meu coração parou!

Mas ainda não havia terminado.

O muro significava o momento decisivo da vida.
Portanto no meu caso, com a estrada continuando a mesma após o salto, tudo continuaria como sempre foi, uma repetição constante da vida artificial, sem me importar com a minha família, apenas me importando com os meus amigos e sem encontrar o amor verdadeiro.


Essa brincadeira me gela o sangue até hoje!
Pura filosofia de almanaque, verdade, mas mesmo assim, trata-se de um vislumbre apavorante.

Não sei dizer exatamente se alguma coisa coincidiu ou ainda coincide totalmente ou em parte com a leitura de imagem feita pela minha amiga.


Continuo gostando de road movies e continuo sonhando com o meu maverick v8, cruzando o país, mas meu país está longe de ter estradas asfaltadas que cruzem seu território, logo isso está mais para fantasia do que para um ideal. Para caminhada, uma boa trilha em uma mata bem fechada é a minha preferência absoluta.


Amo minha família, com uma devoção que não tive na tenra adolescência, quando esse teste foi aplicado.


Amigos? Raros, cada ano menos e não são companheiros de caminho, por isso não me importo tanto com eles. Percebo cada dia mais que estão mais preocupados em cuidar dos seus próprios caminhos e eu não os julgo. Também deveria cuidar do meu... Mas isso fica pra outro post, ok?


Amor verdadeiro... Bem essa é a única verdade desse teste que aparentemente ainda prevalece. Encontrei com várias faces do amor, mas nenhuma delas foi verdadeira o bastante para resistir à dor pela passagem do tempo e à necessidade de liberdade que tanto eu quanto meus amantes sentimos. Esses sim me pareceram sentimentos muito verdadeiros nas muitas repetições que rolaram.


Não sei se há um único muro. Já pulei alguns, neste caso a história só se repetiu com o verdadeiro amor, a família só me fortaleceu e os amigos, na maioria, só se mostraram interesseiros, egoístas e vaidosos, salvo os poucos que restam, mudando profundamente o tipo de apego que tinha por eles.


Acredito que a estrada é a única figura de imagem que realmente é concreta. Vejo a família como um laço espiritual poderoso e acima do real, o amor verdadeiro, por enquanto vejo como uma grande alucinação e os amigos como uma lição de caráter constante que me deixa sempre alerta com a próxima tarefa.


A estrada sim é bastante real!


E eu sinto o quanto ela é real em momentos como este, pois é como se ela estivesse bem debaixo de meus pés como já escrevi inicialmente. Mutante, ela se transforma conforme o caminho vai cruzando novos lotes de aprendizado. Nesta noite quente e seca, ela é de terra batida, com inúmeras pedras pontiagudas e brilhantes. Refletindo o brilho das estrelas, ela corta um imenso campo verde amarelado, seco pela estiagem e leva para as colinas onde há mais campos semelhantes, com as luzes do próximo lote no horizonte próximo.


Na minha leitura de imagem, me vejo caminhamdo por ela descalça, mas meus pés não pisam nas pedras, porque estou feliz por estar de volta a ela, logo tudo está harmonizado. Meu coração celebra mais uma dor de amor não verdadeiro que se foi, mas o amor da minha família me consola e a alegria de ter poucos amigos que aparentemente sabem me deixar em paz e que estão em paz me recompõe e me acalma.


Um vento quente balança meus cabelos e minhas mãos giram meu vestido branco decorado com bordados de flores brancas vasadas, que combinam com as minhas jóias brilhantes na forma de corações e estrelas combinados com pérolas, que por sua vez combinam com meu sorriso e o brilho nos meus olhos pela esperança que se renova ao caminhar com os pés no chão e os olhos voltados para as estrelas.


Uma boa noite quente para todos!

E lembrem-se, não vale fazer o teste agora que já sabem o signficado das imagens. Mesmo porque, eu sou a prova viva de que este tipo de teste só funciona de uns 25% a 30% aproximadamente e que eu saiba até agora, claro!

Se alguma coisa mudar eu aviso!

Agora vou continuar na minha estrada, porque a noite está linda!

Boa noite e dirijam com cuidado em suas estradas!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Sem parar pra pensar, só sentir

Refletir demais dói!

Por vezes é melhor ser oco e só deixar a pulsação fluir velozmente pela grande perfuração que arde entre os ombros e os peitos...

E tem que ser pra agora! Enquanto a primeira lua cheia de inverno se ergue vermelha, com seu escudo de sangue emudecendo as estrelas e o riso furioso ferve em minha garganta em uma gargalhada seca e dolorosa.

Tem que ser enquanto um som pós-punk de tantas guitarras sujas, bateria de ataque, baixo distorcido e voz esganiçada está rolando no aparelhinho portátil e de péssima qualidade sonora tem a ver com a ocasião, assim como a cerveja preta avermelhada combina perfeitamente com o esmalte vermelho sangue pisado nos dedos frenéticos que apertam o copo gelado.

O cabelo desgrenhado pelo suor da fúria tem que voar pesado pelo ar, em uma coreografia louca sob a luz da lua que sobe pela muralha do velho jardim, testemunha de inúmeros ataques psicóticos como o desta noite!

As pragas e azarações reverberam pelas paredes do crânio a sacudir, tentando absorver mais um desfecho imperfeito de mais uma das histórias diluídas pela chatice da vida.

Só o riso escrachado consegue expressar tamanho descontentamento!

Só o corpo bêbado, louco, solto pelo ar frio tem permissão para assim o ser. As folhagens, flores e pequenas árvores azuladas pela luz da lua cheia permitem e testemunham!

Só a voz mais entorpecida pelo fracasso do punk pode atingir o tom e a forma de mais um desfecho insatisfatório para uma quase história de amor.

Só resta rir!

E bailar!

E caçoar de mais uma história que igual a tantas outras, parecia diferente, mas era profundamente igual, portanto o final era absolutamente previsível já de início e a obvia surpresa se fez de novo! Que tristeza!

Não acreditar na antevisão, ainda crer naquela bobajada que te falam todo dia no rádio, na tv, nos livros de auto-ajuda e revistas femininas: O quanto vc é especial, o quanto vc é importante! O quanto vc faz a diferença no mundo!

E quando menos esperar vc é mais uma mulher desiludida e alcólatra no mundo, vagando pelo jardim da sua casa, tremendo de frio numa noite de sexta-feira enluarada, rindo de sua própria pateticidade! Mais uma mulher frustrada por mais um amor perdido! Mais uma promessa vazia! Mais uma tola que acreditou nessa pataquada de "respeito e admiração" que na verdade significavam "descobri que vc não era o que eu fantasiava e não quero ficar com vc sua chata romântica sem graça!".

Mostre-me uma mulher independente e dona de seu destino, que não precise de nada nem de ninguém e eu lhe mostrarei uma impostora! Porque debaixo de toda a couraça intransponível jaz um corpo frágil que quer ser alvejado tanto quanto qualquer outro que vaga por este mundo sofrendo sem amor!

O amor partiu para longe e o que ficou foi o corpo frágil, prostrado ao lado da couraça em mais um dos campos de batalha entre a mente e o coração.

Não há o que pensar, só o que sentir.
Não há o que refletir, só viver.
E esta noite, viver é bailar só a noite inteira até sucumbir a exaustão e dormir.
Quando acordar iniciar a longa espera...
Até que essa história se dilua na apática rotina do dia a dia.
E uma nova história apareça para tomar o seu lugar neste longo inverno enluarado.
Tem que ser agora!
Tem que ser assim!

((((((Este post foi feito ao final da lua minguante por dificuldade em decidir se seu teor restritamente passional deveria ou não ser exposto neste blog))))))))))
















sexta-feira, 23 de abril de 2010

O amor nos deixou?

As declarações de admiração e mais puro amor dos meus poucos leitores que se pronunciam neste blog, me levam às lágrimas sempre que tenho coragem de ler.


Sou mui grata e desejo todo este amor e carinho três vezes mais a todos, como manda a antiga lei.


Mas hoje me dirijo especialmente àquele cujo nome não vou expôr, mas que em seu texto de comentário me questionou de uma maneira diferenciada. O questionamento foi exatamente no nervo de meu propósito! Provavelmente no nervo do propósito de todos!

Talvez querendo, talvez sem querer, esse meu leitor especial tocou em um ponto central sobre o qual ainda jaz todo o eixo de sanidade que luto por construir com trabalho mental árduo todos os dias.


Esse espírito iluminado, esta alma leve simplesmente me questionou o que me faria feliz...


Pelos Deuses o tremor foi dos meus lábios aos meus dedos sobre o teclado do computador em uma fração de segundo! Ninguém, nunca, nem o mais fiel dos meus amigos, nem o mais infiel, nem o melhor dos meus amantes, nem o pior, nem o mais romântico dos meus namorados, nem o mais terrível, nem meus parentes mais amados... Ningúem! Nunca! Nunca ninguém havia me questionado sobre isso.

Mal posso descrever como me sinto cada vez que me lembro disso!

Em seu depoimento singelo esse visitante querido deste blog dramático teceu elogios doces. Disse muitas coisas que já ouvi de muitas outras pessoas doces como ele, as quais sempre tenho a sorte de encontrar pelo caminho. Mas sua maneira de dizer essas coisas doces teve uma profundidade diferenciada, aquele questionamento deixou seu comentário tão apaixonado com uma outra cor, uma beleza e sensibilidade que só os mais sensíveis percebem como a face de Ágape o amor supremo. Sou mui grata de todo o coração.


Mas toda essa doçura não apagou o nocaute. Eu fui à nocaute com aquele questionamento: "não sei nem nunca saberei o que a faria feliz".


Meu querido. Não sei responder nem a mim mesma... Acredite? Vivemos em um mundo onde o querer e a felicidade são coisas materiais, orgulho e vaidade e eu tenho todos esses desejos não se engane. Por trás deste estandarte de princípios jaz uma fera consumista, carente e psicopata como qualquer um de nós, lutando pelo que queremos neste hospício gigante que é o mundo "globalizado"! Ora!

Mas... naquelas noites de verão em que o ar fica perfumado sob a luza da lua cheia, ou naquele por do sol róseo do outono, na noite fria, gélida do inverno, na primeira manhã da primavera, quando tudo fica simples e me lembro de meu estado natural puro, intocado pela urbes. A resposta aparece de forma mui simples... Amor. O amor é a resposta! (Isso é uma canção?) Só o amor me resgataria deste atoleiro de tristeza que o caminho se tornou para mim nos mais recentes tempos.


Por favor que fique claro aqui que o amor ao qual me refiro é como uma superestrutura muito a maior do que qualquer um de nós possa imaginar. O amor é do mundo invisível, o amor é mágico, é transformador e como tudo o que é poderoso, tem muitos nomes e muitas faces.


Pode gerar vida, pode tirar vida, pode gerar ainda mais amor e pode originar ódio profundo. Sua manifestação pode levar um indivíduo ou mais ao auge em segundos, com um olhar, um gesto, um sorriso, uma única palavra.


Pode estar no som da respiração de um amante enaltecido, no olhar de uma criança ao ver a via láctea, no riso de um ancião que pela primeira vez vê o mar, no grito de um jovem que salta de paraquedas, na felicidade de uma menina ao ver seu cachorro curado de uma doença terrível correr pelo quintal, na alegria de um pai ao ver seu filho dar o primeiro passo, no primeiro beijo da mocinha mais tímida da rua, no poema secreto de uma adolescente para seu amado proibido, no vôo da pipa do moleque, no primeiro presente de natal de alguém que nem sabia que essas coisas existiam, no fumacear de um prato de comida quente dado pela mãe à sua filha depois de um dia de trabalho duro, no braço estendido pronto para tirar um explorador de um buraco na trilha, no médico que recém formado que recebe o primeiro "obrigado" de um paciente... Ele está em toda a parte. Ele me faz feliz.


Encontrar isso me faz feliz. Os comentários elogiosos ao meu blog me fazem feliz, os abraços e o carinho dos que me amam me fazem feliz.


Mas a felicidade é etérea e se desmancha no céu como nuvem sob o vento forte. E ao voltar os olhos para o chão o sorriso se desfaz. Porque esse amor não foi feito para durar. Aí reside a sua beleza... Sua fugacidade. Sei que devia buscar essas poderosas coisas sempre que ficar triste, como meu querido amigo destacou em seu comentário... Mas nem sempre é possível recrirar esse poder. E viver na nostalgia não dura (acreditem eu já tentei). E aí a fera retoma ao poder e em seus dentes trincados se faz o som da derrota e da amargura outra vez!


Não vou desejar o impossível, momentos que se tornem felicidade eterna. Também seria monótono. Já foi falado por aqui e algumas vezes até, o quanto somos dependentes do sofrimento para legitimar a felicidade. O caso são as doses de um e do outro. No meu caso um deles ganha disparado e o outro custa a chegar e se vai mui rapidamente.


Talvez o que me atormenta nesses dias possa ajudar a elucidar o dilema.


Algo me incomoda. Algo de errado com o mundo, como se alguma coisa estivesse fora do lugar! Não meus queridos, não é a Matrix! Uma grande idéia que originou um grande roteiro cinematográfico, verdade. Aqueles filmes me acalmaram a mente por anos, porque sanavam algumas das minhas dúvidas e incômodos sobre existir nesta trama global com uma rapidez quase que imediata.


Exceto quando as máquinas amam. Nessa parte da história fica difícil. Máquinas, softwares, amando? Difícil. Já vi esse tema antes, Blade Runner ainda me tira o fôlego. Andróides que amam... Insanos! Apaixonantes! E no final de O Exterminador do Futuro II: até as máquinas podem descobrir o valor da vida humana, quem sabe nós possamos? Que frase! Um soco na boca do estômago.


Leio sobre a construção do Belo Monte no vale do Xingu, debato sobre o merecer da vida aos animais no trabalho, assisto na TV a mocinha do reality show gritando que só fala a verdade e percebo que não. Não aprendemos o valor da vida, não sabemos o valor da vida. Alguns dos desenhos animados como Wall-e, Happy Feet, Irmão Urso, abrem um grito silencioso tentando tocar as gerações futuras, tentando plantar em seus corações o amor que os adolescentes de hoje tem dificuldades para manifestar, fora poucos bravos que ainda me roubam o fôlego de tanta emoção... Mas são poucos! Os outros me fazem chorar de desespero todos os dias com suas atitudes individualistas, intimístas, agressivas e por vezes até violentas. E nem eles percebem que são!


Então questiono eu agora! O amor nos deixou?


O amor partiu de nós? Virou enredo de novela? Só se for de épocas passadas, porque nas atuais ele raramente aparece como personagem principal, só coadjuvante. A estrela é o desejo! Desejo, substantivo e verbo em primeira pessoa ao mesmo tempo. Algo que devora a mente e o corpo em segundos e o amor vai de Eros a Thanatus em milésimos de segundo. O desgoverno é tão grande que a variação de assassinatos com requintes de crueldade enchem a pauta dos noticiários todos os dias diante de nossos olhos e ninguém se move? Por que? Eu respondo! O amor nos deixou. O amor ficou reservado a poucas coisas, às mais próximas e individualistas possíveis. Ao universo restrito do EU e do que ME agrada.


Quando um ser iluminado mostra que o amor é muito mais do que isso corremos para ler sobre ele, ver seu rosto, ouvir suas histórias, assistir suas desventuranças e logo depois voltamos a rotina de sempre, porque só pessoas muito especiais é que tem coragem para isso. Mais ninguém pode! Quem tem tempo? Isso é exagero! Forçar a barra! Já ouvi isso tantas vezes...


E isso, meu querido amigo, isso me faz infeliz. Ver tudo se acabando numa mesmice cotidiana medonha que me faz querer sair dessa selva de pedra e rios de esgoto. Parar de escrever e agir, mas em outro lugar, onde fazer a diferença trouxesse de fato algo de concreto. Mas esse lugar é difícil de chegar, talvez nem exista e se existir talvez eu não aguente ser tão destemida quanto os meus grandes heróis. Talvez eu mereça ler sobre o fim da reserva indígena do Xingu, talvez eu tenha que ouvir que os animais em extinção merecem morrer, talvez o grito da dona participanete de reallity show se dizendo dona da verdade na tv seja a coisa certa a ser feita. Cada um de nós sermos os donos da verdade até que ela apareça com todas as suas faces nos deixando loucos com sua complexidade! Talvez mereçamos tudo o que está por vir. Se de fato vier. Talvez a própria verdade esteja fatigada de tão evocada!


Muito provavelmente eu mereça também por não ter coragem de finalmente romper com tudo isso e ir para o campo de batalha verdadeiro. Deixar tudo e todos os que amo para trás por um amor maior. Isso me faria feliz. Já fez porque algumas vezes eu já fiz isso.


E foi o amor puro, a felicidade pura, até descobrir que os que fazem as usinas hidroelétricas que vão inundar terras indígenas também estão lá, que os matadores de animais também estão lá e que as mocinhas donas da verdade também estão lá e aos montes! E mais uma vez a felicidade etérea joga o seu beijo de vedete e deixa o palco na escuridão da tristeza outra vez.


Acredito que vc esteja certo meu querido. Não há como saber o que me faria feliz. A valorização da vida, o amor pelo o que os Deuses nos deram e nos dão todos os dias, o respeito pelos outros são coisas que já não sabemos mais se existem com a efetividade que nos faria feliz.


Minha dor e meu sofrimento pelo que vi, senti, pelo que lutei e que perdi não cabem em mim, me atormentam sempre. Suas doces palavras aplacam esse tormento mas não o eliminam meu caro. Ao contrário de você a esperança me deixou. Minhas ilusões se perderam em minhas viagens e no reencontro do que eu mais fugia lá a me esperar salivando.


E hoje, com essa legião de individualistas, vaidosos e egoístas em toda a parte da aldeia globalizada manifesto minha admiração por você meu querido amigo que ainda tem alguma esperança.


Hoje esse post é para você de alguém que quando cruzou o seu caminho sabia o que fazia, sabia pelo que lutava e hoje... Não sabe mais.



Eu.

Mui grata e para sempre,

Angélica

sábado, 27 de fevereiro de 2010

O primeiro vento frio

Atenção Post Antigo!!! De 27 de fevereiro!!!! ((((((((((Jurava que tinha publicado!!! Sorry!!!))))

Hoje meus músculos gritaram uma sensação que já não sinto faz algum tempo.

Depois de uma verdadeira insanidade de calor insuportável se arrastando por tantas noites, finalmente um vento gélido varre os céus de aquarela cinzentos subtropicais e o peito se enche de ar frio mais uma vez.

Brigar com as estações é uma prática inútil de quase todos nós, principalmente no auge das características de cada uma delas, quando nos aborrecemos com o seu poder absoluto.


Como seguidora de uma aliança com os quatro elementos, o sol, a lua, as lunações e as quatro estações tenho que cumprir meu papel e dizer que me empenho em fazer as pazes com todas elas.

Sempre temos a nossa estação do ano favorita. No meu caso a escolha era de acordo com a ocasião, como todo mundo. O verão na infância, que coincidia por todo o período de férias escolares naquela ocasião (talvez fôsse por isso!). Íamos a praia, ao sítio, à cachoeiras e rios. Eu tinha um batalhão de amigas com suas bicicletas e nós cobriamos o bairro inteiro com nossos walk talkies e em eterna guerra contra os meninos (meninos blahhhhhhh!).

Na adolescência a minha paixão pelo rigor do inverno era enorme. Havia muitas roupas para usar de uma só vez! Adorava botas, casacos, cachecóis e luvas. A maquiagem durava mais! Todos aparentavam mais elegantes e calorosos uns com os outros. Mas o que eu mais amava eram os céus de chumbo (naquela época eram chumbo para mim... Alguma associação?). Ficava horas no topo da colina quando morava em outro bairro com uma vista enorme, antes da invasão dos condomínios residenciais restringir tudo com prédios em toda a parte. Dava para ficar olhando os tons de chumbo sendo moldados pelo vento no céu por horas.


Ao final da adolescência percebi que a meia estação tinha um certo charme e fui cativada pelos dias frios com a luz dourada do sol contrastando com o primeiro vento quente após o final do inverno. As cores tinham uma outra definição, principalmente no nascente e no poente do sol. E a lua! Ahhh! Um disco prateado quando cheia, que percorria o meio do céu e iluminava todo o meu jardim durante o outono (e ainda o faz!). Todas as minhas queridas frutíferas e arbustivas ganhavam um véu prateado azulado sobre o verde musgo da noite!


Todas espetaculares! Todas as estações! Procuro adorá-las pelas belezas que nos oferecem e pelo seu poder absoluto no auge de seu período quando me deixam exausta com seus exageros.


Mas se hoje há algo que posso dizer que aprecio mais do que tudo. Se posso destacar algum detalhe desta paz que é buscar a conexão e a compreensão total com cada uma delas após tantos anos de reclamações inúteis, esse algo é o momento da passagem.


Sim! Logo em seguida ao auge de uma estação. Vem finalmente o primeiro sinal de mudança. Não é tão simples quanto parece e requer observação pois se trata de um momento, um único sinal, indelével, quase imperceptível. Talvez um sopro um pouquinho mais frio quando a madrugada começa a terminar nos últimos e agonizantes dias de verão. Por vezes uma coloração diferente no por do sol com o acréscimo de tons mais frios e rosados ao final do outono. Ou então a mudança no canto dos passaros que visitam o jardim quando começa a amanhecer mais quente pouco antes da primavera. A alteração do desenho dos galhos e das folhagens com a mudança de direção do vento no início do outono. Ás vezes mudança nos sons dos mensageiros do vento estrategicamente pendurados pela casa quando o verão finalmente começa a sua longa marcha de retorno.


Essas sutilezas podem nos escapar porque estamos concentrados demais em nós mesmos e em nossos anseios do que no entorno. Só percebemos o auge das estações porque sua força máxima interfere na realização do culto do self. Reclamamos das chuvas porque não podemos sair de casa, do calor porque não conseguimos dormir, do frio porque não conseguimos trabalhar. Porém, suas sutilezas nos escapam porque não estamos habituados a exercitar os sentidos e a percepção para o meio que ocupamos quando seus sinais são quase imperceptíveis e desaparecem na corrida pelo individualismo excessivo, provável marca maior do nosso tempo.


Nos tornamos verdadeiras bestas sem orientação. Mal sabemos onde o sol nasce, que constelações vão passar a cruzar os céus daqui a 3 semanas quando o equinócio chegar... Equinócio? Equinócio não é coisa de prova lá da escola? De questão de vestibular? Ah sim! Equinócio é um dia de passagem das estações! Mas que estações? Esse tempo anda tão louco?


A perda do referencial nos custa caro! Ondas de gripe, vírus cada vez mais poderosos, alergias e inflamações variadas terminadas em ite! Tudo somado a poluição criam um universo a parte, atirando a todos em suas casas e gerando uma série de equipamentos e materiais de consumo porque não conseguimos mais viver cada estação apenas com nossos corpos e nossa resistência natural. Natural? O que é natural? Ah claro! Natural é uma linha de produtos de uma secção do hipermercado!


Por isso hoje, quando um vento mais frio soprou, fiz questão de sair pra rua com pouca roupa, como se o calorão da semana passada ainda estivesse ali. Só para sentir o ar gelado eriçar todos os pelos à mostra, só pra sentir meus músculos endurecidos serem lavados pela corrente sanguínea que inundou o meu corpo, só pra deixar o vento bagunçar meus cabelos e fazer meus olhos lacrimejarem. Ouvir o barulho das árvores sacudidas pelo vento pesado. Ver os céus de aquarela mudarem de forma rapidamente.


E me sentir viva! Muito viva!

E festejar mais um verão que, ao fim de mais um auge, já começa a dar sinais de que como todas as outras estações e todas as bestagens e obras primas dessa vida, também vai embora!



Abraços gelados a todos!