Ouvindo "Benediction and Dreams" de Lilia Down
https://www.youtube.com/watch?v=r05p17X7rZM
As mãos não respondem.
Não na velocidade que deveriam. Pequenos choques as fazem saltar eletrizadas.
Mas elas não obedecem rapidamente quando eu as comando.
Tudo se solta delas e se despedaça no chão.
O corpo sucumbe à mente estilhaçada. Escolhas erradas, emoções erradas, decisões erradas tem seu peso com os anos.
Os tendões doem enquanto escrevo, mas preciso tentar. Não acerto as teclas, volto e corrijo várias vezes e a mente quer derramar, o coração quer falar, mas o corpo não deixa. . . Que armadilha! Passei o ano prendendo as emoções para continuar vivendo sem ser derrubada por elas e - em um golpe rápido - elas dominram meus nervos e agora são donas de tudo.
A língua enrola, as palavras são trocadas e fazem os poucos amigos que ficarem rirem mal disfarçadamente. Tento acompanhá-los mas, exaustda tudo não passa de um sorriso opaco.
Os pés erram a altura dos degraus da escada e ao invés de pisar o belo revestimento de sua cobertura esfolam a pele dos dedos raspando o concreto bruto da parte debaixo. Sangram ardem. Mas a dor é um lampejo apenas. . .
Sinto a falência do meu corpo.
Toda a manhã e toda a noite vou enfileirando os comprimidos, drágeas, capsulas e outros componentes do pequeno exército de remédios que tenho que ingerir todos os dias.
Para adormecer a mente e os nervos e atenuar esta prisão.
Olho para todos eles tentando lembrar seus nomes, quantas miligramas e para que servem.
Faço pequenas batalhas no criado mudo, na beira do sofá, antes de ingerir. Tentando fazer o riso amarelo voltar.
O que é mais um dia para viver quando a vida é uma sentença triste que nós mesmos escolhemos se não uma grande batalha perdida?